Tenho atuado como secretário geral da Agudat Israel Mundial por várias décadas, em sua sede em Jerusalém. Em 1981, no decorrer do meu trabalho, fui enviado aos Estados Unidos. Minha esposa e meu filho Yisroel, que então tinha quatro anos de idade, também foram junto comigo.

Não era minha primeira vez nos Estados Unidos, mas como eu ainda não tinha conseguido visitar o Lubavitcher Rebe, decidi aproveitar a viagem para marcar um encontro com ele.

Quando chegamos ao 770, fiquei um pouco consternado ao ver a multidão de pessoas esperando do lado de fora do escritório. Se tivéssemos de esperar para todos entrarem, pensei comigo mesmo, chegaremos em casa somente amanhã. Por sorte, Rabi Binyomin Klein, um dos secretários do Rebe, viu-me de longe, e chamou-me: “Moshe, venha rapidamente!”

Fomos até ele que nos disse: “Em poucos minutos, quando a pessoa que agora está conversando com o Rebe sair do escritório, será a vez de vocês entrarem.”

“Mas, eu imploro,” ele acrescentou firmemente, “por favor não falem com ele sobre Agudat Israel nesse momento. O Rebe está se sentindo muito fraco, portanto estamos tentando preservá-lo com encontros breves.”

Obviamente, prometi ouvir. Após seu ataque cardíaco em 1978, o Rebe tinha diminuído o número de noites em que mantinha audiências privadas, e mais tarde eu soube que ele estava apenas recebendo visitantes de fora da cidade. Até mesmo este arranjo limitado foi descontinuado no final daquele ano.

Após vários minutos, a porta se abriu, alguém surgiu, entramos, e vimos o Rebe.

O olhar radiante na face do Rebe é difícil de colocar em palavras; é algo que uma pessoa tem de experimentar e ver por si mesma.

Ao me apresentar, estendi minha mão em cumprimento. Depois que o Rebe a apertou, ele colocou sua mão no meu pequeno filho. “E qual é o seu nome?” ele perguntou.

“Yisroel,” respondeu meu filho.

“Yisroel!” repetiu o Rebe. “Você sabe como esse nome é especial?” Ele então teve uma breve conversa com meu Yisroel, perguntando sobre qual é a sua escola e se sabe ler. Depois disso, ele abriu uma gaveta, tirou uma nota de um dólar e entregou-a a ele.

“Pegue este dólar,” ele instruiu, “e segure-o bem, para que não caia. Quando você sair, peça ao seu pai para comprar para você uma letra no novo rolo de Torá que está sendo escrito para crianças judias.”

“Mas meu pai já me comprou uma letra antes de entrarmos,” Yisroel disse ao Rebe.

A essa altura eu intervi. Poucas semanas antes, o Rebe tinha anunciado uma iniciativa de escrever um rolo de Torá em prol de todas as crianças judias, e tínhamos ouvido falar sobre isso em Israel. Quando chegamos ao 770 e vimos que letras no novo rolo estavam sendo vendidas perto da entrada por apenas um dólar, ficamos felizes pela oportunidade. Confirmei ao Rebe que já tínhamos na verdade comprado uma letra para Yisroel.

“Maravilha!” disse o Rebe. Então, voltando-se para Yisroel, ele sugeriu. “Peça ao seu pai para comprar outra letra, para que você tenha duas letras no sagrado Sefer Torá!”

O Rebe perguntou a Yisroel se ele entendera e ele disse que sim, embora eu na verdade não esteja totalmente certo de que esse era o caso. Mesmo assim, ele respondeu muito gentilmente.

“E como estão as coisas em Agudat Israel?” o Rebe então perguntou, olhando para mim. Isso me abalou um pouco, pois eu não ousava dizer que seu secretário tinha me proibido de abordar esse assunto. Então, falei brevemente sobre algumas das nossas atividades recentes. Entre outras coisas, eu disse a ele sobre a ajuda que estávamos enviando ao Judaísmo Soviético e sobre nossos esforços para preservar cemitérios judaicos por toda a Europa. O Rebe nos abençoou com sucesso, e enfatizou a importância dessas atividades.

Mais tarde, ele perguntou: “Rebe Chaim Weinstock, o filho do Cabalista Rabi Moshe Yair Weinstock, ainda está trabalhando com você?” Fiquei surpreso pela familiaridade do Rebe com os trabalhos do meu escritório, que era em Israel, e expressou muito isso.

O Rebe sorriu amplamente. “Podemos estar sentados longe da Terra de Israel, mas ainda estamos ali. Afinal, a Torá está em toda parte, e como você certamente viu em seu caminho, os livros no salão de estudos aqui são bem usados. Estamos pensando sobre a vinda de Mashiach o tempo todo.”

A essa altura, o Rebe voltou-se para minha esposa e perguntou o que ela fazia. Minha esposa era uma contadora em uma organização ambiental, e ao saber que ela era a única funcionária religiosa, ele estava interessado em saber como ela era tratada ali.

Minha esposa respondeu que nunca teve problemas no trabalho em questões de fé. Ao contrário, ela sentia que seus colegas a respeitavam por ser fiel aos seus princípios religiosos. Como exemplo, ela mencionou que a empresa ocasionalmente organizava excursões em contato com a natureza para seus funcionários, o que ela geralmente evitava. Quando os organizadores notaram isso, informaram minha esposa que toda a comida servida nas viagens era casher, embora ela explicasse que tipicamente aderia a um padrão mais rigoroso das leis.

A resposta do Rebe a isso foi interessante: ele aprovava minha esposa, mas sugeriu que de vez em quando ela deveria ir junto nessas viagens para que eles não pensassem que pessoas religiosas tinham alguma coisa contra reservas naturais nas florestas. Afinal, a natureza é um presente de D'us. Ela poderia levar alguma comida de casa, e se sentir mais confortável na viagem, ela podia também convidar uma amiga religiosa para ir junto.

Após sairmos, perguntei à minha esposa pela sua impressão sobre a visita, mas ela não respondeu. A princípio, eu estava preocupado de que algo tivesse dado errado, mas então ela explicou que estava simplesmente sem palavras. “Eu nunca vi uma pessoa como essa. Ele é como um anjo de D'us,” foi como ela colocou. “Fiquei tão impressionada que mal me lembro do que ele me disse.”

Concordei. No meu trabalho, eu tinha tido o privilégio de conhecer muitos rabinos importantes e grandes líderes, mas nunca em minha vida eu tinha conhecido alguém como o Lubavitcher Rebe.

Antes de nos separarmos, o Rebe abriu novamente sua gaveta, e nos deu mais algumas notas de dólar para doarmos à caridade. “Desde que deixamos o Egito,” ele explicou, “temos tido a mitsvá da tsedacá – é isso que sustenta o povo judeu. Mesmo se alguém suspeitar que a pessoa pedindo caridade não precisava realmente disso, o próprio fato de que estão pedindo é evidência de que eles têm uma necessidade muito real. Nós deveríamos dar sem fazer perguntas, com entusiasmo, e com a mão direita.” Com isso, ele nos agradeceu por ter vindo e nos despedimos.

Tínhamos ficado na sala por vinte minutos, e quando saímos, comecei a me desculpar a Rabi Klein: “A primeira coisa que ele me perguntou foi sobre Agudat Israel!” Felizmente, ele entendeu, e saímos como bons amigos.