Quando fiquei noiva em 1971, estava muito preocupada. Eu era dedicada ao meu marido, que tinha recentemente se tornado religioso e era muito empenhado no estudo de Torá. Reuven era tudo que eu queria, e eu o teria acompanhado a qualquer lugar.

Mas eu sabia que enquanto minha família inteira era ortodoxa, meus sogros em Detroit eram conservadores e não muito observantes. Eu era formada na Beit Yaakov, uma escola religiosa para meninas, e não tinha tido contato com muitas pessoas seculares. Agora eu estava esperando construir um lar judaico, e me sentia preocupada de que isso levasse à tensão entre nós. Eu queria ser bem recebida pela minha sogra e era importante para mim ter um relacionamento próximo com ela, mas eu também tinha minhas dúvidas: “O que acontecerá quando ela começar a questionar nossa maneira de fazer as coisas?” Eu pensava comigo mesma. “Quero ser eu quem decide as escolhas em nossa vida e em nosso lar!”

Então, quando meu marido e eu tivemos a oportunidade de nos encontrar privadamente com o Rebe antes do nosso casamento, essa era a principal questão sobre a qual eu queria conversar com ele.

Antes de irmos, um amigo do meu marido da yeshivá nos contou sobre a grandeza do Rebe. Eu estava nervosa com a expectativa de nossa audiência particular, mas as coisas que ele estava dizendo sobre o Rebe me pareceram muito elevadas.

“Por que você está dizendo que não há ninguém como o Rebe?” eu protestei ao amigo de meu marido. “Eu me correspondi com o Rebe, tenho enorme respeito pelo Rebe, e minha família está envolvida com Lubavitch. Mas há muitos grandes líderes e sábios judeus.” É um tanto constrangedor admitir isso, mas entrei na sala com um chip no meu ombro. Na minha mente, eu era igual, “Sabe, as pessoas contam impressões maravilhosas sobre o Rebe – mas quero ver por mim mesma.”

Quando finalmente entramos, o Rebe foi muito respeitoso. Ele pediu para sentarmos, e fizemos isso. Somente mais tarde eu aprendi que um bom chassid não se senta na presença do Rebe.

A coisa que mais permaneceu na minha memória foi algo que eu jamais tinha sentido antes na minha vida. Não sou uma pessoa muito calma mas, apesar de todas as reservas com que eu tinha entrado no escritório do Rebe, quando cheguei naquela sala, uma calma reinou sobre mim. A paz que senti naquele local foi marcante. O Rebe era muito atencioso. Ele sorriu e fez-me sentir como se ele não tivesse nada mais a fazer exceto conversar conosco.

Falamos sobre nosso casamento que estava chegando, mas meu marido tratou o Rebe com tamanho respeito que ele mal conseguia pronunciar alguma coisa. Comecei a sentir que o encontro estava chegando ao fim, que o objetivo total da minha visita não iria acontecer.

Então, encontrei alguma coragem e falei: “Desculpe-me, Rebe, posso lhe perguntar algo?”

“Fique à vontade,” ele respondeu.

“O senhor tem algum conselho para mim?” Tentei explicar sobre o que eu estava tão preocupada, e comecei a perguntar a ele sobre meu novo casamento dentro dessa família que era tão diferente da minha, e sobre ter uma sogra que era conservadora.

Não me lembro das palavras exatas, àquela altura o Rebe começou a dizer algo sobre manter-se casher, implicando que esse poderia ser um desafio quando visitava meus sogros.

Mas eu não estava preocupada com isso. Meus sogros realmente são pessoas maravilhosas, portanto embora não fossem familiarizados com muitos dos detalhes de cashrut, eles respeitavam nossas escolhas. Quando fui a Detroit para a festa de noivado, eles asseguraram de conseguir somente comida casher, e colocaram pratos e talheres descartáveis, em respeito. Minha sogra aprendeu sobre quais produtos eram casher, assegurou de comprar coisas com um símbolo casher, e foi muito reconfortante. Portanto tudo estava bem a esse respeito.

“Oh, não,” eu exclamei, interrompendo o Rebe. “Casher não vai ser um problema.” Eu queria ouvir sobre as outras questões que iriam surgir. O que digo para deixar claro que quero manter um lar judaico ortodoxo? E como faço isso sem deixá-la de fora?

O Rebe olhou-me assim como olhamos para uma criança pequena que é esperta, mas ainda precisa aprender muito sobre o mundo. E então ele disse algo que mudou toda a minha perspectiva:

“Talvez quando você tornar-se mãe, você irá entender o que é não ser capaz de alimentar seu próprio filho.”

Ora, o Rebe era um justo e um erudito de Torá, mas ele também entendia exatamente o tipo de pessoa que eu era. Ele estava me perguntando: “Por que você está olhando para sua sogra como uma inimiga? Ela também ama o homem com quem você está casando; ele é filho dela. Tente olhar para isso sob o ponto de vista dela.”

Colocar a questão daquela maneira fez-me reexaminar o exemplo que eu tinha tido com minha sogra. Em vez de ser combativa, eu trabalhava para entender o outro lado das coisas; ver de onde ela estava vindo.

Mais tarde, moramos perto dela em Detroit e eu sempre me esforçava para ser sensível aos sentimentos dela. Eu discutia coisas com ela, a recebia, e mesmo quando era difícil, ficávamos de fora. Eu e meu marido sempre nos esforçamos para causar uma boa impressão sobre judeus ortodoxos, sempre vestíamos as crianças impecavelmente. Todo domingo ela nos levava a um restaurante casher, e não importava nossos compromissos ou o que estivesse acontecendo, nunca cancelamos. E tudo isso levou a resultados maravilhosos para todos nós. Tínhamos um ótimo relacionamento e minha sogra se tornou uma das minhas melhores amigas.

Mais tarde, quando nosso filhos estavam crescendo, ela declarou: “Você sabe, sua maneira de ser possui muita verdade. Muitos dos filhos de meus amigos não têm princípios ou respeito, mas olhe no que nossos netos estão se tornando. Certamente há algo na Torá e em seu estilo de vida.”

Com o tempo, eles começaram a apreciar a beleza da observância judaica, e se tornaram grandes apoiadores de várias organizações caridosas que eram dirigidas pela comunidade ortodoxa em Detroit. Temos algum crédito por aquilo, e foi o Rebe que nos ajudou a encontrar o caminho e o equilíbrio correto.

Agora o conselho que dou é que na próxima vez que você se encontrar lidando com alguém que faz as coisas diferentemente de você, ou até discorda de você, tente não se tornar defensivo. Trabalhe para entender de onde estão vindo. Fique aberto a eles, e eles estarão abertos a você também. E isso vale para qualquer pessoa que você encontrar na vida.