Quando eu estava crescendo em Newark, New Jersey, não havia yeshivot ali, apenas um Talmud Torá local onde a maioria dos meninos religiosos ia, quatro dias por semana. Aprendíamos como ler e escrever em hebraico, história judaica, mas nada mais que isso. Meus pais não estavam satisfeitos com isso e providenciaram um professor para que eu pudesse estudar Torá na sexta-feira e nas tardes de Shabat.
“Quando fizer seu Bar Mitsvá,” eles disseram, “enviaremos você para uma yeshivá em Nova York.”
Naquela época, você tinha que andar em um ônibus de Newark para o Metrô Hudson, e então pegar o metrô, o que realmente era um aborrecimento para um menino pequeno, especialmente quando estava viajando sozinho. Quando chegou a época, eu passei a estudar na instituição Torá Vodaá no Brooklyn.
Um dia em 1942, Rabino Moshe Pinchas Katz, um Lubavitcher que estava morando em Newark na época, abordou meu pai. “Sr. Slansky,” ele disse em iidiche. “Queremos seu filho.”
Meu pai tinha senso de humor, e portanto sem hesitação ele respondeu: “Leve-o!”
Rabino Katz então explicou a razão pela qual ele queria que eu fosse estudar lá. “Queremos abrir uma yeshivá em Newark.”
Meus pais ficaram encantados com a ideia, porque seu filho único e pequeno não teria de viajar para longe de casa.
Quando fiquei mais velho, entrei numa nova escola de segundo grau que Chabad abrira em Nova York, e graças a D'us, era uma boa escola. Rabino Lasker, que ensinava inglês, era um ótimo educador e toda manhã íamos ao 770 onde o Rabino Shmuel Levitin nos ensinava filosofia chassídica. Às vezes, se levantássemos muito cedo, um menino que tinha um carro nos levava até a Praia Brighton para mergulhar no mar, que nos servia de micvê.
‘Isso foi antes do Rebe se tornar Rebe. Lembro-me de ficar sentado na sala de estudos, e ele entrava e caminhava entre os meninos. Ele vestia um terno cinza e um chapéu cinza com a aba para baixo – naquela época, todos os meninos na yeshivá usavam chapéus cinzas. Ele era amigável com os meninos, e parava para conversar com eles. Colocava sua mão sobre seu ombro e perguntava: “O que você aprendeu hoje?”
Nós não o víamos como um Rebe, olhávamos para ele como um amigo. Mas depois que o Rebe Anterior faleceu, lembro que houve uma petição que percorreu todo lado, pedindo que ele assumisse como Rebe, e todos nós a assinamos.
Após meu casamento em 1954, o Rebe enviou-me para estudar em uma yeshivá em Buffalo, onde moramos até 1959. Foi durante aquela época que minha sogra contraiu uma doença chamada Toc Douloureux; é uma palavra francesa, pois quando o nervo trigeminal é afetado causa dolorosos choques elétricos para cima e para baixo num lado da face. Naquela época os médicos não tinham cura para isso, e não sabiam como tratá-la. Falar, sorrir, tudo provocava dor. Ela não podia sequer comer sem um canudinho. Um neurologista que ela consultou disse que algumas pessoas com essa dor cometem suicídio.
A certa altura, alguns médicos sugeriram cortar os nervos da sua face para aliviar a dor. Porém, lhe disseram que isso iria paralisar sua face, portanto ela não poderia mais mostrar nenhuma expressão.
“Não quero ficar assim,” ela disse, “já é ruim o suficiente que eu tenha dor, não quero que as pessoas tenham pena de mim.”
Ela recusou-se a ter o nervo cortado. Então, liguei para minha sogra e disse: “Vamos marcar uma visita ao Rebe para você pedir uma bênção.”
“Já fui a um outro Rebe,” ela comentou. “E ele me disse para assegurar de ter companhia na minha casa.”
Ele deve tê-la aconselhado por presumir que mais pessoas em volta iria distraí-la do problema, mas essa não era a questão. Meus sogros tinham três filhas e sempre havia pessoas na casa.
“Como posso descrever meu sofrimento ao Rebe?” ela continuou. “nem ao menos sei pronunciar o nome da minha doença em inglês.”
“Não se preocupe, o Rebe entende francês,” eu disse a ela. “Apenas fale. Estou certo de que ele vai entender perfeitamente sobre o que você está falando.”
Como eu tinha ido à aula junto com o Rabino Leibel Groner, secretário do Rebe, eu tive um pouco de sorte e pude conseguir para ela um agendamento, sem uma longa espera. Quando minha sogra chegou, ela ficou impressionada.
O Rebe tinha uma maneira de fazer as pessoas se sentirem relaxadas. Quando ela entrou, o Rebe lhe disse para sentar-se para a audiência, o que a surpreendeu.
Ela pensava que ele iria lhe dar uma bênção, mas ele disse:
“Há um médico na Colúmbia presbiteriana, Dr. Sciarra.” Ainda me lembro do nome. Ele explicou que havia uma certa medicação que estava disponível na Europa, mas não tinha sido aprovada pelo governo americano.
“Esse médico está fazendo pesquisas, e quero que você vá para lá.”
E assim, minha sogra se tornou cobaia para um novo medicamento experimental. Durante três semanas, ela recebeu o remédio enquanto eles testavam seu sangue. Um ano depois, foi registrado com o nome Tegretol, que agora dá para epilépticos e pessoas que têm tremores. Ele não cura a doença, mas alivia a dor, e a pessoa vive com mais qualidade.
Quinze anos se passaram, lembro-me de frequentar uma das reuniões do Rebe com minha família. Minha esposa e filha estavam no andar de cima destinado às mulheres, e meus filhos permaneciam comigo.
Deveriam ser 2h30 da manhã, talvez 3h, após o farbrenguen, e meus filhos e eu estávamos passando na fila do Rebe para receber um pouco de vinho do seu copo – kos shel brachá. Eu estava segurando três copos pequenos, um para minha esposa, um para minha filha, e um para mim, enquanto meus meninos estavam atrás de mim com seus pequenos copos.
Quando chegou nossa vez em frente ao Rebe, ele começou a colocar o vinho em nossos copos, e falou algo que inclinei-me um pouco para escutar:
“Como está sua sogra?” Fiquei surpreso e vi quando minha esposa lá de cima me viu me curvando.
Aquilo que o Rebe sabia sobre este médico no campo de pesquisas nessa área, por uma doença que poucas pessoas sequer tinham ouvido falar, é surpreendente. Mas ele lembraria de perguntar sobre isso quinze anos depois... É algo que eu jamais vou esquecer.
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