No final dos anos 40, eu era um menino com dez anos de idade, morando em Coney Island, e frequentando a yeshivá em Brighton Beach. Como muitos outros nova-iorquinos naquela época, um Lubavitcher chamado Reb Mendel Cunin passava seus verões em Coney Island, e ele frequentava a sinagoga na 33ª Street onde meu pai atuava como gabai. Eles se tornaram muito amigos, e um dia meu pai disse a Reb Mendel que ele estava procurando para mim uma yeshivá com uma atmosfera mais temente a D'us.

“Eu tenho exatamente o local para você,” disse Reb Mendel, referindo-se à yeshivá Chabad na Avenida Bedford e Rua Dean. A yeshivá ficava num edifício que já fora sede do Brooklyn Union League Club, e tinha uma grande estátua do Presidente Grant na frente. Terminei indo por todo o sistema educacional Lubavitch, por fim estudando no 770.

Antes de casar-me com Adela, comecei a atuar como rabino no Brooklyn, e mais tarde voltei a Coney Island, como rabino da congregação Anshei Poland. Além disso, me tornei empresário. A certa altura, escrevi ao Rebe sobre uma oportunidade de negócio que tinha surgido: um supermercado em Crown Heights estava à venda, e parecia ser uma boa oportunidade. O problema era que, nos anos 60, as pessoas estavam fugindo da área. Tinha ocorrido motins em Nova York, alguém foi morto num apartamento, e houve um êxodo. Minha esposa estava preocupada de que não haveria clientes, e ela também não estava muito empolgada com a ideia de tornar-se dona de uma mercearia.

“Você não precisa se preocupar sobre clientes,” o Rebe respondeu. “Você vai ter fregueses. Sobre sua esposa não querer um mercado – é sobre isso que você deve se preocupar.”

Então durante algum tempo, tive uma empresa de aluguel de carros, e então trabalhei para a cidade de Nova York como um investigador de cuidados hospitalares. Então em 1967, não muito tempo depois da Guerra dos Seis Dias, Rabi Moshe Feller do Chabad em Minnesota veio me fazer uma proposta. Havia uma sinagoga em Duluth que precisava de um rabino e ele queria que eu assumisse o cargo. Eu disse a ele que minha esposa e eu já estávamos arranjados, mas me deixei convencer.

Quando escrevi ao Rebe para perguntar sobre isso,ele não respondeu sim ou não. Mas quando me convenci a ir, ele me deu muitas bênçãos. Numa audiência antes de irmos para Duluth, ele descreveu a natureza respeitável do povo ali, e disse que deveríamos transformar o local espiritualmente, usando a expressão chassídica, “Mach du Eretz Yisroel – Transforme esse lugar na Terra de Israel.”

Sabendo o quão distante as pessoas dali estavam do Judaísmo – de “Eretz Yisrael” – eu pensava como poderia cuidar de algo assim. As pessoas ali eram simples judeus. Seus avós, que tinham emigrado da Europa, tinham alguma noção. Mas agora estávamos na segunda e na terceira gerações, e sem escolas judaicas! Pouco havia remanescido.

Como se estivesse lendo minha mente, o Rebe acrescentou: “Ao menos leve-os mais perto de Eretz Yisrael, então.”

Fizemos uma escola de domingo em Duluth para crianças judias que resultou em uma influência sobre toda a comunidade – cerca de quatrocentas famílias. Eu ia aos hospitais para visitar os doentes, tinha um programa regular de rádio, e fazia especiais na televisão antes de todas as festas. Fui designado para o Conselho de Direitos Humanos de Minnesota pelo governador Harold LeVander, e para a Comissão de Justiça de Habitação e Emprego de Duluth pelo Prefeito Ben Boo. Havia muito a fazer.

Mas após um ano, eu não estava certo se deveria permanecer em Duluth. Eu tinha tirado apenas alguns anos de ausência do meu emprego em Nova York, e se ficasse ainda mais tempo, teria de me reaplicar para o meu retorno.

