Em 1935, minha família migrou para Jerusalém saindo da cidade grega de Larissa, perto de Salonika. Era a metade do ano escolar, portanto as escolas não estavam dispostas a aceitar-me. Por fim, meus pais encontraram um rabino curdo, Chacham Fatal, que concordou, apesar das suas preocupações que eu não soubesse hebraico.
“Pegue uma cadeira, coloque no canto, e deixe ele sentar ali,” minha mãe disse a ele. “Ele não vai incomodar ninguém, e ao final do ano ele estará falando hebraico.” Eu era apenas um menino quieto de seis anos de idade que tinha medo desse novo rabino, mas foi aquilo que eu fiz.
Mais tarde, mudei para uma escola mais moderna, então recebi um diploma para frequentar a escola secundária da Universidade Hebraica, e me formei na Faculdade de Professores David Yellin em Jerusalém em 1948. Nessa época, eu era membro da oculta Haganá, e já era um oficial treinando novos recrutas para aquele que eventualmente se tornaria o exército de Israel após a fundação do Estado.
Quando deixei o exército, fui trabalhar como professor, na maior parte educando crianças pequenas que tinham migrado do Norte da África e do Oriente Médio. Fui promovido a diretor da escola e mantive aquele cargo durante muitos anos antes de receber minha pós-graduação da Universidade da Colúmbia.
Depois disso, fui contratado como assistente do ministro da educação israelense, e continuei a trabalhar no ministério durante trinta anos. Foi nessa qualidade que me pediram para ir ao encontro do Rebe em 1971.
Na época, Yigal Allon era o ministro da educação. Ele era um herói de guerra e ex-general, e após a Guerra dos Seis Dias, ele informou-me de um plano que tinha criado. Conhecido como o Plano Allon, teria devolvido alguma terra de volta aos jordanianos, enquanto dava a Israel o controle das áreas fronteiriças.
“Depois que tivermos paz,” ele me disse, “quero garantir que a linha do Vale do Jordão no norte descendo para Chevron vai permanecer sob a soberania de Israel.”
Parte do plano envolvia construir um alojamento numa colina acima de Chevron – não na própria cidade – e para fazer isso ele precisava levar muitos pessoas para morar ali .
“Vá ver o Rebe,” ele me instruiu, “e convença-o a recrutar mil casais jovens.” A ideia era que iríamos trazê-los para Israel, alojá-los na área de Chevron, e então cobrir suas despesas, enquanto os homens estudavam Torá. A comunidade Chabad em Chevron tinha quase sido aniquilada após o massacre de 1929 ali, mas o Sr, Allon queria trazer Chabad de volta. Ele acreditava que um movimento ardente como Chabad seria capaz de inspirar outros a se juntarem a eles ali também.
Então voei para Nova York e peguei um táxi direto para o 770, onde fui convidado a sentar-me na sala de espera. As pessoas estavam entrando e saindo do escritório do Rebe, e um dos assistentes do Rebe ofereceu-me uma xícara de café, pois eu estava com Jet-lag pelo voo e não tinha dormido o dia inteiro.
Perto das 3 de madrugada, tive permissão de entrar no escritório do Rebe. Quando entrei, ele se levantou e apertou minha mão, e então ambos nos sentamos à mesa. Eu senti que ele queria criar um local tranqüilo e quieto, separado, onde duas pessoas pudessem conversar à vontade uma com a outra, mas por minha parte, senti um certo temor reverencial misturado com empolgação.
Depois que me apresentei como representante de Yigal Allon do Ministério da Educação, ele perguntou-se sobre Allon e sobre o ministério. Ele não tinha muitas perguntas, mas queria que eu dissesse a ele o que estávamos fazendo na área da educação.
Também discutimos o Plano Allon, que o Rebe não apoiava; ele pensava que o povo judeu deveria ser capaz de morar em Chevron adequadamente. Porém, na minha próxima visita, e então na outra depois dela, retornamos à educação. Ele queria informação sobre o que estava ocorrendo nessa área, que eu tive o prazer de fornecer.
No meu terceiro encontro com o Rebe, que ocorreu no final dos anos 70, eu tinha sido o diretor geral do ministério durante algum tempo. Um dia, um jovem Chabad foi ao meu escritório e disse que o Rebe queria me ver. Assim, na minha próxima viagem à América , aceitei a oportunidade e fui visitá-lo. O encontro foi muito comovente; já conhecíamos um ao outro. Quando entrei, ele sorriu como um velho amigo, se posso dizer assim, o que me deixou à vontade. Eu também já tinha me acostumado com o horário tardio desses encontros.
Naqueles dias, as drogas estavam se tornando um problema para nós, e era sobre isso que ele queria conversar. Na maior parte, era haxixe, e também algumas pílulas. Elas estavam sendo importadas de além das fronteiras do Líbano e Egito, e mais tarde começaram a chegar da América do Sul, também. Uma vez no país, elas estavam sendo colocadas nas escolas.
O Rebe bateu na mesa e disse: “Estou preocupado de que haja drogas no seu sistema escolar e quero discutir com você o que podemos fazer juntos para acabar com isso.”
Ele estava particularmente preocupado com o exército. “Os árabes estão tentando empurrar drogas na FDI,” ele avisou, e enfatizou que tínhamos de assegurar que jovens israelenses fossem devidamente dissuadidos de usar drogas antes de entrar no exército. “Se não superarmos essa praga,” ele declarou, “estou preocupado de que estejamos colocando a segurança de Israel em risco.”
Eu estava totalmente de acordo. Descrevi para ele o que exatamente estava ocorrendo e o que estávamos fazendo a respeito, mas ele sentiu que não era o suficiente. Também descrevi um comitê interdepartamental que tinha sido formado, juntando vários ministérios sobre o problema, para que a polícia pudesse colocar pressão nos propulsores, e as organizações de bem estar iriam identificar famílias em necessidade, enquanto nós na educação explicávamos os riscos de usar drogas para a geração mais jovem – o que ele aprovou.
Ele pediu-me para continuar a fazer o meu melhor nesta batalha quando eu voltasse para casa, e então retornar para relatar a ele. Infelizmente, o encontro posterior jamais ocorreu, mas parecia que, além do ministro sob o qual eu estava trabalhando, Zevulun Hammer, eu tinha uma espécie de super-ministro que também queria ouvir meus relatos.
Eu tinha a sensação de que ele estava realmente interessado na educação de cada criança no sistema. Ele estava preocupado sobre o ensino, sobre aprendizagem, sobre comportamento e ele queria me usar como fonte de informação e um canal de influência. Ele estava dizendo: eu quero lutar contra as drogas – por meio de você; quero educar os professores – através de você.
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