Nasci na cidade de Sanandaj, no Irã, para uma linhagem de rabinos que originalmente vinham de Safed, Israel, nove gerações atrás.
Depois que irrompeu a Revolução Islâmica de 1979, foi nomeado como chefe da corte rabínica local, bem como chefe do conselho da comunidade, tornando-me o homem principal entre os judeus iranianos e o novo regime.
Não muito tempo depois, um grupo de estudantes cercou a embaixada americana em Teerã, com cinquenta e dois reféns. Os iranianos não queriam nenhum americano ou israelense, e portanto o rabino do México foi escolhido para a tarefa – Rabi Avraham Mordechai Hershberg.
Alguns tentaram dissuadi-lo de viajar ao Irã num momento tão sensível, portanto ele decidiu consultar o Rebe. Uma semana antes de partir, ele informou ao Rebe sobre seus planos de viagem e suas preocupações. O Rebe disse para ele fazer a viagem e lembrou-lhe para também trazer algumas velas para acender a chanukiyá com os reféns judeus para a festa de Chanucá que se aproximava. Rabi Hershberg fez exatamente isso.
No dia após sua visita, os clérigos foram convidados para as preces em massa de sexta-feira na principal mesquita de Teerã com o supremo líder Ayatolá Khomeini presente. A certa altura, a congregação inteira ajoelhou e então se curvaram em prece - exceto Rabi Hershberg e eu. Em seguida, um clérigo muito influente chegou até nós. “Por que vocês não nos mostraram respeito?” ele exigiu furiosamente. “Por que não se curvaram como os sacerdotes fizeram?”
“Aqueles sacerdotes vieram da Síria e Líbano e sabem arábico,” Rabi Hershberg explicou. “Mas eu não entendo o que está sendo dito. Nossa Torá nos ordena, ‘não se prostram a si mesmos’, portanto como posso me curvar se não sei por que estou me curvando?”
O Mullah se afastou, mas logo depois retornou. “O Ayatolá pediu sua audiência.”
Abalado, ofereci uma prece em silêncio e aceitei meu fado. Então fomos até Khomeini.
“Transmita ao outro rabino os meus agradecimentos,” disse Khomeini, para minha surpresa, “por não tentar congraçar vocês mesmos. Respeito que você agiu de acordo com sua fé.”
Quando traduzi isso ao Rabi Hershberg, ele respondeu: “Esta é uma oportunidade de ouro! Peça a ele alguns minutos para conversar sobre as necessidades dos judeus iranianos.”
Quando relatei este pedido de volta para Khomeini, ele pediu ao seu filho Ahmed para marcar um encontro naquele domingo na cidade religiosa de Qom, onde ele morava. Na verdade, conseguimos levar várias questões opressivas para a comunidade judaica. Por exemplo, membros da Guarda Revolucionária tinham confiscado todo artigo religioso citando a Estrela de David, mas quando explicamos que este era um símbolo religioso que pertencia à bandeira israelense, prometeram que nenhum judeu seria mais importunado com esses itens.
Asseguramos permissão para usar vinho para propósitos rituais, apesar de suas proibições religiosas contra o consumo de álcool, bem como uma permissão para ir à nossa sinagoga para as preces matinais, Selichot, apesar da proibição que estava em efeito naquela época. Com o tempo, até desenvolvi um relacionamento próximo com Ahmed, o que me permitia pleitear outras coisas positivas para a comunidade.
Eu já tinha lido sobre o Rebe em alguns dos jornais que chegaram de Israel, e cerca de um ano antes da revolução, ele tinha também enviado dois jovens chassidim Chabad ao Irã. Quando o país se tornava até mais instável, as pessoas começaram a perguntar sobre tirar seus filhos do perigo, e perguntei àqueles homens jovens se eles poderiam ajudar a trazer aquelas crianças para os Estados Unidos. Mais tarde, quando a guerra Irã-Iraque irrompeu, e meninos com dezesseis anos começaram a ser recrutados, entendemos a urgência com a qual tínhamos de levar nossos jovens para fora.
Isso foi quando Rabi J. J. Hecht, um dinâmico ativista Chabad no campo da educação judaica americana, entrou no quadro. Com encorajamento do Rebe e através dos seus contatos com membros importantes do governo, ele conseguiu assegurar vistos para centenas de crianças. Além disso, foram feitos arranjos para abrigar esses jovens nos Estados Unidos, tanto físico quanto espiritualmente, e havia até um programa de ensino escolar estabelecido especialmente para eles.
Durante o primeiro ano, ainda havia voos regulares ao Irã, mas quando as autoridades tornaram as coisas mais difíceis, tivemos de mandá-los sobre a fronteira com o Paquistão, e então para Turquia ou Europa, de onde as crianças podiam continuar até Israel, ou conseguir um visto americano.
O Mossad de Israel e a Junta Americana se tornaram ambas envolvidas nessa complexa operação, que conseguiu evacuar quase todos os jovens judeus do Irã durante mais de dois anos, mas tudo isso começou com a aprovação e encorajamento do Rebe.
Temendo a reação do regime a tudo isso, parte da comunidade se opôs a essa operação, e com o tempo alguém me denunciou como agente do Mossad e da CIA.
Em 1982, fui forçado a fugir, deixando para trás uma linda coleção de livros de Torá e manuscritos raros que tinham ficado com minha família durante gerações.
A princípio, morei em Israel, mas logo segui meu filho e minha filha para a América. Quando vi a negligência espiritual que prevalecia ali entre os jovens emigrados iranianos, percebi que agora eles estavam em perigo de assimilação, e me comprometi a devolvê-los ao grupo.
Em Nova York, visitei Rabi Hecht, e tive o grande privilégio de encontrar o Rebe. Após uma breve apresentação por Rabi Hecht na sinagoga do 770, o Rebe convidou-me para uma audiência privada.
Ao entrar no seu escritório, fiquei impressionado pela modéstia da sala. Quando vi o Rebe naquele ambiente mais privado, pude sentir a santidade emanando dele, e me senti incapaz de deter o fluxo de lágrimas que de repente irromperam.
“Por que você está chorando?” o Rebe perguntou. “Somos orientados a servir a D'us com alegria!”
“Essas são lágrimas de alegria,” respondi.
O Rebe me fez muitas perguntas sobre o estado e o bem estar do Judaísmo Iraniano. Após respondê-las, pedi a ele para rezar – tanto por aqueles que ainda estavam ali e em perigo físico, como por aqueles que tinham partido e estavam em perigo espiritual.
Quando eu disse ao Rebe como eu tinha traduzido o sidur para os judeus persas que não sabiam hebraico, o Rebe respondeu: “Isso é bom, mas não é o suficiente. Você também precisa traduzir o Kitzur Shulchan Aruch, para que eles conheçam a lei judaica básica.”
Ele deu-me uma bênção e um dólar como participação nesse trabalho e na verdade, consegui traduzir aquele Código Abreviado da Lei Judaica em Farsi, em menos de um ano, e continuei a traduzir vários outros clássicos.
Eu mantinha uma forte conexão com o Rebe, e voltei muitas vezes depois. Toda vez que eu via o Rebe, ficava simplesmente dominado pela emoção. Mal conseguia olhar para o seu rosto, ele era tão radiante. Tenho testemunhado pessoalmente sua grandeza, e agradeço a D'us por seus emissários estarem seguindo seus passos e divulgando seus ensinamentos através do mundo.
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