Desde o dia em que fui recrutado em1951, pertencia à ala de inteligência das FDI. Tendo nascido e crescido no pré-estado Jerusalém, eu falava árabe, portanto comecei a lidar com agentes e informantes árabes. A partir dali, subi na hierarquia, e terminei meu serviço com o posto de general major. Em 1979, tornei-me chefe da Aman, a diretoria militar de inteligência de Israel.

Durante este tempo, conheci o Rabino Shlomo Maidanchik, o prefeito de Kfar Chabad, e a partir da primeira vez que nos encontramos, eu senti que tínhamos muito em comum.

Como chefe de inteligência, eu vi que nossos jovens soldados estavam carecendo de Judaísmo, especialmente nas festas judaicas, portanto tomei vantagem deste relacionamento. Havia uma série de pequenas bases em todo o país sob meu comando, cada uma entre dez e trinta e cinco soldados, e eu pensei que eles tinham de ser capazes de rezar ou fazer algo durante os feriados.

Recorri a Chabad para obter ajuda na execução desses serviços e consegui. Ninguém era obrigado a ir à sinagoga em sua base, é claro, mas a maioria dos soldados preferia ir lá nas festas do que ficar em seu quartel.

Alguns na hierarquia da FDI não estavam ansiosos de que pessoas religiosas entrassem nas bases, mas para mim foi revigorante. Achei muito importante, e até ajudou a manter os soldados prontos para o combate. Este foi o começo, se assim posso dizer, da chegada de Chabad às bases da FDI.

Ser chefe de inteligência era um cargo muito importante: eu era responsável por avaliar decisões de importância nacional, como ir ou não à guerra, e fornecer essa análise ao governo. Também compartilhávamos nossos pontos de vista com os americanos, e às vezes eu ia para os Estados Unidos. Durante essas viagens, eu costumava ficar com o meu cunhado em Long Island.

Rabi Maidanchik me pediu o endereço de meu cunhado, e no dia seguinte ao meu desembarque, um Chabadnik veio perguntou se ele poderia marcar um encontro para eu conhecer o Rebe.

Quando chegou o momento, o homem veio me buscar e me levou até Crown Heights. Na sinagoga do Rebe, vi uma fila de pessoas esperando do lado de fora da pequena sala onde o Rebe passava seus dias, mas não tivemos de esperar muito para que eu pudesse entrar.

Eu nunca tinha visto o Rebe antes, portanto fiquei muito quieto e não falei nada. Apesar disso, tivemos uma conversa agradável – o Rebe me fez perguntas e eu tentei respondê-las. Fiquei surpreso sobre como o Rebe estava bem informado sobre a situação em Israel, com todas às nuances e pequenos detalhes. Ou ele estava sendo iinformado regularmente, ou estava lendo vários jornais todos os dias sobre o que estava acontecendo em Israel. Eu costumava passar dez horas lendo todos os dias para me manter atualizado, e não sei como ele teria tido tempo para isso.

Ele sabia exatamente o que estávamos fazendo em Chevron, por exemplo, bem como todos os atritos entre os vários partidos políticos. Ele era um forasteiro, não um membro do Likud ou de qualquer outro partido, mas conhecia a situação da terra como um informante.

O Rebe perguntou-me o que eu pensava sobre as várias ameaças enfrentadas por Israel – se a Siria poderia lançar outro ataque, por exemplo, e se seríamos capazes de permanecer firmes diante da pressão para fazer mais e mais concessões aos palestinos.

Ele alertou que não deveríamos dar nenhuma terra aos palestinos, porque é a terra da nação judaica, e temos de mantê-la. Israel é um país muito inovador e capaz, mas também somos muito sensíveis à pressão política externa, então entendi que o Rebe estava me dizendo que tínhamos de resistir a essa pressão, de modo a deixar intocada a herança do povo de Israel.

Em 1983, fui forçado a deixar o exército, após o incidente Sabra e Shatila, quando cristãos maronitas mataram palestinos morando no Israel controlado pelo Líbano. A Comissão Kahn, que foi formada para investigar este massacre, me responsabilizou por não avisar que algo assim aconteceria. A acusação em si era absurda, pois todos sabiam que aquelas pessoas eram assassinas; o comando militar não precisava que eu lhes dissesse. De repente, trinta e dois anos de serviço foram interrompidos, e eu tive de partir. Não é fácil para mim falar sobre este capítulo.

Na noite em que renunciei, eu estava em meu escritório em Tel Aviv, terminando todas as coisas que ainda estavam em minha mesa. Por volta das 22h, Maidanchik entrou, com uma bênção do Rebe.

“Você não precisa se preocupar,” ele me disse. “Por favor D'us, tudo ficará melhor mais tarde.” Aqueles últimos momentos em meu escritório no Quartel-General do Estado-Maior permaneceram comigo permaneceram comigo desde então.

Alguns anos se passaram e me envolvi na política. Fui eleito prefeito de Bat Yam, e depois para o Knesset.

Um dia, tive que viajar para Washington e, mais uma vez, Maidanchik me interceptou no caminho. Concordei novamente em ir até o Rebe – dessa vez eu iria com minha esposa e como um membro do Knesset.

Dez anos se passaram desde meu primeiro encontro, mas quando chegamos ao Rebe, ele retomou à discussão de onde havíamos parado. Achei incrível que ele ainda se lembrasse de mim.

Embora eu tivesse parado de servir ao exército como major general e chefe da inteligência militar, ele disse, eu não tinha perdido a habilidade de causar um impacto positivo.

“Todas as coisas boas devem continuar depois de iniciadas,” ele disse. “Mesmo que algo tenha chegado ao fim oficial... você definitivamente tem a habilidade de continuar a beneficiar as pessoas que vivem na Terra Sant em questões de santidade.” Eu tinha que continuar com a mesma energia e a mesma vontade de antes.

Por volta dessa época, comecei a pensar em deixar a vida política, talvez a política não fosse minha praia. Mas eu entendi pelo Rebe que eu deveria segurar e não deixar meu posto.

Lutei em todas as guerras de Israel desde a Campanha do Sinai até a Guerra do Líbano, e toda vez que você vai à guerra, está arriscando sua vida ou a vida de outros. Então, você precisa de algo espiritual para ajudá-lo a manter-se firme. E para mim, foram aqueles encontros com o Rebe.

Mantive muitas reuniões ao longo dos anos com líderes mundiais: sentei-me com o Presidente Carter, bem como com o Primeiro Ministro Begin e o Presidente Reagan no Salão Oval. Lembro-me de discutir com Reagan sobre se poderíamos tirar fotos de reconhecimento aéreo, mas não lembro uma palavra do que ele disse. Encontrar o Rebe, no entanto, é algo que vou guardar com estima por toda a minha vida.