Todo ano, como aluno da yeshivá no 770, eu participava no programa de visitação dirigido por Merkos L’inyonei Chinuch, o escritório Chabad de educação. Era conhecido como “Merkos Shlichus”.
Em 1959, fui enviado às Ilhas do Caribe, junto com meu amigo Yisroel Chaim Lazar. Ficamos em Aruba, então fomos para Curaçau, Trindade, Barbados, Porto Rico, Haiti, República Dominicana, e finalizamos na Jamaica.
Em Trinidad, dois dias antes do jejum de 9 de Av, mencionamos para um dos judeus locais que estávamos esperando ter pessoas suficientes para as preces comunitárias do dia.
“Vocês sabem o quê?”, ele disse, “vocês estão a ponto de irem para Barbados. Ali vocês poderão fazer um minyan mais depressa.”
Barbados tinha somente doze famílias judaicas, mas ele explicou que havia uma comunidade mais próxima. Seguindo seu conselho, voamos para Barbados no dia seguinte.
Naquele tempo, antes de chegar em algum lugar em Merkos Shlichus você não sabia aonde ir, ou com quem falar. Se você tivesse sorte, teria alguns poucos nomes e endereços de alguém que tinha estado ali antes mas, neste caso, ainda não tínhamos essas informações. Porém, tínhamos sido entrevistados pelo Trinidad Guardian, que era como o New York Times do Caribe, portanto os leitores em Barbados sabiam que estávamos chegando. E assim, quando aterrissamos em Barbados, um homem nos saudou no aeroporto com uma mensagem: “Meu mestre mandou-me aqui para ver vocês. Ele disse que eu deveria levar vocês para a casa dele.”
Ficamos contentes pelas boas vindas e fomos até a casa, onde esperamos ver este mestre aparecer. Após vinte minutos, entrou um homem judeu – você podia ver isto em sua face – que começou a falar em iidiche.
“Li no jornal que vocês são emissários do Lubavitcher Rebe e vieram aqui para fortalecer o Judaísmo,” ele começou. “Deixem-me lhe dizer quem sou eu.”
Seu nome era Aryeh Leib Speisman, originário de Lublin. Em 1936, ele sentiu que a Europa não era mais segura, e partiu. Lá em Barbados, ele casou-se com uma moça da família Altman, que tinha chegado alguns anos antes. A maior parte dos judeus na ilha eram relacionados aos Altman de alguma maneira. Então ele prosseguiu, com essas palavras: “Não coloco tefilin. Não guardo o Shabat, e como alimentos não-casher. Por favor, peça ao Rebe para rezar por mim,” ele implorou. “Der Rebbe ken mir aroisshlepin fun blotech” – o Rebe pode tirar-me da sujeira.”
Terminamos fazendo um minyan naquela noite, e a comunidade inteira compareceu. Distribuímos muitos livros judaicos que tínhamos trazido e falamos com eles durante algum tempo – com Speiman em particular. Ele era uma pessoa realmente instruída, e sempre tinha apreciado estudar as histórias do Talmud. Mas ele tinha totalmente deixado de lado toda observância judaica.
Após ouvir sua história, eu disse a ele: “Você deve ir até o Rebe.”
Poucos meses depois, ele foi. Ficou na casa dos meus pais e eu marquei uma audiência para ele com o Rebe. Em seguida, quando ele foi ao 770 para rezar as preces numa manhã, o Rebe instruiu que ele seria honrado durante a leitura da Torá; sendo um Levi, ele foi chamado para a leitura.
Voltou para Barbados, e continuou a corresponder-se com o Rebe. Antes do final de sua vida, ele se tornou mais observante, embora até que ponto eu não saiba.
