Meu sogro, Reb Yankel Katz, era uma pessoa fora do comum, que desfrutava um relacionamento excepcional com o Rebe. Este relacionamento na verdade começou com o Rebe Anterior, quando meu sogro era apenas um menino, morando em torno de Chicago.

Ele me disse que quando tinha sete anos de idade, não gostava de ir à sinagoga com seu pai. Seu pai apesar de ter raízes Lubavitch, usava um longo casaco preto e tinha barba, mas não se considerava um adepto. Na verdade, ele não gostava muito dos chassidim, ou mais fortemente, não gostava da escola de pensamento chassídico. A sinagoga que ele frequentava era repleta de pessoas que eram igualmente opostas a isso. O jovem Yankel Katz, no entanto, era muito atraído pelo chassidismo, e não se sentia à vontade ali.

Portanto, um dia ele caminhou até uma sinagoga que rezava com a liturgia Nussach AriZal – segundo o costume Chabad – e ele gostou. Foi naquela sinagoga que ele ouviu pela primeira vez sobre o Rebe Anterior, Rabi Yossef Yitschac, que ainda não tinha se mudado para os Estados Unidos. Aos oito anos de idade, ele estava enviando cartas para o Rebe na Europa, junto com algum dinheiro para tsedaca e o Rebe sempre respondia. Foi então, ele disse, que começou a ficar muito interessado em Lubavitch.

Foi somente em 1929, porém, que ele finalmente teve uma oportunidade de encontrar o Rebe, que fez uma parada em Chicago enquanto visitava os Estados Unidos naquele ano. E depois o Rebe se mudou permanentemente para os Estados Unidos em 1940, sua conexão com ele, e eventualmente com seu sucessor, Rabi Menachem Mendel, ficou ainda mais forte.

Com frequência, o Rebe não escuta muitas boas notícias; seus seguidores o procuram quando as coisas iam mal. O próprio Rebe certa vez disse ao meu sogro:

“Quando alguém tem problemas, ouço sobre seus problemas; quando há boas notícias, às vezes posso ouvir sobre isso.” Portanto uma das coisas que meu sogro pensava precisar fazer era animar o Rebe com coisas boas.

Para ele, não havia apenas Rebes: ele os via como seus amigos. Costumava dizer-lhe o mesmo: Ele tinha muitos chassidim mas poucos amigos, ele dizia, e via Yankel Katz como um amigo – yedidi, em hebraico.

Ele era também um apoiador muito importante e antigo de Lubavitch, não apenas como um menino de oito anos enviando relatórios de suas mudanças, mas ao longo de toda a sua vida. Após seu falecimento, aprendemos que quando o Rebe Anterior chegou à América , meu sogro lhe deu uma agenda para usar, com vários recados assinados mas sem nenhuma quantia. Até sua família não sabia que ele tinha feito isso – ele simplesmente não falava sobre a caridade que doara.

No entanto, não muito tempo antes de sua morte, ele revelou algo que queria que eu soubesse. Ele disse que em 1940, recebera um chamado do Rebe Anterior, pedindo-lhe para doar uma quantia de dinheiro. Sem questionar para que o dinheiro seria usado, ele enviou a quantia inteira.

Na próxima festa judaica, ele foi a Nova York para passar o Yom Tov na sinagoga do Rebe, que ficava no edifício recém adquirido na Eastern Parkway 770. “Este é o seu edifício,” o Rebe lhe disse. “É sua doação!” Eu não sei qual era a quantia, mas aquele pouco fundou pelo menos parte da compra do 770.

Mas além disso, meu sogro não comentava sobre suas contribuições caridosas. Ele não queria nada em retorno pelas suas doações. Como ele dizia: “Nenhum nome de edifício, nenhuma placa, nenhum jantar, nenhum memorial.” Sua tsedacá não precisava de reconhecimento especial; valia por si mesma.

Tive algumas experiências interessantes com o Rebe, Rabi Menachem Mendel Schneerson, incluindo uma que também diz respeito à tsedacá. Eu estava no Japão a negócios e Reb Yankel deve ter mencionado ao Rebe que eu estaria em Tóquio. Antes do Shabat, recebi um telefonema no meu hotel, de Rabi Berel Levy da OK, a agência de certificação casher.

“Este é Berel Levy,” ouvi quando peguei o telefone.

“Você sabe quem eu sou?”

“Sim, eu sei,” respondi. Nós encontramos brevemente há alguns anos.

“Estou nas Filipinas em questões de supervisão casher, e estarei aqui para o Shabat, mas o Rebe pediu para eu chamar você,” ele começou, antes de ir direto ao assunto.

“Ele está muito preocupado. A comunidade judaica de Tóquio está planejando construir uma nova sinagoga e há alguma discordância entre os membros sobre se eles irão incluir um micvê no novo edifício.

“O Rebe sabe que você está em Tóquio e que provavelmente irá à sinagoga para o Shabat. Enquanto você estiver ali, provavelmente vai fazer uma doação, e o Rebe disse que ele deseja partilhar com você em sua tsedacá. Ele está pedindo a você para deixar claro que sua doação é para o novo micvê, e para escrever uma carta à comunidade sobre a importância da mitsvá do micvê, dizendo que sua contribuição está sendo feita em parceria com o Rebe.

É claro, fiz como ele pediu, e escrevi uma carta sobre minha doação para o micvê de Tóquio, em inglês. Pedi que a carta fosse colocada em algum local publicamente no edifício, e quando voltei no domingo ou na segunda, vi que ali estava.

Depois que retornei para casa, não pensei muito na viagem. Passaram-se uns poucos meses, e recebi um chamado no meu escritório em Washington, DC., que então ficava localizado na Avenida Pensilvânia, 1700, pouco abaixo na rua da Casa Branca, de alguém que disse estar na cidade.

Ele explicou que tinha acabado de ir a uma reunião na Casa Branca e queria me ver. “O Rebe deve dinheiro a você,” ele disse.

Quando ele chegou ao escritório, o homem deu-me uma nota de cem dólares e uma explicação: “O Rebe disse que você doou alguma tsedacá em Tóquio, e esta é sua parte.”

Foi assim que certa vez eu dei tsedacá em parceria com o Rebe. Não sei que tipo de impacto minha carta teve, mas soube que hoje há um micvê em Tóquio.