Ao anoitecer após Yom Kipur de 1963, pedi à mulher que se tornaria minha esposa para casar-se comigo. Seu nome era Golda Katz, e ela vinha de Chicago.
Fomos apresentados mais cedo naquele ano e após alguns poucos meses eu estava pronto para pedi-la em casamento. Eu tinha acabado de me formar na Faculdade de Direito da Universidade de Nova York, feito o exame – na época, estava esperando pelos resultados – e comecei a trabalhar como advogado em Washington, D.C., com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos.
É claro, chamamos os pais de Golda para contar-lhes as boas notícias. Sua mãe ficou muito feliz e nos felicitou e então seu pai conversou comigo. Ele saudou-me calorosamente, mas eu percebi que ele não dizia Mazal Tov, e entendi que havia algo a mais sobre isso.
“Tenho certeza de que ele vai querer que você encontre o Rebe de Lubavitch antes que ele sequer possa considerar-nos casando,” Golda explicou.
Golda jea havia mencionado que seu pai, Yankel Katz, era um chassid e apoiador de Lubavitch e que ele tinha uma conexão muito forte com o Rebe. Então, embora nós pensássemos estar noivos, meu futuro sogro não via dessa forma. “Olhe,” ele me disse, “você tem realmente de se encontrar primeiro com o Rebe.”
Tendo crescido em Crown Heights, Brooklyn, eu tinha visto o Rebe muitas vezes. Eu frequentava uma escola pública local, e a tarde, estudava na Yeshivá Chaim Yossef que não ficava longe do 770. Portanto eu tinha rezado ali muitas vezes e tinha visto o Rebe, mas nunca tinha feito qualquer conexão direta com ele.
Uma semana depois, durante chol hamoed [dias intermediários] de Sucot, nós – Golda, sua mãe e eu – estávamos esperando na Eastern Parkway fora do 770, enquanto seu pai estava lá dentro com o Rebe. Já passava da meia noite quando ele saiu e disse-me que o Rebe queria me ver.
O pai de Golda tinha me dado instruções antes. “Permaneça de pé enquanto estiver no escritório do Rebe e não aperte sua mão. Este não é o costume.” Mas quando entrei, o Rebe se levantou, apertou minha mão e pediu-me para sentar.
Ele me saudou com um sorriso gigantesco em sua face, que percebi que era para me deixar mais à vontade. Mas é claro, eu não estava. Ficar na sala com o Rebe era intimidante para mim, especialmente quando percebi que era uma entrevista. O pai de Golda tinha pedido a ele para conversar comigo e sentir se eu era adequado para sua filha. Ele olhou para meu sogro e fez um aceno para que ele saísse.
Antes que eu percebesse, estava sozinho com o Rebe. As primeiras palavras que ele falou eram em inglês: ‘Você fala Yidiche?”
Eu falava, mas meu inglês era melhor. “Tudo bem, então falarei com você em Yidiche, e você pode falar em inglês,” ele propôs. “Se você não entender uma palavra que eu diga, vou traduzir, mas não hesite em dizer-me se não entender.”
O Rebe queria saber tudo sobre minha vida. Contei a ele sobre meu crescimento em Crown Heights, e mencionei que minha mãe infelizmente tinha ficado enfêrma com esclerose múltipla enquanto eu estava crescendo.
Ele estava muito interessado nos detalhes da doença da minha mãe, se sua fala ou visão estavam afetadas, sobre outras restrições que ela passava, bem como qual foi o diagnóstico inicial. Esclerose múltipla é uma doença que afeta as pessoas de muitas formas diferentes, e acredito que o Rebe estava tentando aprender o máximo que pudesse sobre isso, pois ele tinha contato com outros que sofriam da doença.
“E o que você faz para ganhar a vida?” ele perguntou.
Quando respondi que era advogado no Departamento de Justiça, ele perguntou se eu já tinha conhecido o advogado chefe. Na verdade eu tinha. Após ser entrevistado para o cargo no Departamento de Justiça, recebi um telefonema de alguém alegando ser o advogado geral, oferecendo-me um emprego. Eu estava certo de que era um dos meus amigos – eles fingiam bem, e um deles dizia ser Kennedy.
“OK,” eu disse, “vamos parar com a brincadeira. Por que está me passando um trote?”
A voz no telefone respondeu: “Ok, vou lhe dar meu número de telefone em Washington e você pode ligar-me de volta?”
Em qualquer evento, aquele era como se eu estivesse recebendo uma oferta para um cargo no Departamento de Justiça pelo Advogado Chefe Robert Kennedy. Seu irmão, Presidente John F. Kennedy, ainda estava vivo na época.
Eu não contei nada disso ao Rebe, mas eu lembrava de um encontro que tive certa vez no escritório de Robert Kennedy numa sexta-feira à tarde. Estava ficando tarde e ele queria continuar, mas eu disse: “Desculpe, mas eu observo o Shabat e realmente tenho de chegar em casa antes que o Shabat comece.”
“Tudo está perfeitamente bem,” ele me assegurou. “Podemos nos encontrar amanhã?”
Respondo que não, porque ainda seria Shabat.
O Sr. Kennedy desculpou-se, e então sugeri que poderíamos nos encontrar a qualquer hora no domingo.
“Bem,” ele respondeu. “este é o meu dia de descanso. Por que não nos encontramos na segunda-feira?”
Contei essa história ao Rebe e ele sorriu, Obviamente, o Departamento de Justiça era muito importante, particularmente porque certas questões envolvendo religião caem sob sua esfera de ação, e penso que ele estava preocupado sobre sua atitude rumo a essas questões. O fato de que o Advogado Geral Kennedy entendia sobre observância religiosa e era capaz de lidar com isso numa boa maneira pareceu significativo ao Rebe.
“Seu pai é o senador de Illinois, Paul Douglas?”, o Rebe perguntou. Fiquei surpreso por ele saber disso.
Eu estava ainda mais surpreso pelo conhecimento do Rebe sobre a cena política em Washington. O Rebe estava muito bem informado daquilo que estava acontecendo e falamos extensivamente sobre isso. Ele queria saber o tipo específico de trabalho que eu estava fazendo, se eu era capaz de ir à corte, meus contatos com Robert Kennedy, e assim por diante.
“Olhe,” eu expliquei, “sou realmente um advogado novo – ainda estou esperando para saber se passei no teste!” Então o Rebe sorriu, mas não disse nada. (No dia seguinte o jornal The New York Times publicou uma lista de quem tinha passado no Exame New York Bar e felizmente, eu estava ali.)
Enquanto falávamos, não havia nada que fosse mais relevante ao Rebe exceto conversar comigo. Seu pensamento era amplo, sem qualquer interrupção, o que era surpreendente para mim.
O Rebe aconselhou-me a reservar um tempo regular para o estudo de Tora: “Não importa quanto tempo,” ele me disse, “você deveria separar um tempo e deixá-lo reservado, para saber que está indo aprender.”
Finalmente, ele falou comigo sobre Golda, e então ele levantou-se e estendeu a mão. “Siz a gute shiduch” [é um bom shiduch], Mazal Tov!”
Para mim pareceu que a entrevista durara apenas uns poucos minutos mas quando saí, meu sogro estava suando – ele não tinha ideia por que estava demorando tanto. Ele veio correndo, e então teve alguns poucos momentos com o Rebe.
Eu disse à minha esposa e sua mãe que o Rebe tinha dito ‘ Mazal Tov’ ,portanto acho que estava tudo certo para casarmos.
Então, ouvi oficialmente de meu sogro:
“Mazal Tov!”
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