Enquanto eu estudava quando jovem na yeshivá Chabad em Lod, Israel, alguns de nós, alunos seniores, desenvolvemos um forte desejo de passar um tempo com o Rebe, na yeshivá do 770.

Na época, nossa yeshivá tinha ao todo menos de quarenta alunos e éramos apenas dez entre os mais velhos, portanto a faculdade estava relutante em nos deixar ir. Mas então em 1961, Rabi Shlomo Chaim Kesselman, nosso professor de estudos chassídicos, propôs ao Rebe uma espécie de programa de intercâmbio estudantil. Enquanto viajávamos até o Rebe, um grupo de alunos da yeshivá americana viria para fortalecer a yeshivá em Lod. O Rebe deu seu consentimento.

A próxima etapa era conseguir vistos para os estudantes. A yeshivá em Nova York nos enviou um documento declarando que eles estavam assumindo responsabilidade por nós durante nossa estadia nos Estados Unidos. Então, Rabino Efraim Wolf, começou a trabalhar para garantir vistos de saída e deferimentos de concordância das autoridades militares israelenses, enquanto reuníamos os fundos para nossa viagem aérea. Naqueles dias, uma passagem para os Estados Unidos custava cerca de 1.200 libras israelenses – cerca de cinco vezes a media de um salário mensal!

Tínhamos pedido um ano de estadia, permitindo-nos vivenciar todas as festas e ocasiões especiais junto ao Rebe, mas o exército nos concedeu apenas um mês. Decidimos ir mesmo assim, e então aplicar por uma extensão a partir dali. Juntamo-nos a um grupo de chassidim que iam para Nova York para as festas de Tishrei.

Naqueles dias, o Rebe recebia visitantes para uma audiência privada duas vezes – uma na chegada, perto de Rosh Hashaná, e então novamente antes de seu retorno no final do mês.

Quando chegou a hora da minha audiência, levei algo comigo: fora da minha casa em Kfar Chabad, Israel, havia umas árvores de romãs crescendo, e eu tinha colhido o que pudera, como um presente ao Rebe da Terra Santa. Quando seu secretário Rabino Groner as apresentou a ele, o Rebe instruiu-o a deixar uma aqui, e levar o restante às escadas acima.” Acima das escadas no 770 ficava o apartamento do Rebe Anterior onde o Rebe fazia as refeições festivas naqueles anos. O restante das romãs, eu presumo, ele levou para casa.

Na noite de Rosh Hashaná, após fazermos nossa própria refeição apressadamente, fomos afortunados de poder entrar na sala de jantar no apartamento do Rebe Anterior. Chegamos no meio da refeição deles, e encontrei um lugar para ficar atrás do assento do Rebe a fim de observar. Até o final, quando foi servida a sobremesa, o Rebe perguntou se havia algo mais.

Um ajudante rapidamente trouxe as romãs numa sacola, e o Rebe pegou duas. “Aquele que trouxe as romãs está aqui agora?” ele perguntou.

Quando disseram a ele que eu estava ali, ele voltou-se e perguntou se os frutos obedeciam as várias leis agrícolas judaicas que se aplicam em Israel. Confirmei que eles estavam de acordo com a halachá e ele então cortou um pedaço e comeu. As outras duas romãs na sacola foram distribuídas no farbrenguen público no dia seguinte.

Durante todo esse tempo, é claro, a questão de se poderíamos garantir permissão do exército para ampliar nosso visto de saída estava nos perturbando.

Quando um dos rapazes levantou a questão em sua audiência particular, o Rebe deixou claro que assegurar os vistos era responsabilidade da yeshivá. Portanto, apesar de ter sido detido pela razão inicial do exército, Rabi Wolf continuou tentando.

Logo as festas acabaram, e a resposta que estávamos aguardando ainda não havia chegado. Nós e os alunos americanos permanecemos em nosso estado de limbo o caminho todo até a semana de nosso retorno. Após entrar em contato com o Rabino Wolf, soubemos, para nossa surpresa, que nossos vistos tinham desaparecido e que teríamos de esperar mais dois dias por uma resposta das autoridades.

Quando os outros hóspedes que tinham chegado de Israel para as festas se encontraram novamente com o Rebe antes de voltarem para casa, estávamos inseguros se teríamos que voltar com eles. O Rebe nos aconselhou a esperar:

Quando chegou a terça-feira e ainda não havia resposta, perguntamos ao Rabino Hodakov, o secretário do Rebe, o que deveríamos fazer, “Se eles precisarem, podem vir na quarta-feira,” foi a resposta do Rebe.

Se precisássemos. Assim que ouvi aquilo, entendi que tudo iria dar certo. “É isso!” eu disse aos meus amigos. “Estamos indo.”

Na manhã seguinte, o telefone público no 770 tocou. Rabino Wolf ficou na linha, com notícias empolgantes.

“Você recebeu uma extensão de três meses!”

Uma semana depois, nos juntamos aos americanos que estavam para tomar nossos lugares em sua audiência com o Rebe antes de sua partida. Nessa audiência, o Rebe nos disse algo muito poderoso: Quando uma pessoa tem de se mover de um lugar para outro, o ponto é nunca “apenas deixar o lugar anterior para trás sem pegar tudo dele.” Mas sim, como todo lugar tem algo único a pessoa deveria tentar incorporar “os aspectos positivos de ambos os locais”

No nosso caso, como toda yeshivá tem suas forças únicas, o Rebe nos encorajava a manter os padrões tanto da instituição de onde viemos como daquela para onde fomos – para nosso bem pessoal, e por fim para a yeshivá inteira à qual estávamos viajando. Ele também tinha uma orientação específica aos americanos indo para Israel. “Geralmente,” ele disse, quando uma pessoa vai para Israel, “encontra outros judeus no avião, que também estão viajando para lá... Tente impressioná-los ... numa maneira agradável, porque eles estão viajando para a Terra Santa.”

Não importa como uma pessoa se comportava anteriormente, quando vai à Terra Santa, elas deveriam agir da maneira que D'us deseja que ajam.

Mais tarde, Rabino Hodakov sugeriu que nomeássemos um representante que seria responsável por reportar regularmente ao Rebe sobre nossas ações para colocar suas palavras em prática. Fui escolhido para essa tarefa e fomos trabalhar.

Após três meses, nós aplicamos para outra extensão, mas essa foi negada; teríamos realmente de retornar. Após mais umas poucas semanas de tentativa, nossa partida foi programada para 17 de Adar I, e uma audiência foi marcada com o Rebe para o mesmo dia.

Quando entramos na sala do Rebe, para nossa surpresa, vimos que ele estava em traje de Shabat. Ele fez um discurso chassídico e deu a cada um de nós uma cópia do Tanya, bem como uma moeda de um dólar. Por meio do Rabino Hodakov, ele também nos deu 50 libras israelenses para nossas despesas de viagem. Naquela audiência, o Rebe nos pediu para compartilhar o que tínhamos visto e ouvido durante nosso tempo no 770 com outros estudantes nas yeshivot Chabad em Israel, e que continuássemos enviando relatos escritos das nossas atividades. Fizemos isso. E todo ano em 17 de Adar, nosso grupo se reúne, para estudar, realizar farbrenguens, e para lembrar como, naquela audiência de despedida, o Rebe nos encorajou a continuarmos em nosso trabalho.