Quando eu estava crescendo em Crown Heights, por algum tempo moramos na Brooklyn Avenue que ficava no caminho do Rebe de sua casa na President Street para a Sede Chabad em Eastern Parkway.
Quando o Rebe estava caminhando certa vez, pouco antes de Rosh Hashaná, em 1956, aconteceu que minha mãe estava do lado de fora conosco, as crianças, e minha irmã pequena Kraindy, que estava brincando na escada de casa, caiu dos degraus.
Minha mãe, que estava em seus últimos meses de gravidez, correu para apanhá-la. Naquela noite após as preces, o Rebe fez sinal ao meu pai que ele deveria acompanhá-lo ao seu escritório. A princípio meu pai pensou que deveria ser um engano porque ele não tinha pedido para falar com o Rebe num dia tão sagrado, mas então ficou claro por que o Rebe queria falar com ele.
O Rebe explicou que tinha visto o que ocorrera durante o dia e que meu pai deveria assegurar-se que sua esposa estava bem. O Rebe acrescentou que quando uma criança cai um anjo coloca suas mãos como uma almofada. Porém sua esposa deveria concentrar-se em cuidar de si mesma durante a gravidez e não correr tão depressa.
Assim, aprendi ainda com pouca idade que o Rebe está sempre cuidando de nós.
Naquela época, fui matriculado na escola Chabad em Bedford e Dean, que frequentei desde o primeiro grau até o segundo, quando então o Rebe me orientou que eu deveria ir para a yeshivá em Montreal. Foi onde estudei até que recebi minha ordenação rabínica e me casei.
Enquanto ainda estava em Montreal, tive a experiência de fazer um curto programa de rádio. O que aconteceu foi que Chabad comprara dez minutos de tempo num programa religioso chamado “A Hora Judaica” (que, apesar de seu nome, na verdade durava duas horas) e fui requisitado a introduzir uma lição gravada do Tanya, falar umas poucas palavras inspiradoras, e anunciar eventos Chabad na cidade. Metade da locução era em iídiche e a outra metade em inglês.
A princípio, era um pouco intimidante falar num microfone sabendo que muitas pessoas estavam ouvindo, mas provou-se ser uma boa experiência mais tarde em minha vida, quando fui enviado como emissário do Rebe para a África do Sul, onde ainda atuo como rabino.
Na minha chegada ali em 1976, uma das primeiras coisas que perguntei foi: “Há um programa judaico de rádio na África do Sul?” E quando ouvi que não havia, eu disse: “Bem, vamos começar um.” E assim fizemos. Comecei a liderar o programa “O Som Judaico” todo domingo durante vinte e quatro anos. A ideia de usar o rádio como meio de disseminar o Judaísmo agradava ao Rebe e sempre que eu ia a Nova York, era indagado pelo seu secretário: “Como está indo o programa?”
O Rebe valorizava a capacidade das ondas do rádio de atingir locais distantes na África do Sul que de outra forma seriam inatingíveis. Durante os últimos anos do regime de apartheid da África do Sul, havia um medo tremendo de que haveria uma revolução violenta e sangrenta, e pude usar o programa de rádio para espalhar a mensagem do Rebe de que as pessoas não deveriam entrar em pânico e deixar o país. Tudo ficaria bem, o Rebe prometeu, e assim foi.
O Rebe assegurou e garantiu isso aos judeus da África do Sul muitas e muitas vezes. Todos sabiam que o Rebe tinha feito uma declaração absoluta definitiva sobre o futuro da África do Sul – que haveria uma pacífica transição de poder e que os judeus não tinham motivo para entrar em pânico e fugir.
Incidentalmente, este é o mesmo conselho que o Rebe deu aos israelenses durante a Guerra do Golfo em 1990.
Durante aquela guerra, o ditador iraquiano Saddam Hussein estava atirando mísseis em Israel e todos estavam em pânico. Mas o Rebe veio com uma forte declaração: “Israel é o local mais seguro sobre a terra.” (Na verdade, apesar de trinta e nove escudos de míssil caindo em Israel, quase ninguém foi morto por eles.)
Era claro que o Rebe tinha a forte opinião de que – apesar da iminente ameaça – realmente não havia nada a temer - não havia necessidade de deixar Israel e nenhuma necessidade de cancelar planos de viajar para Israel – na verdade, todos eram encorajados a ir para lá e fortalecer seus amigos judeus. Em vista da declaração do Rebe, sugeri ao emissário chefe na África do Sul, Rabino Mendel Lipskar, que fizéssemos uma missão de solidariedade sendo então organizada pela Federação Sionista Sul Africana. Rabi Lipskar perguntou ao Rebe, que aconselhou que deveríamos ir, e assim fomos.
Na verdade, eu confiava tão completamente no Rebe que levei junto minha filha de doze anos, Zeesy. Tenho uma foto de nossa chegada em Israel e Zeesy sendo colocada com uma máscara de gás no aeroporto. Estivemos ali durante cinco dias; vimos o sistema de defesa Patriota ali de pé preparado, mas durante aquele tempo nenhum míssil caiu.
Sinto plena confiança às mensagens de reafirmação do Rebe – ele garantiu a minha mãe sobre a saúde da minha irmã pequena quando ela caiu, garantiu a África do Sul, e também Israel, e garantiu a minha esposa Rachel quando ela estava para dar à luz ao nosso décimo filho em 1991 de que tudo ocorreria bem.
Durante o trabalho de parto, o médico atendente, Dr. Haim Neifeld, um obstetra muito experiente, recomendou uma cesariana, porque o bebê estava numa posição transversal. Ele tentou reposicionar o bebê mas não conseguiu, porém minha esposa – uma mulher forte que tinha dado à luz todos nossos filhos naturalmente – não concordava com a cesariana. O Dr. Neifeld então chamou outro médico, Dr. Ronnie Klein, para uma segunda opinião, que apenas concordou com Dr. Neifeld.
Quando minha esposa, que acreditava totalmente na Divina Providência, ainda não concordava, o Dr. Klein sugeriu que eu ligasse para Nova York e falasse com o Rebe. Achei um tanto irônico que um médico não religioso estivesse dizendo a mim, um emissário do Rebe, para ligar para Nova York, mas não tinha me ocorrido porque não havia celulares naqueles dias, e estávamos na sala de parto 1h da manhã, na verdade, fazer a ligação foi bastante complicado, mas consegui.
A resposta do Rebe chegou: “Como o próprio médico pediu para perguntar para mim, acredito que ele não ficará contra mim se eu recomendar que ele ouça a mãe em trabalho de parto e espere.”
E veja só, o bebê. Ele virou-se espontaneamente numa posição de cabeça para baixo, a qual o médico disse que quase nunca acontece num estágio tão avançado de trabalho de parto. E graças a D'us foi um parto natural (na verdade, mais tarde eu soube que o médico ficou tão impressionado com o acontecido que se tornou observante da Torá como resultado!)
Nós lhe demos o nome de Nissen, que significa “milagre”, por sugestão do meu tio, mas também porque ele tinha chegado a este mundo de forma tão milagrosa.
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