“D'us está feliz com você lá,” disse-me o Rebe, “portanto você deve continuar.” Como resultado, fiquei ali por mais quatro anos, após os quais parti com a bênção do Rebe.

Em 1970, houve a Conferência Sobre Crianças na Casa Branca. Como resultado das grandes coisas que Chabad tinha feito para a educação, e meu cargo na Comissão de Direitos Humanos, recebi um convite. Entre os quatro mil ou mais delegados, havia vários Lubavitchers.

O Rebe aprovou fortemente a nossa participação. Ele escreveu que era “urgente, e extremamente positivo,” e nos encorajou a trabalhar como uma equipe e, em suas palavras, “conquistarem juntos a conferência.”

A conferência foi dividida em vários fóruns, que discutiram qual a melhor forma de educar as crianças, e então vieram resoluções que deviam ser implementadas. Todo dia, os delegados Lubavitch coordenavam com o escritório do Rebe sobre como melhor apresentar nossas opiniões nesses fóruns.

Falamos sobre ética na educação; sobre como os professores têm de ser pessoas morais e éticas, pessoas em quem os pais poderiam confiar não apenas em ensinar aos seus filhos assuntos da escola, mas também como ser um mensch; e sobre a importância de reconhecer que D'us está sempre nos observando e cuidando. Poucos anos antes, uma pequena prece destinada a ser recitada todos os dias nas escolas de Nova York, foi interrompida pelos tribunais. Por isso, também defendemos a permissão de voltar a recitá-la nas escolas, embora em anos posteriores o Rebe tenha defendido fortemente um momento de silêncio para reflexão.

Em seguida, pegamos um trem de Washington para Nova York, chegando a tempo para o farbrenguen do Rebe em celebração de Yud Tet Kislev. Quando entramos, o Rebe me chamou para fazer um l’chaim. A princípio, eu estava tentando entender quem ele estava apontando – não imaginava que era para mim – mas era. “L’chaim,” eu gritei acrescentando: “que toda criança possa ter permissão para mencionar o nome do Todo Poderoso na escola!”

“É isso que você declarava em Washington? Você realmente quis dizer isso?” o Rebe perguntou.

“Sim,” eu confirmei.

“Uma coisa muito boa,” o Rebe respondeu aprovando.

Muitas coisas boas ocorreram por causa daquela conferência, e um ano depois, fui convidado de volta, pelo Presidente Nixon, como delegado para uma conferência sobre envelhecimento, e causei uma boa impressão ali também.

Houve outra conexão mais tênue com a Casa Branca, que voltou mesmo antes de tudo isso. Enquanto eu tinha meu escritório de aluguel de carros em Brighton Beach, conheci um agente dono de uma imobiliária chamado Fred Trump.

Este agente ajudou minha mãe a encontrar um apartamento, onde ela morou por mais de cinquenta anos, em um dos maiores prédios que Trump tinha construído em Brighton Beach. Quando Sucot estava se aproximando, fui até o escritório para conseguir permissão para construir uma sucá ao lado do prédio dela.

“O que vai acontecer se alguém se machucar?” Trump me perguntou. “Se você puder conseguir um seguro de um milhão de dólares, então você pode colocar a sucá.”

Um acordo é um acordo. Então fiz uma apólice de seguro e construí uma linda sucá, que umas poucas pessoas judias morando no prédio usavam, e Fred Trump também veio dar uma olhada.

Não muito depois, eu contei tudo isso ao Rebe, pensando que iria receber um elogio.

Em vez disso, ele observou que havia outro conjunto de apartamentos na área com um grande número de residentes judeus . “O que você fez por eles?” ele perguntou.

Não importa o quanto você pensa que fez, o Rebe nunca está satisfeito: ele sempre está pensando sobre outros judeus que você pode ajudar.