Eu tinha onze anos de idade quando minha família emigrou do Marrocos para Israel. Meu pai tinha falecido três anos antes, e apesar do seu intenso desejo de habitar na Terra Santa, ele não conseguiu realizar seu sonho.

Chegamos em Haifa de barco, e dali fomos enviados para um acampamento temporário em Ashkelon. Logo depois que chegamos ali, saí para ajudar a ganhar dinheiro que minha família tanto precisava. Eu ficava na frente do mercado local com dois baldes de gelo e suco de frutas tentando vender minha mercadoria.

Certo dia, o Rabino Yisrel Leibov, diretor da Organização Chabad para Jovens, chegou e viu este menino com uma kipá trabalhando tão duramente. Ele sentiu pena de mim, e esperou até eu terminar, então ele me acompanhou até a minha casa, que era o acampamento.

Ele convenceu meu irmão mais velho Nissim, que agia como chefe da nossa família, que eu e meu outro irmão Yaakov deveríamos ser matriculados numa academia de Torá em Lod, e foi assim que começou minha conexão com Chabad.

Em 1961, após eu ter estudado em Lod durante seis anos, Rabi Mordechai Levin – que era o diretor da escola vocacional em Kfar Chabad – foi lá e me recrutou para sua escola, Beit Sefer Lemelachá. Essa escola, que tinha sido fundada pelo Rebe seis anos atrás, tinha sido alvo de um ataque terrorista em 1956, com um professor e cinco alunos mortos e outros dez feridos. Desde aquela época, a escola tinha se expandido muito sob a direção do Rebe, e embora a princípio eu pensasse que minha estadia em Kfar Chabad seria breve – de apenas algumas semanas – foi um compromisso que durou trinta e cinco anos. Na verdade, tenho dedicado minha vida àquela escola vocacional, devendo muito à orientação que recebi do Rebe no decorrer dos anos.

Em 1966 fui a Nova York pela primeira vez para ver o Rebe junto com meus colegas de classe da yeshivá de Lod. Eles ficariam ali por seis meses para estudar em Nova York e eu realmente queria me juntar a eles, mas o Rebe deixou claro que eu deveria voltar para Israel. Obviamente, ele entendia que minha missão de vida era trabalhar para Beit Sefer Lemelachá, e foi o que terminei fazendo – mas como conselheiro e professor.

Em 1970, casei-me. Minha esposa era da Inglaterra e o casamento ocorreu ali, mas depois, fomos para Nova York e tivemos uma audiência privada com o Rebe. Naquela época, meu sogro, Rabino Yechezkel Unsdorfer, escreveu uma longa carta ao Rebe, pedindo a ele que me instruísse a deixar minha responsabilidade como conselheiro da escola vocacional e apenas me concentrasse em ensinar Torá.

Quando entramos para a audiência com o Rebe, entreguei-lhe essa carta mas, na hora, antes mesmo do Rebe sequer ter lido a carta, ele me abençoou dizendo: “Você vai superar todos os obstáculos, tanto internos como externos, e continuar a educar, e com enorme sucesso.”

No decorrer dos anos, eu com frequência escrevia ao Rebe, relatando o que estava acontecendo na escola vocacional e sobre meu trabalho com os alunos, e tive o privilégio de receber dele muitas respostas encorajadoras.

A escola tinha sido fundada pelo Rebe no início da sua liderança de Chabad – apenas quatro anos após ele assumir seu cargo como Rebe – e seu interesse especial em todo detalhe dessa instituição é bem conhecido, como se pode discernir prontamente ao ler as muitas cartas sobre a escola Beit Sefer Lemelachá que foram publicadas.

Em 1974, visitei o Rebe e preparei com antecedência algumas poucas perguntas sobre meu trabalho, incluindo uma questão sugerida pelo Rabino Yeshaya Gopin, que era o diretor na época, como poderíamos promover melhor a escola para atrair estudantes de nível.

A resposta do Rebe foi que não havia necessidade de qualquer anúncio especial, pois empregando excelentes educadores, nós iríamos atrair automaticamente excelentes alunos. Ele disse que se eu fizesse isso, iríamos dobrar nossas matrículas. (Naquela época, já tínhamos mais de 500 alunos na instituição.)

“Portanto você não precisa discutir com professores desejáveis sobre seus salários,” ele disse, “porque eles irão trazer mais estudantes, que irão aumentar automaticamente sua renda.”

O aviso geral do Rebe para nós era tratar nossos alunos da mesma forma que aqueles que frequentam yeshivot Chabad. Ele enfatizou que não deveria haver diferença entre como os educadores se relacionam com um aluno na escola vocacional e um estudante numa yeshivá.

Quando pedi sua orientação sobre estudantes difíceis, o Rebe respondeu que não se pode fazer uma regra geral, pois isso depende muito da personalidade dos indivíduos envolvidos. Ele recomendou perguntar a outras escolas sobre suas estratégias e aprender com suas experiências.

Entre outras coisas, escrevi ao Rebe sobre a pesada carga de trabalho que os conselheiros da escola têm, e mencionei que um conselheiro que deseja fazer o seu trabalho bem e com dedicação deve estar ali da manhã até a noite. O Rebe respondeu que embora contratar mais conselheiros significava gastar mais dinheiro, era algo bom a fazer pois – assim como contratar os melhores professores – isso iria aumentar o número de alunos. Além disso, ele aconselhou que dividíssemos as responsabilidades entre dois conselheiros – um que estaria presente durante o dia, e um presente à noite. “Não há necessidade de um conselheiro ser responsável pelo horário do dia inteiro,” ele disse.

Quando relatei a resposta do Rebe para a administração, fui indagado como isso iria funcionar praticamente – ou seja, qual dos dois conselheiros seria o encarregado?

Sugeri que a intenção do Rebe era que os dois conselheiros iriam sempre estar preocupados com os alunos, mas que haveria uma divisão de trabalho semelhante à divisão de trabalho entre uma mãe e um pai, que são obviamente sempre preocupados com o que seus filhos estão fazendo, embora o verdadeiro trabalho seja dividido entre eles em tempos diferentes.

A administração então escreveu ao Rebe para confirmar que era isso que ele queria, e ele confirmou.

Também visitei o Rebe junto com minha esposa. Tínhamos dois filhos na época que fomos a Nova York, e no recado que eu tinha escrito antes, pedi ao Rebe uma bênção para os alunos da escola vocacional e também uma bênção para nossos filhos.

O Rebe notou que eu mencionara meus alunos junto com meus próprios filhos e ele disse que era bom que eu pensasse neles como meus filhos. Ele citou o Talmud que declara: “Aquele que ensina Torá ao um filho de outra pessoa é considerado como se tivesse dado à luz a essa criança.”