Nos primeiros anos depois que os nazistas invadiram a Tchecoslováquia no início da Segunda Guerra Mundial, minha família conseguiu evitar a deportação. Em 1944, no entanto, o Serviço Secreto finalmente nos apanhou. Aos dez anos de idade, fui enviado para Auschwitz, o mais jovem interno ali, e então fui para Mauthausen e vários outros campos. Fiquei face a face com o famoso Dr. Josef Mengele em mais de uma ocasião, mas por meio de numerosos milagres, sobrevivi. Minha mãe e minha irmã também vieram para casa, mas infelizmente, meu pai nunca retornou.

Em 1951, minha irmã e eu fomos para Montreal como pessoas sem origem. A única yeshivá local para meninos da minha idade era Lubavitch, e foi ali onde permaneci estudando durante dez anos.

Durante meu primeiro ano na yeshivá, estudei ensinamentos chassídicos, participei de farbrenguens,(reuniões chassídicas) lideradas pelo Rabino Volf Greenglass, e comecei a desenvolver um certo quadro sobre o que é um Rebe. Ao final daquele ano, o Canadá concedeu-me status de residência permanente, e portanto pude viajar para Nova York até o Rebe.

O Rebe estava fazendo um farbrenguen e fiquei no meio da multidão, Quando ele me viu, perguntou a outro estudante de Montreal quem eu era e então ele me chamou e deu-me um pedaço de bolo da sua mesa.

Quando chegou a hora da minha audiência privada, fiquei um tanto abalado. Em vez de perguntar-me se eu estava aprendendo chassidut, ou o que eu estava fazendo na yeshivá, ele perguntou sobre coisas que eu não estava fazendo.

“Você está aprendendo Tanach?” ele perguntou usando o termo tradicional para as Escrituras Hebraicas.

“Não”, respondi.

O Rebe instruiu-me para começar a aprender Tanach, e então perguntou mais.

“Você estuda o Código da Lei Judaica todo dia?”

“Estudo de tempos em tempos, e antes das festas,” respondi, e o Rebe disse-me para começar a estudar todo dia. Então ele perguntou sobre a gramática hebraica.

“Você estuda dikduk?”

Mais uma vez, tive que responder que não, e novamente ele aconselhou-me a começar a aprender. Na mesma audiência, ele também falou-me sobre tentar aproximar outros judeus que eu conhecia ao Judaísmo.

“Sua abordagem deveria ser a mesma que a do Baal Shem Tov,” o Rebe aconselhou, referindo-se ao fundador do movimento chassídico. “Como ele atraiu outros judeus para mais perto de D'us? Ele não disse imediatamente para eles fazer isto ou aquilo. Mas sim, ele lhes fez um favor: Quando ele via que alguém tinha um problema, fosse uma questão financeira ou outra coisa, o Baal Shem Tov tentava suprir o que era necessário.

“Quando você ajuda alguém fisicamente, ele será muito mais receptivo à espiritualidade,” o Rebe continuou. "Portanto, em vez de dizer a alguém o que você encontra sobre Torá e prece, primeiro pare, ouça, seja amigável. Convide-o para uma refeição de Shabat. Então você pode continuar com tefilin, observância do Shabat, e casher.”

A discussão mudou para minha viagem de retorno a Montreal. Eu não podia pagar a viagem de trem, muito menos de avião, portanto tive de voltar de ônibus e planejei retornar da mesma forma.

“Nesse caso,” ele me disse, “você pode parar ao longo do caminho.” Ele listou várias cidades no Estado de Nova York, antes de continuar.

“Onde quer que o ônibus pare, vá até a sinagoga local. Fale ali e transmita alguns ensinamentos chassídicos.”

Na minha mente, eu pensava como um aluno de yeshivá com dezenove anos de idade poderia cumprir uma missão como aquela.

“Não se preocupe,” o Rebe me assegurou, como se estivesse lendo minha mente. “A Organização Lubavitch Youth vai arranjar isso para você. Alguém vai pegar você nas estações de ônibus; você apenas precisa falar.”

