De volta aos anos 1950 quando eu era um aluno numa yeshivá, havia poucos acampamentos religiosos de verão. Durante vários verões, trabalhei como conselheiro em um deles – Camp Agudá – e com essa experiência, tive a ideia de abrir um acampamento Chabad mais inclusivo que deixaria os participantes com uma conexão duradoura com o Judaísmo.
Porém, quando escrevi ao Rebe sobre isso, não tive uma concordância imediata. Iniciar um acampamento iria exigir muito tempo e energia, disse o Rebe, e seria uma distração dos meus estudos de Torá. Ele aconselhou que eu guardasse a ideia por seis meses, até depois de Pêssach, e escrevesse para ele novamente naquela época.
Mesmo assim, eu não conseguia parar de pensar e planejar, e logo após Pêssach, é claro, escrevi novamente ao Rebe. Dessa vez, eu recebi uma resposta do chefe do secretariado do Rebe, Rabi Mordechai Hodakov, com conselho sobre a estrutura de organização do acampamento. Ele me informou que teríamos de formar uma corporação legal – não apenas começar uma empresa privada – portanto não haveria permissão pessoal. E também, como eu e Yossi Weinbaum, meu parceiro nesse empreendimento, ainda éramos jovens alunos da yeshivá, precisávamos de um terceiro parceiro que fosse mais velho e casado. Escolhemos Kehos Weiss para este cargo, e relatamos isso a Rabi Hodakov, que nos disse que o Rebe queria nos ver.
Quando fomos ao escritório do Rebe, ele nos perguntou seriamente:
“Por que precisamos de um acampamento?”
Essa pergunta deixou minha cabeça rolando. Como eu tinha investido tanto pensamento e esperança nessa ideia e a resposta inicial do Rebe fora positiva, eu tinha esperado que agora ele iria nos aconselhar sobre o que fazer, mas aqui ele estava nos perguntando por que iríamos fazer isso. Senti meu mundo inteiro balançar, e na verdade desmaiei. Kehos me viu tremendo sobre meus pés e me agarrou antes que eu caísse no chão. Desnecessário dizer, a audiência foi desastrosa. O Rebe disse que deveríamos ir para fora por alguns minutos, e quando eu me sentisse melhor, poderíamos entrar de volta.
Lá fora, Kehos – que era uma pessoa muito inteligente – me abordou direto. “Moshe, apenas responda sinceramente a pergunta do Rebe. Diga a ele por que, baseado em sua experiência pessoal, você sente que precisa de um acampamento.”
Voltamos lá e o Rebe nos saudou com um sorriso enorme. Após perguntar se eu estava me sentindo melhor, ele repetiu sua primeira pergunta:
“Por que vocês precisam de um acampamento?”
Então eu disse a ele: “Um acampamento é a melhor maneira de infundir judaísmo em uma criança. Mesmo se ela vai a uma escola religiosa, tudo que aprende pode ser desfeito pelo seu ambiente no lar. Mas ele ficará no acampamento o tempo todo durante um mês ou dois. Durante este período, tudo que ele aprender ficará permanentemente gravado.”
O Rebe parecia satisfeito com aquela resposta e nos deu sua aprovação, e até alguns conselhos sobre como encontrar o melhor local para o acampamento. Recebi isso positivamente porque havia muito a ser feito nos três breves meses antes do início do acampamento de férias em julho.
Um agente imobiliário nas Montanhas Catskills mostrou-me vários locais que eu poderia alugar, mas o Rebe não aprovou nenhum deles. Um lugar exigia que as crianças atravessassem uma estrada movimentada entre duas partes do acampamento; outro iria abrigar as crianças num prédio alto onde elas poderiam ficar presas nos andares em caso de um incêndio, e uma terceira estava sujeita a outros problemas que não eram óbvios para mim. Por fim, consegui alugar um acampamento secular já existente na aldeia de Ellenville – Acampamento Israel – cujo dono queria se aposentar. Assim que o Rebe aprovou, comecei a publicidade para atrair as crianças. Isso deu extremamente certo e logo tínhamos mais de noventa crianças registradas, bem como um time completo de empregados contratados; estávamos prontos para seguir em frente.
Enquanto eu ainda estava ocupado fazendo todos os arranjos necessários na minha pequena sala na sede Chabad, recebi uma visita surpresa de Rabi Leibel Groner, o secretário do Rebe:
“Quanto tempo demora para ir até o acampamento?” ele perguntou.
“Duas horas, ou talvez duas e meia, dependendo do trânsito,” respondi.
Ele nada disse e saiu, mas pouco depois ele estava de volta com outra surpresa: “O Rebe está indo para o acampamento daqui a uma hora!”
Ora, o Rebe nunca deixara a cidade de Nova York desde quando assumiu o cargo em 1950, portanto isso era uma grande honra. Assim que a notícia chegou, todos no 770 queriam ir também. Por fim, um comboio inteiro de carros lotados fez o caminho até Catskills, onde o Rebe fez um farbrenguen. Ele tratou a ocasião com grande solenidade, e até colocou vestiu seu capote de seda que estava reservado para ocasiões especiais.
Foi em 26 de maio de 1956 – 16 de Sivan de 5716 – que o Rebe chegou e inaugurou o Camp Gan Israel. Mantivemos o nome original do lugar, mas mudamos um pouco para indicar que havia algo de novo, por conselho do Rebe. Ele disse que poderia haver algumas crianças que iam ao velho Camp Israel e iriam querer voltar – sua abordagem era nunca perder uma oportunidade de ser tão inclusivo quanto possível. Desde então, essa tem sempre sido a política do Camp Gan Israel que, no decorrer dos anos, tem crescido como uma rede mundial e tem sido frequentado por um milhão de crianças, e talvez ainda mais.
No segundo ano, o Rebe queria me encontrar um lugar mais bonito, porque o Ellenville estava um pouco deteriorado. Portanto, novamente, fui olhar em Swan Lake - um dos locais mais belos nas Catskills naqueles dias – e encontrei a Fazenda Ziegler, que anteriormente era uma fazenda de aves com uma coleção de cabines construídas pelo dono.
Conseguimos comprar este local e mudamos o acampamento para lá.
Quando o acampamento abriu – com o dobro das matrículas do primeiro ano – o Rebe veio novamente para ver, mas dessa vez sua visita foi planejada com antecedência, não foi uma surpresa total como na primeira vez.
Eu queria que o Rebe visse o acampamento em ação, e levei-o para ver as crianças em seus quartos, cada uma perto da sua cama. Ele percorreu os locais e mostrou interesse em tudo. Quando entramos na sala de jantar, ele viu o aviso: “Lembre-se de dar gorjeta para seu garçon!” e ele pegou dinheiro do bolso e a deu para Yossi Weinsbaum para dar aos garçons. Ele também falou com eles. Disse aos garçons – que poderiam se sentir como servos muitas vezes – que eles estavam fazendo um trabalho sagrado muito importante.
Essa era a maneira do Rebe lidar com todas pessoas – não importa seu nível na vida – para mostrar que elas eram importantes. Essa é uma das muitas coisas que aprendemos com o Rebe, ele nos ensinou que toda pessoa deve se reconhecida.
É uma sensação surpreendente ser reconhecido, como posso atestar pessoalmente. Quando a viagem terminou e o Rebe estava entrando de volta em seu carro, ele me disse – e jamais esquecerei as palavras:
“Nunca imaginei tamanha riqueza.”
Aceitei isso como um sinal de aprovação e seu encorajamento tem me apoiado até hoje.
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