Meu avô chegou aos Estado Unidos em 1910. Ele pertencia ao grupo Chassídico Karlin e originalmente vinha de uma cidade chamada Blezov, na Rússia, que é como minha família formou seu sobrenome. Como ele conseguiu permanecer um judeu religioso mesmo após chegar aos Estados Unidos é uma história por si mesma.

Ele conheceu e se casou com minha avó, que também era de ascendência chassídica, e quando meu pai nasceu em 1921, eles o chamaram de Shneur Zalman em homenagem ao avô. Seus pais o enviaram a Torah Vodaas, que era uma yeshivá religiosa no estilo lituano, pois havia somente poucas opções disponíveis a eles em Nova York na época. Todo dia ele passava sobre a Ponte Williamsburg, do lado Leste de Manhattan até a yeshivá, e foi ali que ele conheceu o Malach – “o anjo”.

O Malach era um apelido de Rabi Avrohom Dovber Levine. Ele era originalmente uma figura respeitada dentro da comunidade Chabad na Rússia, mas se afastou antes de ir para os Estados Unidos nos anos 20. Durante algum tempo, ele ensinou alguns dos alunos da yeshivá de Torah Vodaas, atraindo alguns seguidores entre eles. Enquanto alguns dos seus colegas se assimilavam e paravam de guardar o Shabat, os alunos de Rabi Levine permaneciam muito observantes. Começaram a vestir-se num estilo distintamente chassídico, com longas peyot, casacos longos, com as abas dos chapéus voltadas para cima. Tudo isso não era usual na América na época; normalmente as pessoas usavam ternos e fedoras com a orla para baixo; e assim as pessoas começaram a chamá-los Malachim” – os anjos. Depois que Rabi Levin faleceu em 1938, eles continuaram juntos.

Meu pai permaneceu em seu pequeno grupo chassídico, ou como nós o chamávamos, a “gangue”. Eles conseguiram um edifício para eles mesmos, com espaço para uma yeshivá e uma pequena sinagoga – um shtiebel – em Williamsburg, Quando ele se casou com minha mãe em 1941 e iniciou uma família, era totalmente um Malach. Ele ia para aquela shtiebel, e tinha o costume de ficar ali até tarde nas noites de quinta-feira, estudando Torá.

É quando o Rebe entra em cena. Na época em que eu nasci, em 1951, o Rebe tinha assumido o lugar de seu sogro como líder do movimento. Numa quinta-feira à noite no verão daquele ano, o Rebe foi até a sala do estúdio no 770 de Crown Heights, e fez uma declaração.

“Há uma sinagoga em Williamsburg,” ele começou sem falar com ninguém em particular. “É chamada Nesivos Olam. Sentados ali estão alguns jovens, e seria muito bom aproximá-los dos ensinamentos da Chassidut Chabad.” E então ele se virou e foi para casa.

Havia apenas alguns chassidim presentes na ocasião e eles começaram a debater sobre o que fazer. Nunca tinham ouvido falar de uma sinagoga com aquele nome, e já era após as 10 da noite portanto pensaram que a sinagoga já estaria fechada. Somente sei o nome de três pessoas que estavam ali, das quais uma era Rabi Moshe Dubinsky, que era conhecido como sendo um verdadeiro chassid.

“Se o Rebe disse que deveríamos ir, então temos de ir agora,” ele declarou.

Com isso, ele convenceu os outros. Todos pegaram o ônibus B44, direto para Williamsburg, desceram, e começaram a perguntar ao redor:

“Nesivas Olam? Sabe onde fica Nesivas Olam?”

Uma sinagoga chamada Nesivas Olam? Ninguém tinha ouvido falar. Após perguntar para mais algumas pessoas, e ainda nada de resposta, eles estavam prontos para desistir. Mas pouco antes de voltarem ao ponto de ônibus, eles pararam mais um judeu na rua: “Senhor, por acaso sabe onde é a sinagoga Nesivas Olam?”

“Nesivas Olam? Querem dizer a shtiebel Malachim?”

Ocorre que o nome oficial daquela shtiebel era Nesivos Olam. Ninguém a chamava disso, mas era o que eles estavam procurando.

“Fica na Rua Hewes, entre Marcy e Lee. Se vocês virem um prédio com as luzes acesas, é a shtiebel Malachim, mas se não puderem encontrar, significa que já está fechada para a noite.”

As luzes estavam acesas. Entraram e encontraram meu pai sentado ali estudando Torá, como era seu costume nas noites de quinta-feira. Iniciaram uma conversa e ficaram falando, argumentando, e debatendo Torá e conceitos chassídicos durante algumas horas. Quando chegou o momento de ir embora, eles pensaram que era o fim daquilo.

Mas somente algumas horas depois, um dos estudantes do grupo, Moshê Gurkov, entrou no 770 para o estudo matinal que começava às 8 da manhã. Quando ele passou pelas portas do salão de estudos, viu um homem sentado ali – era o sujeito da noite anterior.

“Shalom ALeichem, ele cumprimentou. “O que está fazendo aqui?”

“Nós estávamos no meio de uma conversa. Eu gostaria de continuar,” respondeu meu pai, e o restante é história.

Então foi assim como meu pai – e todos os seus descendentes – se tornaram Lubavitchers. Ele não era o único da gangue que vinha, mas era aquele que quebrava o gelo. E tudo aquilo era o resultado direto do anúncio que o Rebe fizera naquela quinta-feira em particular, e a iniciativa que alguns de seus jovens chassidim iriam seguir adiante.