Enquanto crescia, fui uma criança teimosa. Era impaciente e discordava da autoridade, testando regularmente meus professores na yeshivá Chabad que frequentava. Com a sabedoria que tinham, eles me tratavam com “psicologia aplicada”, que às vezes era aplicada à minha personalidade e às vezes a partes da minha anatomia. Em outras palavras, eles faziam o que pensavam precisar fazer para manter-me na linha.

Mas mesmo assim criei um problema quando decidi, aos onze anos, pegar um quadro do Rebe. Naqueles dias – estou falando de 1958 – havia poucas fotos do Rebe porque ele não gostava que tirassem fotos dele. As únicas disponíveis eram aquelas tiradas do Rebe realizando casamentos pelo Estúdio Trainer. Mas eu estava determinado a conseguir inéditas com minha câmera Kodak Instamatic.

Depois de um casamento, esperei por ele enquanto subia a escada até seu escritório. Quando apareceu, tirei minha foto, ligando o flash que parecia assustá-lo, e rapidamente entrei na sala adjacente, contente com meu sucesso. Mas o Rebe se importava muito para deixar isso passar. Em vez de ir ao seu escritório, ele voltou-se para outra direção, seguindo-me até a sala de estudos. De repente vi o Rebe olhando direto para mim com a prova – minha câmera – pendurada no meu pescoço.

“Quem é seu professor?, o Rebe perguntou-me em ídiche. Quando dei o nome, ele continuou: “Seu professor está contente com você?” Pensei que estava, mas não sabia como dizer isso sem parecer pomposo, portanto apenas dei de ombros e não disse nada.

“Dein gantzeh Chasidus bashtei in photographia? - Ser um chassid consiste apenas em fotografia para você?”, o Rebe me desafiou.

Eu não sabia como responder àquilo, portanto novamente não disse nada. Àquela altura, meu diretor, Rabi Mendel Tenenbaum, deve ter notado que eu estava com problemas pois ele apareceu do nada.

“Teste ele”, o Rebe instruiu Rabi Tenembaum, “se ele passar está bem, caso contrário, leve embora o aparato.”

Assim que o Rebe foi embora, Rabi Tenenbaum pediu-me para eu entregar a minha câmera. Discordei, citando as palavras do Rebe de que aquilo somente deveria ser tirado de mim se e quando eu falhasse no teste. Mas Rabi Tenenbaum não aceitou.

“Dê-me a câmera,” ele exigiu.

No dia seguinte, ele chamou-me à sua sala, testou-me sobre o assunto do Talmud que estávamos estudando, e quando passei, ele devolveu minha câmera.

Desenvolvi a foto do Rebe, e embora não estivesse muito boa, fiz cópias e as vendi (bem como outras fotos que tinha tirado) para os chassidim da vizinhança.

Esta não foi a única vez que meu comportamento chamou a atenção do Rebe. Em outra ocasião, eu fui mal num teste na escola, e quando saíram os resultados, Rabi Tenenbaum chamou-me ao seu escritório. Ele me informou que Rabi Hodakov, chefe do secretariado do Rebe, queria me ver naquela noite às nove horas.

Nove da noite era um horário tardio para eu estar fora de casa, portanto tive de dizer à minha mãe que eu não iria para casa no horário normal. “O que você fez de errado?” ela perguntou logo. Mas tudo que pude dizer foi “eu não sei”.

Quando cheguei ao seu escritório naquela noite, Rabi Hodakov foi muito gentil. Convidou-me a sentar, e pude ver que ele tinha uma lista de nomes à sua frente e que meu nome estava na lista.

“Você teve um teste recentemente na yeshivá?” ele perguntou.

Respondi que sim.

“O relatório do teste foi mostrado ao Rebe junto com sua nota. E o Rebe instruiu-me a perguntar a você ‘Hayitochen?’”

Engoli em seco. Por mais que eu não quisesse ser chamado por ter ido mal no teste, fiquei também profundamente comovido porque o Rebe se importava tanto comigo que separou um tempo para saber qual nota eu recebera no teste e me informar, via Rabi Hodakov, que estava certo de que eu poderia me sair melhor. Até hoje, penso nisso como um momento importante na minha vida.

Passámos um ano à frente, pouco antes do meu Bar Mitsvá. Para essa ocasião, meus pais me levaram a uma audiência privada com o Rebe. Quando ele me perguntou, entre outras coisas, o que eu planejava falar durante a celebração. Eu disse que, como era costume, recitaria um discurso chassídico bem como um pilpul, uma análise de um tema desafiante na lei judaica.

“Qual é o tema do pilpul?” o Rebe quis saber.

Respondi que o assunto tinha sido designado pelo meu professor, Rabi Yitschok Ushpak. Eu iria explicar se o tefilin que alguém coloca sobre a cabeça e o tefilin que coloca sobre o braço representam duas metades de uma mitsvá ou são duas mitsvot separadas.

“Que diferença isso iria fazer?” o Rebe continuou.

Respondi que se fosse uma mitsvá, um homem que não tenha (o Céu não o permita) um braço não poderia colocar tefilin, pois uma pessoa não pode cumprir metade de uma mitsvá. Mas se as duas representarem duas mitsvot separadas, ele pode por tefilin sobre a cabeça.

“Mas e se ele não tiver a cabeça?” o Rebe perguntou.

Fiquei chocado com aquela que percebi ser uma pergunta absurda, não sabendo se o Rebe falava sério ou se estava apenas me testando para ouvir minha resposta.

“Isso não pode ser,” explodi.

O Rebe repetiu a pergunta, e novamente respondi: “Isso não pode ser”.

Ele então fez a pergunta pela terceira vez, mas persisti: “Isso não pode ser.”

Então o Rebe deu um sorriso.

Em seguida, o Rebe me perguntou: “Você tem dinheiro que é seu?”

Eu não queria confessar que estava guardando uma pequena fortuna vendendo fotos dele, então respondi que tinha algum dinheiro porque às vezes tinha trabalhado na gráfica do meu pai naquele verão.

O Rebe não me perguntou mais sobre minhas outras fontes de renda, mas disse-me que eu deveria doar parte do meu dinheiro para caridade antes das preces matinais e vespertinas no dia do meu Bar Mitsvá. Obviamente, ele sabia sobre meu interesse na fotografia, e provavelmente sabia que eu era o empreendedor, com amigos que vendiam para mim e a quem eu pagava uma comissão por toda foto do Rebe vendida. Foi provavelmente por isso que o Rebe fez a pergunta, porque ele percebia tudo, entendia tudo, e cuidava de tudo.