Em 1960, eu tinha terminado meu serviço militar israelense e voltei para os Estados Unidos para me juntar ao comércio de joalheria da minha família, que era parcialmente dirigido dali. Eu trabalhava junto com meu tio em nossa filial em Manhattan, onde eu tinha vários fregueses da comunidade Chabad. Um dia, a Rebetsin Chaya Mushka – a esposa do Rebe – chegou ao nosso escritório para comprar algumas pérolas. Ela foi sozinha, dirigindo seu próprio carro. Eu ainda não sabia quem era ela ou o Rebe, mas após descobrir, pensei que fora uma honra ter atendido ela.
Eu não sabia como a Rebetsin tinha ouvido a nosso respeito, ou por que ela especificamente decidira comprar de nós, quando havia Chassidim Chabad nesse ramo. Creio que isso tenha algo a ver com seu profundo senso de modéstia e com seu desejo de evitar qualquer tratamento especial ou homenagem por causa do seu status. Acredito que ela chegou até nós exatamente porque não éramos conectados com Chabad.
Eu ficava impressionado com nossos clientes Chabad, eram alegres e expressavam bondade e amor. Após algum tempo, decidi que eu gostaria de conhecer pessoalmente o Lubavitcher Rebe. Eu tinha um primo chamado Aharon Shalomov que tinha se aproximado de Chabad, e em 1962 ele ajudou a marcar meu primeiro encontro com o Rebe.
Cheguei à sede Chabad na Eastern Parkway no Brooklyn, onde encontrei o secretário do Rebe, Rabino Klein. Ele deu-me a minha iniciação, instruindo-me a escrever em qualquer idioma que soubesse, uma carta especificando meu nome e o da minha mãe, bem como a área em que eu estava buscando a bênção do Rebe. Duas ou três horas depois, fui chamado a entrar no escritório do Rebe.
Essa audiência com o Rebe despertou profundas emoções em mim. Ao entrar, entreguei minha carta ao Rebe, que a leu, olhando para cima de tempos em tempos para me ver. Quando ele terminou, deu-me uma bênção.
Durante aquele breve encontro, aconteceu algo curioso. Enquanto o Rebe estava observando minha carta, ele levantou a cabeça para mim e perguntou: “Como está sua avó?”
Como eu estava surpreso, não respondi claramente, então o Rebe esclareceu: “Sua avó, ela não estava muito bem. Como ela está se sentindo?”
Respondi que, graças a D'us, tudo estava bem, enquanto perguntava a mim mesmo como o Rebe soube da doença dela – eu não tinha mencionado uma palavra sobre isso na minha carta.
Então eu soube que um ano antes, quando minha avó foi diagnosticada com sua doença, meu primo Aharon tinha escrito ao Rebe sobre isso.
O Rebe tinha respondido com suas bênçãos, e também sugeriu que a família procurasse conselho médico com dois doutores. Além disso, ela tinha certa vez encontrado o Rebe antes. Numa viagem a Nova York, a primeira coisa que ela queria fazer era receber uma bênção do Rebe, pois ela já tinha começado a se sentir mal.
Foi surpreendente que o Rebe se lembrasse dela, apesar de ter passado mais de um ano. E eu ainda não pude entender como ele sabia que éramos relacionados em primeiro grau – e Ben-David é, afinal, um sobrenome bem comum.
Encontrei-me com o Rebe em mais duas ocasiões e várias vezes escrevi para ele pedindo seu conselho ou bênção, duas das quais irei mencionar aqui.
Em 1972, após termos nosso quarto filho, minha esposa sofreu de colite. Era uma condição muito desagradável e os médicos a advertiram a não engravidar novamente, sob nenhuma circunstância. E então, quando soubemos que ela estava esperando, fomos imediatamente ao médico. Ele insistiu que ela tinha de fazer um aborto. Nós sabíamos que, exceto em casos onde a vida da mãe está em risco, a lei judaica se opõe a abortos, mas aqui o médico tinha dito que ela estava em perigo. O que fazer? Obviamente, escrevemos ao Rebe.
Em nossa carta, descrevemos a situação e as ordens do médico em detalhes, e incluímos um pedido para uma resposta rápida, pois caso houvesse necessidade de fazer um aborto, poderíamos fazê-lo dentro dos primeiros quarenta dias de gravidez. (Segundo a Halachá, um embrião assume um status diferente após quarenta dias de desenvolvimento).
A resposta do Rebe, porém demorou para chegar, e começamos a ficar ansiosos. Ligamos repetidamente para seus secretários mas não adiantou. Ainda não havia resposta. Finalmente, após a marca dos quarenta dias ter passado, chegou a resposta: “Não faça o aborto. A criança será saudável e tudo dará certo.”
É claro, seguimos o conselho do Rebe e estamos muito contentes com isso: graças a D'us, tivemos uma filha saudável e maravilhosa. Não apenas minha esposa não passou pelo aborto, mas se recuperou plenamente e tivemos mais três filhos saudáveis.
Em 1975, quando meu pai desenvolveu um problema no coração, mudamos para Israel a fim de ficar perto dele. Ele se sentia terrivelmente mal e foi levado ao Hospital Hadassa. Embora houvesse grandes riscos, ele queria desesperadamente que os médicos o operassem; a dor estava se tornando demais para ele suportar. O problema era que o médico – Professor Meryn Gottesman , um doutor destacado que mais tarde se tornaria o médico pessoal de Menachem Begin – tinha aconselhado a não fazer a cirurgia. Ele explicou que a condição do meu pai na época era frágil demais para suportar a operação.
Decidimos perguntar ao Rebe o que fazer, mas novamente, sua resposta foi adiada. O tempo passou, e meu pai foi enviado do hospital para casa. O médico deu-lhe alguns analgésicos para deixá-lo mais confortável e instruiu-o a permanecer na cama. Mas então, a mesa virou: o médico disse que a hora de operar tinha chegado, mas meu pai não estava mais interessado.
Após o Shabat em uma semana, quando o Professor Gottesman estava fazendo uma visita em casa, o telefone tocou. Era o Rabino Chaim Shalom Segal, de Afula, com uma mensagem do Rebe: “Não opere!”
O Professor Gottesman, compreensivelmente, protestou: “Sou o médico aqui! Como é possível para o Rebe tomar essa decisão quando ele está do outro lado do oceano e nunca sequer viu o paciente?”
Mas o Rebe disse o que tinha dito, e meu pai recusou a operação e seu desejo foi respeitado. Sem a operação, ele viveu por mais dezenove anos. Surgiram outras complicações de saúde, mas ele nunca teve outro problema com o coração!
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