No verão seguinte, voltei novamente a Barbados, dessa vez meu parceiro era Chamim Sweid. Estamos realmente indo para a América do Sul pelo Merkos Shlichus, mas eu queria primeiro visitar Speiman e os outros. Dessa vez, soubemos que havia um grupo de crianças que nunca tinham tido um brit milá adequado. Eu tive uma ideia: se levássemos um mohel para realizar o procedimento, junto com Rabi Zalman Dvorkin de Crown Heights para fazer supervisão rabínica, poderíamos facilitar as circuncisões para todas aquelas crianças.
Todo mundo ficou bastante empolgado com essa ideia, portanto segui em frente e chamei Rabino Hodakov, o diretor de Merkos, que entregou a aprovação do Rebe. O Rebe até deu a Rabi Dvorkin seu pequeno rolo pessoal de Torá para levar, para que eles pudessem ler dele enquanto estavam em Barbados. O rabino e o mohel chegaram e fizemos a cerimônia do brit na casa de Speisman para dezoito crianças no total.
Speisman enviou um telegrama ao Rebe, expressando sua gratidão, e em resposta, o Rebe enviou suas bênçãos para “anash”, significando “pessoas da nossa comunidade” – empregando o mesmo termo que ele usaria para toda comunidade Chabad.
Após o brit, Chaim Sweid e eu continuamos rumo à América do Sul, mas quando chegamos ao Chile, havia um telegrama do Rabino Hodakov:
“Sweid retorna para Nova York; Bogomil Sky viaja para Barbados.”
A comunidade tinha enviado um pedido ao Rebe “Você fez nossos filhos judeus” eles escreveram, “mas precisamos de alguém aqui para educá-los!” Então, voltei para Barbados, e ensinei Torá para aquelas crianças até Rosh Hashaná.
Na minha volta, Speisman também enviou uma doação comigo – uma soma equivalente ao valor numérico do nome do Rebe – “sob a condição de que eu o entregasse pessoalmente ao Rebe.” O dinheiro era como uma dedicação para um dos versículos da prece Ata Hareita, que são tradicionalmente “vendidas” e então recitadas em Simchat Torá.
Obviamente, Rabino Hdakov recusou-se a me deixar entrar para ver o Rebe assim como entregar o envelope. Em vez disso, entendi que se eu o designa se para entregar o dinheiro, seria como se eu mesmo o tivesse feito.
Mas então não havia nenhuma artimanha com o Rebe. Rabino Hodakov entrou na sala do Rebe, e saiu vários minutos depois ainda segurando o dinheiro – o Rebe tinha se recusado a aceitá-lo. “Dê para Shmuel Pesach,” ele tinha dito. Ele vai trazer por si mesmo.”
Num discurso público nessa época, o Rebe aludiu à comunidade de Barbados, quando de repente ele começou a falar sobre o conceito do brit; as pessoas presentes se perguntavam qual era a conexão com o restante de sua palestra. Em Simchat Torá, porém, ele foi mais explícito.
Durante a leitura de Ata Hareita, antes de liderar o recital de um dos versículos, o Rebe voltou-se para mim e disse-me para fazer um anúncio: “Este próximo versículo,” eu deveria dizer, “está dedicado às dezoito crianças que tiveram um brit milá num local distante.” Ele disse-me até para anunciar os nomes das crianças, se eu soubesse todos; eu não sabia, mas entreguei uma lista no escritório do Rebe após a festa de Simchat Torá.
Porém, este não foi o final da história. Durante as poucas semanas que passei como professor em Barbados, fiquei na casa de um homem chamado Aharon Karp, um judeu caloroso e compassivo. Encorajei seu filho a ir à yeshivá em Nova York, o que ele faria no ano seguinte, e também fez contato direto com o próprio Rebe; eles se encontraram algumas vezes, e em um Pêssach o Rebe pediu-me para enviar matsá para ele.
Mesmo com todas as pessoas que visitavam o Rebe para receber matsá shemurá ou para pedir algo mais a cada ano, ele mandava para Aharon Karp. Com o Rebe, não existe algo como esquecimento.
Hoje, este Aharon Karp tem netos que são eles próprios shluchim do Rebe, emissários Chabad.
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