Com aquilo, a audiência acabou, e poucas horas depois, Rabino Dovid Raskin da Organização Lubavitch Youth ligou para saber meu itinerário. Ele planejou para que eu falasse nas sinagogas em Albany e Utica quando as pessoas se reunissem ali para rezar.

Mais tarde, em outra audiência, o Rebe perguntou se eu estava ensinando chassidut nas tardes de Shabat em sinagogas de Montreal, e respondi que não.

“Por que não?”

“Bem,” respondi, “há estudantes mais velhos na yeshivá que sabem muito mais que eu, e nenhum deles vai, portanto também não penso que eu deveria ir.”

“Diga-me Nissen,” disse o Rebe. “Se você vir mil dólares na rua e ninguém pegá-los, você também não iria pegar?”

No meu retorno, comecei a ir todo Shabat para fazer um discurso chassídico, e continuei assim durante anos e anos. Quando fui outra vez até o Rebe, ele perguntou-me se eu estudava Likutei Torá toda semana.

Likutei Torá é uma coleção de discursos chassídicos sobre a porção semanal da Torá, pelo Alter Rebe. Como eu estava falando todo Shabat, estudava um discurso bem o suficiente para transmitir a maior parte na sinagoga. Tomei o âmago da pergunta e resposta, mas pulei a maior parte das explicações esotéricas que formavam o corpo do discurso, pois era demais para uma audiência geral. Ainda não havia outros livros sendo impressos dos quais eu pudesse reunir material.

Na verdade, meu coração estava pulando quando expliquei tudo isso ao Rebe pois meus professores tinham sempre inculcado em nós que ao rever um discurso do Rebe, tinha de ser dado em sua inteireza, conforme fora escrito. Mas o Rebe balançou a cabeça. “Muito bom,” ele declarou.

Como um complemento,, foi duas semanas depois dessa audiência que as próprias palestras do Rebe – que por fim formaram o primeiros volumes de Likutei Sichot – começaram a ser impressas. Até então, ele não iria editar as transcrições de suas palestras, mas depois reclamei sobre não ter material adequado para falar em público. O Rebe começou a editar cada uma de suas palestras toda semana para publicação.

Mais tarde, ele sugeriu que eu estudasse através de Likutei Torá inteiro toda semana, cinco vezes!

“Não quero dizer que você apenas deveria ler,” ele esclareceu, “mas que deveria saber completamente e entender cada palavra.”

Embora eu não precisasse olhar todas as referências para textos cabalísticos, eu fazia tudo isso fora das horas oficiais da yeshivá.

Houve muitas vezes em que eu só ia dormir às três ou quatro da manhã, após estudar cuidadosamente Likutei Torá daquela semana. Em outra audiência com o Rebe mais tarde naquele ano, quando o Likutei Torá da semana tinha mais de vinte páginas, ele perguntou-me como eu estava indo.

“Rebe,” eu falei, “é muito difícil.”

O Rebe deu um sorriso. “Continue.” E isso foi tudo o que ele disse.

Por fim, o Rebe sugeriu que eu trabalhasse para ele. Minha primeira tarefa foi escrever referências e notas sobre o Código da Lei Judaica escrito pelo Rebe Anterior, e continuei a escrever, editar e traduzir vários livros Chabad durante quase cinquenta anos.

Penso que o Rebe via potencial em mim que eu mesmo desconhecia, e procurei cultivá-lo imediatamente na nossa primeira reunião. Ele me acompanhava, passo a passo. Treinava-me sobre como começar; primeiro falar um pouco, então toda semana, e por fim fazer uma longa vocação de escrever e ensinar.

Eu tinha aprendido os ensinamentos do Rebe e ouvido histórias antes, mas foi apenas encontrando-o que eu vi como o Rebe enxerga através de você; ele vê o que você não percebe que está escondido em sua alma.