A primeira vez que ouvi o Rebe falar foi em Purim de 1973. Ele abordou como Mordechai voltava-se às crianças quando ele percebia que havia uma ameaça à sobrevivência do povo judeu. Mordechai reuniu 22.000 crianças ao seu redor e começou a estudar Torá com elas, porque ele sabia que o poder de calar o inimigo vinha das “bocas dos bebês”. Aquela primeira experiência me ensinou quão profundamente o Rebe se preocupava com crianças e com a educação delas.

Crianças, dizia o Rebe, são Tzivot Hashem, o Exército de D’us. Elas têm corações puros que são livres do pecado, e irão liderar o povo judeu para receber Mashiach.

Oito anos depois, o Rebe fundou uma organização de apoio a jovens chamada Tzivot Hashem, e essa organização, logo depois, começou a publicar uma revista infantil chamada Times of Mashiach, Os Tempos de Mashiach, da qual me tornei editor. Sua resposta veio logo, e ele não via nada de errado com as meninas na capa.

A primeira capa de The Mashiach Times foi desenhada por Adel Bachman. Mostrava uma fila de meninos e uma fila de meninas segurando placas: em cada placa havia uma carta dizendo Ahavat Yisrael. Quando alguns dos diretores da organização viu o lay out da capa, eles logo questionaram: “Como é possível meninos e meninas na mesma capa?” eles exigiam. “Se você olhar para qualquer uma das revistas religiosas, ninguém tem fotos de meninas naquelas capas!”

Foi decidido mostrar essa capa ao Rebe e pedir seu conselho. Sua resposta veio logo, de que ele não via nada de errado em colocar as meninas na capa. Ele disse que a ênfase deveria ser na mitsvá de Ahavat Yisrael, “Ama teu próximo judeu como a ti mesmo.” E essas palavras foram acrescentadas à capa em hebraico e em inglês.

O segunda número também tinha meninos e meninas na capa, e as mesmas objeções surgiram. Novamente o Rebe foi consultado, e ele disse que a capa estava ok. O Rebe teceu apenas dois comentários: que os tsitsit do menino tinham de ser desenhados melhor, e que ali tinha de haver também uma menina.

Quando comecei a trabalhar na revista em 1983, a capa para o número de Tishrei/Setembro foi desafiadora. A ideia era mostrar um menino voltando para casa do acampamento com todo seu equipamento do camping entrando e vendo todas as coisas que precisaria para o início do novo ano; seus livros da escola, um calendário, um shofar, uma caixa de tsedacá entre outros. Era um esquema muito detalhado.

Quando mostramos isso ao Rebe, ele fez dois comentários: que os tsitsit sobre o menino tinham de ser desenhados mais claramente, e que também deveria haver uma menina.

Eu disse: “Não sei onde uma menina pode caber aqui. O que uma menina estaria fazendo na sala ao lado de um menino? Isso não combina com a composição.” Mas o Rebe insistiu, e por fim entendemos como colocá-la ali. E foi assim que foi estabelecido que deveria haver um menino e uma menina em toda capa.

Quanto ao conteúdo da revista,contratei David Berg, que escreveu: “O Lado Aceso: para Mad magazine. Era um ótimo escritor e humorista, e tinha um notável coração judaico. Pedi a ele para preparar uma série de cartuns que iriam, de maneira bem humorada, ilustrar ideias básicas de Torá. Para fazer isso, ele inventou um personagem gordo chamado Schlemiel que sempre entendia as coisas de forma errada, e então havia alguns meninos que o corrigiam. No meio havia uma piada. Era bonitinha e engraçada, mas não tinhamos certeza de que as crianças iriam entender. Então a enviei para o Rebe.

O Rebe não tinha problema com o humor, mas ele respondeu que deveríamos evitar desenhos de pessoas que não eram realistas – ele deu um exemplo de grandes narizes, ou grandes estômagos – porque este é um erro educacional básico. Ele disse: “Embora este seja um estilo comum em cômicos, e as crianças sejam usadas para ver este tipo de coisa, é um engano. Tudo que é simples e normal é melhor com respeito a crianças.” E ele acrescentou a poderosa palavra l’daati, que significa “na minha humilde opinião,” como se para dizer: “Você não tem de me ouvir; é apenas minha opinião.” Mas, é claro, entendemos.

Com o passar do tempo, o Rebe fez campanha para mudar a percepção das pessoas sobre o que deveria ser mostrado a crianças. Por exemplo, ele pensava que deveríamos evitar mostrar animais não casher, e que deveríamos mostrar as tábuas dos Dez Mandamentos acuradamente como quadradas, não redondas; que deveríamos mostrar matsá shmurá, feitas à mão; e que pelo menos parte dos homens adultos mostrados deveriam ter barbas.

O Rebe prestava atenção em cada pequeno detalhe. Obviamente, toda vez que tínhamos uma resposta do Rebe era uma orientação para futuras questões.

Uma vez, para Purim, o desenho mostrava crianças visitando um lar de idosos. Dezenas de oznei Haman e foram mostrados, porque o Rebe tinha dito antes que crianças deveriam ver as coisas que as agradassem. E tínhamos uma caixa de tsedacá bem no meio com as palavras “Talmud Tora” (escola da Torá) sobre ela. Então todos os mandamentos de Purim eram mostrados. Pensamos que era uma grande capa, mas o Rebe disse que a ênfase sobre Purim é dar caridade aos necessitados e não para instituições de Torá. Era fácil de dizer, mas quem teria pensado nisso se o Rebe não falasse?

Nas férias de verão capa da revista mostrava crianças indo ao acampamento. Os meninos estavam em um ônibus, as meninas em outro, e os pais eram mostrados acenando adeus. O que o Rebe disse sobre essa capa? “Você tem de acrescentar as tábuas.” Não sabíamos como fazer aquilo sobre essa capa. O verão estava chegando um mês após Shavuot – a festa que celebra a outorga da Torá, matan Torá – e as tábuas pareciam não combinar com o tema de sair para o acampamento de verão.

Mas era isso que o Rebe queria, portanto desenhamos tábuas nos céus, com seus raios brilhando para baixo sobre os ônibus e as pessoas. Isso acrescentou uma nova dimensão espiritual ao quadro inteiro – agora a capa estava dizendo que embora as crianças estejam indo para um acampamento de ferias, o espírito de matan Torá está indo com elas. Elas não tinha deixado a Torá para trás em Shavuot.

Então os comentários do Rebe nos levaram a acrescentar outra perspectiva à cena inteira. E é realmente extraordinário como – de novo e de novo – ele nos guiou para acrescentar muito mais profundidade ao que estava sendo apresentado na capa e na verdade, como comunicamos ideias de Torá às crianças.