Quando o Rebe Anterior fugiu de Varsóvia em 1940, foi forçado a deixar para trás sua preciosa coleção de livros. Parte da biblioteca foi resgatada no ano seguinte, mas o restante foi perdido durante as próximas décadas. Em 1977, uma grande porção dos livros foi descoberta num museu em Varsóvia, e foram recuperados e trazidos à América.

Poucos meses depois, o Rebe declarou sua intenção de criar uma instituição para publicar e distribuir os manuscritos de textos chassídicos contidos na coleção, e chamou voluntários para se envolverem.

Um desses manuscritos era um Tanya, a obra básica da filosofia Chabad, escrita por Rabi Shneur Zalman de Liadi, também conhecido como o Alter Rebe. Apenas este manuscrito do Tanya era diferente da versão impressa que temos; foi o primeiro esboço do Tanya.

Naquela época, eu estava trabalhando para Vaad L’Hafotzas Sichos, transcrevendo, editando e publicando as palestras do Rebe. Nos próximos anos, alguns poucos itens da coleção começaram a ver a luz do dia, e então, na segunda metade de 1981, o Rebe escreveu ao Vaad de que deveríamos imprimir este rascunho original do Tanya.

Agora, além deste manuscrito de Varsóvia, havia vários outros manuscritos antigos e variados do Tanya. Nosso trabalho, então, iria abranger comparar todas essas várias versões escritas com o Tanya impresso.

Este é um trabalho técnico, difícil, e não era nossa especialidade. Mas perguntamos ao Rebe exatamente o que ele tinha em mente e, depois que ele nos disse para editar e imprimir o livro, começamos.

A tarefa era avassaladora, e estava conjugada com nosso trabalho já existente de publicar um folheto com as palestras do Rebe a cada semana.

Trabalhar com aqueles folhetos, que levavam o nome do Rebe, era uma séria responsabilidade, e nos colocava sob tremenda pressão; para ter certeza de que estávamos captando sua pretendida mensagem, tínhamos de estudar seus ensinamentos em profundidade. Para começar a conseguir um estudo daquilo que o Rebe estava dizendo, tínhamos primeiro de nos familiarizar com todo aspecto do assunto da Torá sob discussão, e então tentar entender sua inovação sobre o tópico. E lembre-se, naquele tempo não havia banco de dados eletrônicos onde poderíamos pesquisar pelas coisas – simplesmente tínhamos de aprender muito.

Às vezes, o Rebe podia ser um tanto crítico se não tivéssemos entendido ou escrito corretamente um ponto em particular. Às vezes recebíamos uma forte reprimenda, mas quando aquilo acontecia, não havia tempo para voltar atrás porque tínhamos de seguir em frente para deixar pronto o próximo assunto.

Portanto, preparar essa publicação já era um trabalho de 24/7, e agora tínhamos o Tanya no topo disso. O Rebe também dizia que queria isso pronto para a data de 19 de Kislev, o aniversário da libertação do Rebe Anterior da prisão czarista, portanto nós literalmente seguimos em frente. Nós simplesmente saíamos de casa e passávamos o dia inteiro trabalhando feito loucos.

Como grande parte do texto era idêntico nas versões diferentes do Tanya, mas algumas partes eram distintas, comparar os manuscritos, registrar as diferenças, e assegurar que todas as variações estavam documentadas corretamente era uma obra intrincada. A impressão também era difícil porque cada página precisava incluir fontes diferentes, e a prova de leitura abalava os nervos.

Quando chegou a hora de imprimir, percebemos que se fôssemos imprimir no formato de livro com uma impressora regular, nunca terminaríamos a tempo.

Zalman Chanin, o diretor de Vaad L’Hafotzas Sichos, teve a ideia de usar a impressora em nossos escritórios acima do 770. Não tínhamos as ferramentas para imprimir um livro inteiro, mas podíamos imprimir pequenos folhetos. Ele disse, “vamos imprimir os livros trinta e duas páginas por vez, e então iremos levar todos os blocos a um amarrador para tê-los colados ou costurados juntos.”

O dia 19 de Kislev seria numa terça-feira naquele ano, e na sexta-feira anterior, um livro ficou pronto e foi presenteado ao Rebe. No Shabat, o Rebe saiu para o farbrenguen segurando o novo livro, e dedicou a ele sua primeira palestra.

Na ocasião, o Rebe explicou a importância de imprimir os primeiros rascunhos do Tanya quando já tínhamos a versão final: muito podia ser aprendido vendo aquilo que o Alter Rebe originalmente tinha em mente, e então comparando-o com a versão final. Mais tarde, o Rebe realmente jogou o livro fora, disse algumas das diferenças entre as versões logo no início do livro, e explicou por que o Alter Rebe inicialmente escreveu de uma maneira e então decidiu editá-la.

O Rebe também contou a história de como, originalmente, o Rebe Anterior tinha desejado que a primeira edição do Tanya fosse impressa em 19 de Kislev de 1796; antes que se tornasse a data de sua libertação da prisão, era o aniversário de falecimento de seu Rebe, o Maguid de Mezeritch, em 1772. Na prática, porém, o livro não ficou pronto na data, mas somente no dia seguinte. Agora, continuou o Rebe, entregar nosso livro em tempo para o 19 de Kislev foi uma retificação para o que tinha ocorrido nos tempos do Rebe Anterior.

Com a palestra do Rebe, ficou claro sobre o quanto ele estava orgulhoso de que o projeto tinha sido completado em tempo. “Levar em conta a enorme quantidade de trabalho envolvido,” ele disse, “comparar os manuscritos’ compor as notas ao pé da página, fontes e explicações; digitar, imprimir e entregar; e levar em conta que todas as pessoas que estão envolvidas são limitadas pelo número de horas que conseguem devotar a esta meta; era impossível para elas completar a impressão deste livro antes de 19 de Kislev!”

“Apesar disso,” ele continuou, eles trabalharam numa maneira que transcendeu toda medida e limitação, além da habilidade humana comum... e dessa maneira eles completaram a impressão e formação... antes mesmo do Shabat precedendo o 19 de Kislev.”

O Rebe também deu crédito ao papel instrumental desempenhado pelas nossas esposas, que nos apoiaram durante todo o projeto. O Rebe até declarou que quando ele nos pediu para tentar e completar o projeto em tempo, ele não tinha bases racionais para pensar que seríamos capazes de fazer isso. Em vez disso, tinha fé, “fé no poder dos chassidim, que quando eles realmente desejam cumprir uma ordem, e decidem que isso irá acontecer, então eles irão prevalecer. É por isso que eu acreditava que eles teriam sucesso.”

O desfecho disso tudo, segundo o Rebe, era que se “seres humanos foram capazes de trabalhar na promoção dos ensinamentos da Chassidut com tamanha pressa sem reservas, apesar de serem apenas de carne e osso,” então certamente D'us deve fazer o mesmo. Trazer a Redenção final com aquela mesma pressa desenfreada e sem limites.