Essa história diz respeito a Shemitá, o ano sabático agrícola ordenado pela Torá uma vez a cada sete anos na Terra de Israel, quando milhares de fazendeiros estão se abstendo de trabalhar ou tirar lucro da terra.

Comecei a trabalhar para o “Keren Hashvi’is,” (o Fundo Sabático) em 1970. O fundo foi estabelecido por um casal de grupos judaicos comunitários, o Agudat Yisrael e Edá Hachareidis de Jerusalém, a fim de apoiar fazendeiros na Terra Santa que estavam observando Shemitá. Em vez de confiar em qualquer escapatória haláchica que lhes permitissem continuar trabalhando, esses fazendeiros estavam deixando sua terra ficar completamente descansando, sem plantio.

Em 1972, antes que o ano Shemitá começasse, Rabi Binyomin Mendelsohn de Komemiyut, uma aldeia religiosa, pediu que promovêssemos o fundo e expandíssemos suas atividades.

O assunto da lei agrícola religiosa em geral, e Shemitá em particular, estava muito próximo do coração de Rabi Mendelsohn. Na verdade, esse era o motivo pelo qual ele não aceitou um prestigioso emprego oferecido pela comunidade de Kiryat Ata, preferindo o rabinato de uma pequena comunidade agrícola. Quando nos encontramos pela primeira vez, ele perguntou sobre meu bisavô Rabi Moshe Kliers, que tinha atuado como o rabino Askenazita de Tiberíades enquanto trabalhava extensivamente com os fazendeiros judeus na próxima Galileia, encorajando-os a observar Shemitá e outras leis agrícolas.

Em 1913, meu bisavô, junto com Rabi Avraham Yitzchak Kook e Rabi Yosef Chaim Sonnenfeld, participou de uma famosa viagem das comunidades agrícolas da terra de Israel. Durante um mês e meio, eles visitaram vinte e seis novas aldeias no norte do país fazendo contato e inspirando os pioneiros dali. Os fazendeiros tinham chegado na segunda onda de imigração, aliyá, e a maioria deles tinha adotado uma opinião socialista enquanto se afastavam da vida judaica tradicional.

Os rabinos fizeram um acordo com eles, encorajando-os a fortalecer sua observância religiosa. Meu emprego era levantar os fundos necessários para apoiar “aqueles poderosos em força, que cumpriam Sua palavra,’” como o Midrash, citando os Salmos, chama o observante de Shemitá.

Durante todo ano Shemitá, eu viajava para os Estados Unidos, indo para as comunidades judaicas, visitando os grandes chefes das yeshivot lituanas, e os Rebes chassídicos da América. Esses rabinos estavam interessados nas atividades de Keren HaShvi’is e ficaram contentes ao ouvir que, com cada ciclo de sete anos, os números de observantes de Shemitá estavam aumentando rapidamente. Eles abriram as portas para mim, apoiaram nosso trabalho, e chamaram os membros das suas comunidades para nos ajudar.

Em cada uma dessas viagens, passei vários meses na América , e é claro, também visitei a sede do Chabad no 770 da Eastern Parkway, e até compareci às reuniões públicas do Rebe. Nas primeiras vezes, no verão de 1973, e mais tarde em 1979, eu também tive o privilégio de ter uma audiência privada com o Rebe. Minha primeira durou apenas alguns poucos minutos, mas a segunda foi muito mais longa – quarenta e cinco minutos.

Fui convidado para comparecer às 2h30 da manhã, mas o relógio marcava quinze para as quatro quando realmente encontrei o Rebe. Primeiro ele quis ouvir sobre meu bisavô, Rabi Moshe Kliers, e então perguntou sobre Rabi Mendelsohn de Komemiyut e suas atividades de Shemitá. O Rebe perguntou sobre as conexões que ele tinha com fazendeiros fora de Komemiyut, e como ele os estava influenciando para observar o Ano Sabático.

