Quando eu era pequeno, eu não conseguia permanecer na classe. Após alguns anos, meus pais me enviaram para a yeshivá Toras Emes em Borough Park, Brooklyn, e eu ia à escola todo dia. Mas então eu insistia que alguém fosse me pegar e levar-me para casa. Acho que eu tinha medo de aula.
Então em 1946 meus pais decidiram enviar-me para a yeshivá Lubavitch em Crown Heights. Meu irmão já estava lá, e eles achavam que ele poderia vir ficar comigo em minha sala de aula, caso eu precisasse.
Bem, aquilo não funcionou, e todo dia minha mãe tinha de ser chamada a Crown Heights. Rabi Zalman Gurary era nosso diretor, e ele costumava chamar minha mãe e dizer a ela: “Venha pegar seu filho – ele não quer se sentar na classe!”
Quando isso aconteceu novamente e meu pai teve de sair do trabalho para me pegar, ele perdeu a paciência. “Não o envie mais para lá,” ele disse à minha mãe, “ele não é capaz de ficar na yeshivá.”
Minha mãe ficou muito preocupada e foi até o Rabi Eliyahu Simpson, que era o secretário do Rebe Anterior. “Por favor,” ela implorou, “peça ao Rebe para abençoar meu filho para começar a querer estudar.”
Quando Rabi Simpson foi até o Rebe Anterior e lhe contou toda a história, ele respondeu: “Por favor, D'us, ele vai querer estudar.” E depois disso, ela teve de ir mais uma ou duas vezes, e foi isso. Graças a D'us, comecei a me sentar na classe e me tornei um aluno normal. Sem dúvida alguma, foi por causa daquela bênção.
Quando o Rebe Anterior faleceu, seu genro se tornou Rebe e também me ajudava na yeshivá. Como aluno na Yeshivá Lubavitch, eu podia ter uma audiência com ele a cada ano por ocasião do meu aniversário.
Certa vez, quando eu tinha quatorze ou quinze anos, fui junto com meu pai no encontro com o Rebe. Meu pai mencionou que viajar ida e volta de Borough Park para Crown Heights todo dia tomava muito tempo, e sugeriu que poderia ser melhor se eu ficasse mais perto da yeshivá. O Rebe concordou, e disse ao meu pai que quando o Alter Rebe, o fundador do Movimento Chabad, estava cuidando de seu neto bebê, que mais tarde se tornou o terceiro Rebe de Chabad (conhecido como o “Tzemach Tzedek”), ele costumava levar o carrinho do bebê em seu escritório: “A kind darf shlofen in daled amos shel Torah” – Uma criança deveria dormir próxima à Torá, o Alter Rebe havia dito.
Portanto, o Rebe fez a yeshivá encontrar um dormitório para mim, permitindo-me dormir nas proximidades. Isso também foi útil para mim de outra maneira. Quando eu estava em Borough Park, se eu quisesse estudar alguma Torá extra no meu tempo livre, teria de sair procurando por um local mais silencioso, mas morando tão perto da yeshivá significava que eu sempre tinha um lugar apropriado para ir. Como resultado, eu passava mais tempo estudando Torá, o que realmente levou a grandes mudanças em minha vida.
Em outra ocasião, quando eu estava no ensino médio, reclamei ao Rebe que minha lição de casa e relatórios do livro estavam tomando muito tempo do meu estudo de Torá. “Eu vou falar com eles sobre pegar mais leve em você,” o Rebe disse.
Pouco tempo depois, Rabi Mordechai Mentlik da yeshivá me chamou para dizer que tinha falado com o Dr. Wadler, o diretor de estudos de inglês, e eles concordaram em me deixar fora dos relatórios do livro – mas não com o dever de casa.
O verão após minha graduação no ensino médio em 1958 me ofereci como voluntário para um programa dirigido por Merkos L’Inyonei Chinuch, o braço educacional de Chabad, que enviava duplas de estudantes da yeshivá para comunidades judaicas distantes pelo país. Naquela época, fui com um amigo meu para Scranton, na Pensilvânia. Para um jovem como eu, foi uma experiência e tanto, indo de um lugar para outro distribuindo literatura judaica. Nós tentaríamos encontrar judeus onde quer que estivessem, e encorajá-los a colocar tefilin ou adquirir livros judaicos.
Um local que visitei foi uma loja de móveis. Era grande, e o dono, que parecia gente fina, era judeu. Então entramos e falamos com ele por algum tempo e então perguntei a ele: “Você colocou tefilin hoje?”
Ele não tinha colocado.
Expliquei a ele o quanto é importante colocar tefilin e isso pareceu convencê-lo. “Ok,” ele disse. “Vamos para os fundos da loja para colocar o tefilin.”
O prédio era muito longo, e eu o segui até o final. Mas quando chegamos lá, ele mudou de ideia e não queria mais colocar tefilin.
Tentei convencê-lo um pouco mais, porém ele recusou. “Farei isso em outra época, mas não agora.”
Fiquei muito desapontado pois tinha gasto tanta energia com este homem o qual simplesmente me dispensou. Portanto quando voltamos a Nova York, escrevi um longo relato sobre a viagem, e a entreguei ao Rebe. Descrevi nosso encontro com este homem na loja de móveis em detalhes pois ele tinha sido meu único prospecto para colocar tefilin naquela viagem.
Então continuei a escrever para o Rebe no relato, e declarei: “Parece que o Rebe está tentando trazer Mashiach, mas não vejo como isso vai acontecer. É muito difícil. Há tantos judeus que precisam cumprir tantas mitsvot, mas não conseguimos sequer que uma pessoa colocasse tefilin.”
Na margem do meu relato, o Rebe respondeu:
“Há uma substância chamada pólvora,” ele escreveu. “Tudo que você precisa é acender apenas uma pequena faísca. Às vezes, quando você chega a uma cidade, você precisa apenas inspirar uma pessoa influente, e então ela vai levar muitas outras a bordo.
“Você pode encorajar apenas uma pessoa a colocar tefilin, ou mudar seus hábitos, mas ele tem um amigo. E então aquele amigo está em contato com outra pessoa, e assim por diante. Portanto passar sua mensagem para uma pessoa pode desencadear uma reação em cadeia.”
Então o Rebe citou Maimônides: “Uma pessoa deveria sempre olhar para si mesma como igualmente equilibrada entre mérito e pecado, e o mundo como igualmente balanceado entre mérito e pecado. Se ele cumprir uma mitsvá, ele move a sua balança e aquela do mundo para o lado do mérito e traz liberdade e salvação para si mesmo e para os outros.”
“Apenas uma mitsvá pode inclinar as balanças para o outro lado e mudar o mundo inteiro,” ele concluiu. “Aquela mitsvá pode trazer Mashiach.”
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