Minha família fugiu da União Soviética logo após o término da Segunda Guerra Mundial e passou sem rumo pela Europa até 1948 quando o Estado de Israel foi fundado. Naquela época, meus pais – com outras trinta e quatro famílias – atenderam ao chamado do Rebe Anterior para estabelecer uma vila Chabad em Israel.

No início, Kfar Chabad era um ambiente agrícola e como a maioria dos moradores, meu pai – Rabi Avraham Shmuel Gorelik – também trabalhava na agricultura. Mas, em 1956 ele decidiu fazer uma parceria com Rabi Nachman Elbaum, que lidava com etroguim, os frutos das árvores cítricas que eram necessários para Sucot.

Rabi Elbaum comprou sementes da Calábria, Itália, e com isso meu pai iniciou o primeiro pomar de etrog em Israel. Durante gerações, os etroguim preferidos vinham da Itália, mas havia preocupações – porque etroguim são notoriamente difíceis de crescer, muito delicados e frágeis – e os fazendeiros estavam enxertando ramos de etrog em outras árvores cítricas. Portanto, o Rebe tinha instruído que as sementes dos etroguim da Calábria que não tinham sido enxertadas fossem enviadas para Israel e que começássemos a cultivá-las aqui.

Desde o início, o Rebe demonstrou grande interesse pelo pomar de etroguim. Numa carta à direção da comunidade Kfar Chabad, em 12 de novembro de 1959, o Rebe escreveu: “Recebi boas notícias de que muitas centenas de etroguim cresceram em Kfar Chabad (das mudas) originadas na Calábria, como o verdadeiro “lindo fruto” especificado na Torá se refere aos etroguim calabreses.”

Ele também expressou preocupação de que essas árvores novas fossem devidamente protegidas das condições climáticas com cercas e zonas de batentes, acrescentando: “Certamente aqueles que estão envolvidos nisso irão analisar o assunto em breve.” Após reiterar como ele estava feliz pela notícia sobre este desenvolvimento, ele expressou surpresa de que as boas novas não tivessem sido compartilhadas com ele imediatamente.

Em 1960, os primeiros frutos aproveitáveis foram apanhados das árvores para grande alegria de todos.

Poucos anos depois, Rabi Elbaum deixou Israel, e meu pai comprou sua cota na parceria, continuando por si mesmo com a ajuda de meu cunhado, Rabi Moshe Naparstek. Mas imediatamente ele enfrentou um desafio. No final dos anos de 1960, muitos pomares em Israel foram afligidos por uma doença de plantas chamada “praga cítrica”, e alguns tiveram de ser totalmente arrancados. Não havia tratamento para essa doença e meu pai ficou muito preocupado de que nosso pomar fosse afetado também: ele até chegou a debater se era uma boa ideia continuar a cultivar etroguim.

Mas quando, em 1969, viajei a Nova York para as Grandes Festas, o Rebe negou totalmente as preocupações de meu pai: “A terra de seu pai é bastante apropriada para cultivar etroguim. Obviamente, essa doença pode ser vencida, pois outros ainda estão plantando em Israel, e os judeus precisam fazer uma bênção sobre etroguim kosher.”

O Rebe também destacou que, ultimamente, estava se tornando difícil trazer etroguim casher da Itália, porque enxerto tinha se tornado mais comum ali e é difícil supervisionar seus pomares. Assim, ele disse, “por fim todos irão depender do pomar de seu pai.”

A respeito da praga cítrica, o Rebe sugeriu que fizéssemos contato com o Ministério da Agricultura Israelense e pedíssemos que eles encontrassem uma solução, pois os judeus devem ter etroguim casher. Ele também acrescentou que se isso fosse demandar despesas, deveríamos informar seu secretariado e ele iria contribuir para os custos.

Fizemos contato com o Ministério da Agricultura conforme o Rebe aconselhou, e eles encontraram alguma solução que – embora não impedisse totalmente a doença - diminuía o risco através de coberturas e sprays especiais. E isso salvou nosso pomar.

Após alguns anos, ficou difícil demais para meu pai cuidar do pomar, e comecei a pensar que deveria abandonar minha carreira em educação e assumir em seu lugar. Mas o Rebe não apoiou essa ideia. Ele me disse, numa audiência em 1976: “Pelo que ouvi, você é bem sucedido na educação, e a situação em Israel hoje é tal que aquele que é bem sucedido na educação não pode sair. Você deve contratar alguém para cuidar do pomar; então precisará apenas supervisioná-lo.” Foi o que fiz, e graças a D'us, o pomar continuou a florescer.

No decorrer dos anos, toda vez que eu ia ver o Rebe, ele estava interessado em ouvir os detalhes sobre os etroguim, e me dava todos os tipos de instruções sobre o pomar e até sobre comércio. A certa altura compramos mais terra para expandir o pomar, mas fomos forçados a comprar um terreno que era maior do que precisávamos. Então discutimos se deveríamos plantar somente etroguim, que é um grande investimento, ou se deveríamos plantar metade etroguim e metade outras culturas.

A resposta do Rebe não deixou dúvida: “Fico surpreso como um pensamento desses pôde entrar em sua mente – você deve plantar [etroguim] ao máximo da capacidade!” E então ele reiterou o que disse antes: “Chegará um dia quando será difícil trazer etroguim kosher da Itália e todos irão confiar em seu pomar.”

Seguimos o conselho do Rebe. E também, algumas vezes depois de Sucot, pedimos ao Rebe pelo seu etrog, portanto poderíamos pegar as sementes e plantá-las. Dessa maneira, os chassidim em Israel poderiam fazer a bênção sobre um etrog crescido das sementes de um etrog que o Rebe tinha usado. Iria significar muito para eles poderem fazer isso.

Mas nunca recebemos uma resposta ao nosso pedido, até 1990. Naquele ano – foi ao final do mês hebraico de Tishrei de 5751, o ano que o Rebe chamou de “o ano das maravilhas” – ele nos enviou dois de seus etroguim. Quando eles chegaram, os levamos até Rabi Mordechai Ashkenazi, o rabino de Kfar Chabad, para abri-los em sua presença. Extraímos cinquenta e quatro sementes e as plantamos logo em seguida.

Vinte e seis brotos cresceram daquelas sementes, e delas selecionamos as melhores e plantamos um pomar inteiro. Arrancamos o pomar anterior que tinha começado com as sementes vindas da Itália, para que as pessoas soubessem com certeza de que seu etrog vinha do Rebe.

A princípio somente os chassidim Chabad estavam interessados naqueles etroguim especiais, porém mais tarde, descobrimos que há uma grande demanda entre o público em geral, de todas as correntes do Judaísmo, e portanto, com o passar do tempo, todos os nossos pomares foram plantados com sementes dos frutos daquelas árvores.

Chamamos os frutos desses pomares de Estroguei Arenu Niflaos – “Cítricos do Ano das Maravilhas”, e hoje eles estão disponíveis para compra ao redor do mundo todo.