Num certo sentido, meu primeiro encontro com o Rebe foi em minha casa.Fui conhecer Lubavitch porque meu pai, Dr. Yosef Slavin, tinha se tornado amigo do Rebe. Ele primeiro encontrou o Rebe em 1947 em Paris, e foi quando o Rebe estava reunido ali com sua mãe depois que ela escapou da União Soviética. Havia algo naquela cena que foi profundamente emocional para meu pai. “A partir daquele momento,” ele dizia, “eu era do Rebe.” Enquanto crescia, eu sabia que toda decisão de vida dos meus pais era tomada após consultar, e receber uma bênção, do Rebe.

Quando chegou a época de eu começar a conhecer jovens com o objetivo de casamento, não foi diferente. Meus pais nunca quiseram que minha escolha fosse influenciada por outra coisa exceto meus próprios sentimentos, mas sem que eu soubesse, meu pai ia consultar o Rebe antes que eles concordassem com um candidato.

Um dia, meu pai recebeu um telefonema de um amigo próximo chamado Heishke Gansbourg. Ele tinha passado um Shabat na Universidade de Princeton, e foi indicado para ir ao quarto de um certo aluno para dormir. O aluno estava fora, mas após olhar os livros no quarto – volumes do Talmud e chassidut , junto com obras de matemática, física, teologia e filosofia – Heishke resolveu encontrá-lo e convidá-lo para ir à sua casa. Quando sua esposa Rashke conheceu este jovem, um estudante chamado Guedalia Shaffer, ela pensou que ele seria um bom parceiro para mim. “Acabamos de encontrar o marido para Bronya!” ela exclamou.

Logo nos conhecemos e eu nunca havia encontrado alguém como ele! Admirei e respeitei Guedalia tremendamente, mas quando ele falou sobre casamento, logo me senti insegura. Uma noite, uma semana antes de Pêssach, eu disse ao meu jovem pretendente que eu precisava de tempo e espaço para pensar. Então voltei para Montreal e me reuni ao meu irmão mais novo. O conselho do meu irmão foi esse: Como meu aniversário estava chegando, eu deveria escrever ao Rebe para pedir uma bênção e para alguma clareza no meu dilema. E foi o que eu fiz.

“Como o Rebe sabe, tenho conhecido este jovem,” eu comecei. Então – e eu lembro disso com algum constrangimento – eu continuei: ‘Embora eu tenha sentimentos tremendamente afetuosos, bem como um grande respeito por ele, não tenho certeza se é amor verdadeiro; se é para sempre.” Eu era jovem e queria ter certeza de que isso não era apenas afeto.

O Rebe respondeu que estar seguro sobre “questões do coração” era muito importante. Ele também sugeriu que poderia ser uma boa ideia nos separar por algum tempo e ver se eu sentia – e aqui o Rebe usou uma palavra que era nova para mim – gaguim, em hebraico, “saudades”.

Isso foi exatamente o que aconteceu -; tivemos aquela conversa intensa pouco antes de ele sair para passar Pêssach com sua família em Boston, e algum tempo depois, eu senti; confessei aos meus pais que eu realmente sentia falta dele. “Então chame-o,” meu pai disse.

Isso foi no ano de 1968. Naquela época, as pessoas achavam inapropriado para uma menina chamar um rapaz, e no mundo religioso, isso não existia. Mas meu pai fez isso parecer a coisa mais natural do mundo. Portanto eu o fiz, e ficamos noivos duas semanas depois.

No decorrer dos meses do nosso namoro, Guedalia falava sobre como ele visualizava sua vida. Naquela época, ele estava escrevendo sua tese de PhD sobre partícula elementar da física., mas seu sonho era passar algum tempo focado em estudar Torá, nunca tendo formalmente aprendido numa yeshivá. A escola Lubavitch que ele tinha frequentado em Boston não tinha realmente uma atmosfera de yeshiva, e depois que ele tinha ido para o MIT, então recebeu duas graduações de mestrado na Universidade de Princeton, antes de continuar com seus estudos para dourorado. Mesmo assim, ele ia para Nova York todo Shabat, e passava os domingos estudando Torá na Yeshivá Mirrer com seu amigo de infância, Menachem Epstein.

Então, decidimos juntos que ele iria passar o próximo ano após nosso casamento estudando o tempo todo num colel. Com seu estipêndio da Fundação Ciência Nacional e meu emprego, poderíamos nos sustentar. Seu conselheiro de tese concordou que ele deveria tirar um ano de folga e que quaisquer exames futuros poderiam ser adiados.

Quando tivemos nossa audiência com o Rebe antes do nosso casamento, como era o costume então, entregamos ao Rebe uma carta sobre nossos planos. Eu lembro de de ver o Rebe ler a carta, e me senti bem: Estávamos fazendo a coisa certa, e plenamente esperamos um tapinha no ombro por isso, metaforicamente falando. Em vez disso, o Rebe olhou para Guedalia e começou a perguntar-lhe sobre sua tese.

Os estudos pré-tese de Guedalia tinham sido em matemática e física, mas seu doutorado era em física. Embora o Rebe soubesse disso, ele fez algumas perguntas somente sobre matemática. Após responder as perguntas, Guedalia acrescentou que seu conselheiro tinha concordado com uma data posterior para a apresentação de sua tese. O Rebe, porém, sugeriu de outra forma; Guedalia deveria fazer seis exames conforme agendados, passar por eles, e então acrescentou: “Faça uma reputação para si mesmo em seu campo.”

Quando saímos, olhamos um para o outro e estávamos realmente intrigados. O Rebe não aprovara Guedalia estudar Torá o tempo todo, e era difícil para ele desistir do seu sonho assim. As perguntas sobre matemática também eram curiosas.

Como se viu, ele não precisou de um dia inteiro para sua tese. Após nosso casamento, ele passava suas manhãs no colel, estudando junto com Rabi Nosson Gurary, e duas vezes por semana ele ia ver seu orientador em Princeton.

A certa altura, seu orientador da tese veio até ele com uma proposta; Havia alguns matemáticos russos trabalhando sobre um problema específico que estava num impasse. “Talvez você queira dar uma olhada nele?” ele perguntou a Guedalia.

Assim Guedalia fez e apreciou o trabalho, e em seguida publicou seus resultados num diário de matemática.

Não muito tempo depois, ocorreu uma tragédia e meu pai foi morto num acidente de carro, e minha mãe se mudou para Nova York com meus irmãos mais novos. Naquela época, tivemos um bebê, e a Fundação Nacional de Ciência não estava mais apoiando alunos de física teórica, e Guedalia teve que arrumar um emprego.

O amigo de Guedalia, Menachem Epstein, trabalhava para uma empresa de computador que estava procurando um programador. “Eu tenho um excelente programador para vocês,” ele disse ao chefe. “Ele apenas tem de estudar computadores. Dê a ele alguns poucos meses, e ele será seu melhor programador.”

Eles deram a ele o emprego baseado nas garantias de seu amigo, mas o que os convenceu foi o ensaio que ele publicou em matemática; eles reconheceram suas extraordinárias habilidades.

Foi a essa altura que seguimos a instrução específica do Rebe de criar uma reputação na sua área. Assumimos que era a publicação deste ensaio que o ajudou a conseguir o emprego, que foi o que manteve nosso sustento durante anos.