Ao crescer eu não tinha avós; todos eles morreram no Holocausto. Na verdade, nenhum dos meus amigos ou contemporâneos em Los Angeles também não conheceram os seus. Em nossa comunidade de imigrantes húngaros, quase todos os adultos eram sobreviventes, então eu nunca soube o que era uma avó ou um avô. Meu pai, Berel Weiss, foi um empresário de sucesso na indústria de casas de repouso, bem como um devoto chassid e uma pessoa muito espiritual. Nós caminhávamos para a sinagoga todas as semanas no Shabat, e ele me contava histórias sobre o Baal Shem Tov e o Rebe . “Ele é nosso avô”, dizia meu pai.
Embora houvesse muito poucos Lubavitchers em Los Angeles na época, meu pai foi se encontrar com o Rebe em 1962, e foi um momento fundamental em sua vida. Ele teve um encontro muito emocionante com o Rebe e depois uma audiência formal. Ele só levou o meu irmão mais velho Yona Mordechai junto, mas ele escreveu meu nome no bilhete que entregou ao Rebe . O Rebe leu a nota e, quando chegou no meu nome, o sublinhou.
“Seu filho mais novo, Moshe Aron, onde ele está?”
“Ele é muito jovem”, explicou meu pai. Eu tinha apenas dois anos na época.
Quando fiz três anos e tive meu ophshernish, cerimônia do primeiro corte de cabelo, compareceu um chassid no evento com o nome de rabino Shlomo Aharon Kazarnovsky. Ele era um homem muito caloroso que nos visitava periodicamente em Los Angeles e nos entregou um presente. Para meu ophshernish, o Rebe me enviou um pequeno Sidur Chabad.
Embora meu pai apoiasse muito Lubavitch, ele também insistia em que continuássemos os costumes de sua família. Ele veio de uma região da Hungria perto da cidade de Satmar, onde rezavam no rito sefaradi e ele queria que continuássemos assim. Por esse motivo - e provavelmente porque ele não queria que eu o perdesse - ele não me deu o sidur. Sendo um garotinho teimoso que se sentia muito apegado ao Rebe, isso me incomodava muito. E eu ainda estava ainda magoado com ele por não ter me levado ao visitar o Rebe.
À medida que meu pai se aproximava de Lubavitch, ele começou a visitar o Rebe anualmente no final de Sucot, para Hoshana. Rabá e Simchat Torá. Em sua próxima audiência, quando o Rebe alcançou meu nome no bilhete de meu pai, ele perguntou: “Onde está Moshe Aron?”
“É engraçado você perguntar,” meu pai respondeu. “Ele estava tão bravo por não ter vindo no ano passado que tive que fugir para o aeroporto sem que ele percebesse.”
Quando ele voltou, não falei com ele por duas semanas. “OK, de agora em diante,” ele prometeu, “onde eu for, você vai e onde você for, eu vou.”
Mas no ano seguinte, ele ainda achava que eu era muito jovem. “Onde está Moshe Aron?”, o Rebe perguntou novamente.
Meu pai se desculpou: “O rabino Kazarnovsky diz que Simchat Torá não é um bom momento para trazer um garotinho.”
O Rebe dispensou suas hesitações. “... você tem que trazê-lo!”
Mas no ano seguinte, peguei um forte resfriado e não pude vir. Enquanto isso, comecei o jardim de infância na escola Torat Emet de Los Angeles. O reitor era o rabino Yechiel Yehuda Isacson, o gentil rabino da sinagoga de nossa comunidade e sobrinho do então Rebe Satmar.
Um dia, entrei no escritório do rabino Isaacson e anunciei, com minha voz de menino: “Preciso de papel”.
O rabino Isaacson olhou para mim. “Moshe Areleh, por que você precisa de papel?”
“Porque”, eu disse, “sou um Lubavitcher e quero escrever um sidur Lubavitcher”.
Meu pai ainda não havia me dado meu sidur, então decidi escrever o meu. O rabino Isaacson realmente me deu o papel e uma pasta, e comecei a copiar o sidur . Quando o rabino entrou na sinagoga naquele Shabat contando a história para todos, meu pai ficou muito orgulhoso.
A próxima festa de Hoshaná Rabá era o bar mitsvá de Yona Mordechai, e o Rebe sugeriu que meu pai fizesse o Bar Mitsvá em Nova York: “Quero que toda a família venha”, disse ele.
E assim, finalmente pude ver o Rebe em 1966. Lembro-me de estar no meio do 770, quando o Rebe se virou para meu pai e fez um gesto para ele. Meu pai entendeu que ele estava perguntando sobre mim, então ele me levantou e o Rebe me deu um grande sorriso.
Meu pai ficou muito emocionado quando soube que nas festas o Rebe fazia as refeições junto com vários chassidim e, com seu empenho característico, conseguiu um convite para nós. Então, naquele ano, e alguns anos depois, pudemos jantar com o Rebe.
Não havia outras crianças à mesa, e a refeição, que aconteceu no andar de cima no 770, foi uma ocasião solene. O Rebe não começava a comer até que todos estivessem servidos, o que me impressionou muito, e todos paravam de comer no minuto em que o Rebe parava de comer.
Durante uma refeição, o Rebe perguntou a meu pai se eu estava comendo.
“Ele só gosta do peixe da mãe dele”, meu pai se desculpou. “Ele é um pouco mimado.”
“Diga a ele que a comida aqui também é boa,” disse o Rebe com um sorriso.
No farbrengen realizado antes das Hacafot, danças com a Torá, meu pai sentou comigo e meu irmão atrás do Rebe. A sala estava repleta de gente disputando espaço, às vezes de forma agressiva, então permanecemos ao lado do meu pai. A certa altura, durante a entoação das músicas, o Rebe se virou e olhou para meu pai, que interpretou isso como uma deixa para se aproximar. O Rebe falou conosco brevemente e até me deu um pedaço de bolo.
“Logo vai ficar muito cheio aqui, e eu não quero que você fique com medo,” o Rebe disse então. Ele levantou a toalha da mesa e acrescentou: “Quero que você vá para debaixo da mesa e espere até que pare”.
Fomos para baixo da mesa e ouvimos o Rebe falar, e de repente ouvimos um barulho tremendo. Com a gente escondido em segurança, o Rebe começou a distribuir um pouco de vodca para todos que quisessem vir até ele e fazer um L'chaim.
Depois de Simchat Torá, toda a nossa família teve uma audiência privada, onde meu pai contou ao Rebe a história do meu sidur Lubavitch.
“Se D'us quiser, ele irá publicar livros Chabad!” o Rebe disse a meu pai.
Levei isso a sério e, vinte e três anos depois, quando as explicações do Rebe sobre os escritos de seu pai sobre o Zohar foram compiladas, quis patrocinar a publicação de todos os três volumes. Quando o primeiro volume, intitulado Torat Menachem Tiferet Levi Yitzchok, saiu, eu trouxe para o Rebe em um domingo, quando ele estava distribuindo dólares para as pessoas doarem para caridade, junto com meu pai.
Quando o Rebe pegou o livro de minhas mãos, com visível prazer, meu pai comentou: “O Rebe disse a ele que imprimiria os livros Chabad”.
“Sim,” respondeu o Rebe, “mas eu disse livros no plural.” Ele não queria que eu me envolvesse apenas em um livro, mas em muitos. Graças a D'us, consegui imprimir dezenas e dezenas de livros desde então.
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