Embora eu tenha sido criado num lar secular em Tel Aviv, ainda quando criança, os ensinamentos chassídicos captaram a minha imaginação.
Quando adolescente, fui enviado pela minha mãe viúva para uma escola agrícola em Kfar Silver, perto de Ashkelon. Eu era o único entre os 400 alunos que usava uma kipá, e eu ficava no salão de jantar toda sexta-feira à noite, cantava Lecha Dodi e fazia Kidush para todos os outros.
A certa altura, consegui convencer um dos turistas americanos que tinham ido visitar a escola a doar um Rolo de Torá, e preparei uma cerimônia festiva conhecida como Hachnassat Sefer Torá completa com uma parada. A administração da escola forneceu uma sala onde construímos uma arca para colocar a Torá e, nas manhãs do Shabat, eu acordava os alunos sefaraditas que vinham de casas tradicionais para que pudéssemos formar um minyan e participar do serviço de Shacharit e mussaf, com a leitura da Torá.
Foi também nessa época – em 1958 quando eu tinha quinze anos – que começou minha conexão com o Rebe, Eu sentia que precisava de orientação, e quando ouvi falar sobre sua reputação de cuidar de todo judeu, escrevi a ele pedindo conselho.
Descrevi a situação em que me encontrava e perguntei: “Como vivo num lugar onde a Torá não é praticada, e eu mesmo conheço pouco, como eu deveria me comportar nesse ambiente?”
O Rebe respondeu – o que me chocou, porque eu não esperava uma resposta – dizendo que aquilo que eu estava fazendo era uma grande mitsvá e me encorajou a continuar espalhando o Judaísmo entre meus colegas. Isso foi há mais de cinquenta anos, portanto não lembro as palavras exatas, mas posso garantir que seu conselho teve um enorme impacto sobre mim. Tem sido a luz que me guia até hoje a partir daquele dia.
Em 1962, terminei meus estudos e entrei no exército de Israel, conhecido como FDI, Forças de Defesa de Israel. Eu atuava no rabinato militar como assistente do Rabino Shlomo Goren, então o rabino chefe das forças israelenses. Durante três anos, ele e seu assistente, Rabino Yehuda Shulman, foram meus parceiros de estudo. Foi assim que ganhei o conhecimento de Torá que estava me faltando.
Após meu serviço militar, conheci minha futura esposa, Malka, que estava visitando Israel como estudante do Canadá. Seu pai, Avraham Dovid Dalfen, que era próximo de Chabad, escreveu ao Rebe sobre nosso casamento e marcou uma audiência para eu receber as bênçãos do Rebe.
Durante aquela reunião, o Rebe fez muitas perguntas. Ele lembrava do meu envolvimento em Kfar Silver; perguntou-me sobre aquilo e contei a ele tudo que eu tinha feito ali. Então ele me perguntou sobre meu trabalho na FDI, e falei a ele sobre meu relacionamento com Rabino Goren.
Suas perguntas eram pontuais e detalhadas, e dei respostas detalhadas. Após mais de quinze minutos, a audiência chegou ao fim e comecei a sair. De repente lembrei-me que eu tinha esquecido de perguntar a ele se minha esposa e eu deveríamos ficar em Montreal após o casamento ou retornar para Israel?
O Rebe olhou-me com seus olhos penetrantes e disse; “Vamos ver isso no próximo ano.”
Eu não estava certo sobre o que fazer com aquela resposta e quando voltei a Montreal minha esposa e eu continuamos a deliberar sobre onde deveríamos morar.
Mas apenas uma semana após meu encontro com o Rebe, recebi um telefonema do Sr. Paul Cooper, que se identificou como o presidente da Congregação Shaar Shamayim em Thunder Bay, Ontário, Canadá. Ele disse-me que a comunidade tinha 120 famílias judias e que a escola hebraica que funcionava às tardes tinham quarenta alunos, mas nenhum rabino estava disposto a ir para lá porque não havia escola adequada para os filhos dos rabinos. “Recebemos sua informação da Yeshivá, e entendemos que vocês são um casal jovem sem filhos, portanto podem vir até nós!”
Eu não tinha ideia sobre como a Yeshivá tinha ouvido falar sobre mim mas eu disse à a minha esposa…”Isso deve ser o que o Rebe tem em mente...”
Obviamente o Rebe estava me chamando para ver se eu poderia ser enviado a uma comunidade judaica distante para divulgar Yidishkeit ali.”
Mais tarde aprendi que, após nosso encontro, o secretariado do Rebe informou ao escritório da Yeshiva encarregada de designar rabinos para a comunidade que eu seria um bom candidato. Fui solicitado a ir para Nova York, onde fui testado e recebi ordenação rabínica, e então atuei como o rabino de Thunder Bay durante cinco anos. Foi assim que minha carreira no rabinato começou.
Subsequentemente, quando meus filhos cresceram e exigiam estudo que não estava disponível na área, mudei-me para ser um rabino em Leeds, Inglaterrra. Após alguns anos, senti que tinha de me mudar novamente pelo bem dos meus filhos. Escrevi ao Rebe e obtive uma resposta: “Guedolá erká uzechutá derabanut – O valor e mérito do rabinato são notáveis.”
Como resultado daquela carta, fiquei em Leeds por mais quatro anos – um ano para cada palavra naquela carta do Rebe.
O Rebe era uma luz orientadora na minha vida, e ele é aquele que enviou-me ao meu primeiro cargo a uma comunidade judaica distante para divulgar Torá e judaísmo. Espero e rezo para que a tremenda tarefa que ele iniciou tantos anos atrás continue a se propagar no mundo todo, em todos os lábios sem limites.
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