Então o Rebe quis saber sobre os desenvolvimentos no fundo desde nossa reunião anterior, e se sua quantidade de trabalho tinha se expandido desde então. Ele foi amigável, claramente ele se preocupava, e suas numerosas perguntas sobre nossas atividades mostravam sua profunda visão sobre o assunto.

“O que os fazendeiros fazem no decorrer do ano, quando eles estão se abstendo do trabalho agrícola?” perguntou o Rebe. “Todo outro ano, eles estão ocupados, e têm pouco tempo livre para estudar Torá. Eles dedicam mais tempo para estudar no ano de Shemitá?”

“Com certeza,” respondi. “Temos aberto instituições especiais para o contínuo estudo de Torá para que os fazendeiros possam frequentar. Eles podem designar horários para estudar, ouvir palestras, ou fazer sessões privadas de estudo com jovens eruditos de Torá - cada qual de acordo com seu nível de conhecimento e capacidade.”

O Rebe ficava feliz ao escutar sobre aqueles que observavam Shemitá e o auto-sacrifício – como ele dizia – que eles mostravam ao manter os mandamentos da Torá em seu significado direto e em sua plena extensão. Relatei a ele que entre nossos recentes recrutados estavam alguns fazendeiros mais velhos, na faixa dos cinquenta e dos sessenta, que estavam começando a observar sua primeira Shemitá.

“E o que os levou a dar este passo?” o Rebe perguntou.

Eu podia ver a profunda satisfação que ele sentia quando lhe contei que a principal motivação desses fazendeiros era simplesmente cumprir os mandamentos de D'us no nível mais alto possível. Certamente, o motivo não era financeiro, pois a assistência que provínhamos a eles não era suficiente sequer para cobrir suas perdas.

Toda vez que eu o visitava, o Rebe expressava seu desejo de se tornar um parceiro em nosso projeto e apoiar o fundo. “Toda pessoa a mais mantendo Shemitá é algo grandioso,” ele declarou. “E se tivermos a capacidade de ajudá-los e os encorajar, isso vale a pena.”

Na primeira vez em que estive lá, pedi a ele uma carta de apoio para o fundo, na qual ele poderia chamar outros para contribuir. Porém, como ele explicou, ele não mandava cartas desse tipo, ele sugeria fazer uma doação ao fundo na forma de um cheque.

“Meus chassidim não precisam de cartas,” ele explicou. “Quando você mostrar a eles meu cheque, eles irão entender por si mesmos a necessidade de doar para o fundo.” E assim foi: Quando as pessoas viram o cheque que recebemos do Rebe – um donativo substancial de $750 – eles reagiram da mesma forma.

Quando voltei novamente sete anos depois, o mesmo aconteceu. Após discutir bastante sobre as atividades do Fundo, o Rebe perguntou quanto ele tinha dado na última vez, e então pediu ao seu secretário para preparar um cheque de $768 – uma adição de $18 à soma anterior. O Rebe entregou-me o cheque, e abençoou a nós e aos fazendeiros com grande sucesso.

Deve ser notado que no ano Shemitá que começou em 1987, fui até o Rebe quando ele estava cumprimentando as pessoas no domingo. Ele me deu uma bênção, e instruiu seu secretário para preparar uma doação para o fundo – dessa vez $800. O próximo ano Shemitá começou em 1994 e, devido ao estado de saúde do Rebe, ele não estava recebendo visitantes. Porém, mesmo neste delicado momento, o secretariado do Rebe enviou uma doação de $818.

Quando saí da sala do Rebe depois daquela longa audiência em 1979, senti um senso de elevação. Eu tinha planejado estar com ele apenas por alguns poucos minutos – essa foi a expectativa que os secretários tinham me falado para esperar –não imaginei que o Rebe iria dedicar tanto tempo para mim. Posso dizer que seu interesse em cada detalhe, junto com sua alegria e satisfação ao ouvir sobre judeus cumprindo Shemitá, elevaram meu espírito e me deram bastante encorajamento para continuar nossa obra com enorme entusiasmo.