Em 1976, quando eu era um estudante na yeshivá central Chabad em Eastern Parkway, 770, o Rebe fez um anúncio num farbrenguen que ele queria publicar mais escritos do quinto Rebe, Rabi Sholom Dovber, mais conhecido como Rebe Rashab.

O Rebe Rashab era um prolífico escritor e havia uma série de 146 discursos chamada Ayen Bais – escritos por ele nos anos de 1872-1875 para lançar os conceitos fundadores da Chassidut Chabad – que nunca foram publicados. Mas agora tinha chegado o tempo de mudar, disse o Rebe, e explicou. “Durante muitos anos tenho sido incomodado pelo fato de que muitos outros discursos chassídicos foram impressos, enquanto essa extraordinária série nunca foi. Se eu tiver a habilidade de publicá-los, e ainda não o fiz, estou aceitando a responsabilidade de mostrar esses ensinamentos ao público. Mas, por várias razões, eu tinha medo de publicar [essas profundas verdades místicas] até que pensei numa ideia...”

A ideia do Rebe era publicar esses ensinamentos revolucionários em parceria com seus chassidim, e assim ele pediu que cada chassid demonstrasse sua participação contribuindo simbolicamente com um dólar para essa iniciativa.

Eu estava entre aqueles selecionados para trabalhar nesse projeto, e – junto com meu amigo Rabi Zusha Winner – fui encarregado de fazer o índice dos assuntos abordados em todos os 146 discursos. Depois que fizemos o primeiro conjunto de títulos dos assuntos abordados, o Rebe nos congratulou, dizendo que nosso método de índice “dá uma impressão ordenada e positiva.” Ele disse para continuarmos a trabalhar o mais depressa possível sem prejudicar a qualidade. Ele também nos disse que cada vez que ele era levado ao Ohel, o túmulo do Rebe Anterior, ele levava consigo as últimas páginas que produzimos, o que nos ajudou a seguir em frente.

Era um trabalho difícil fazer um índice para tantos discursos que preenchiam três grandes volumes, e o Rebe nos mantinha num prazo apertado. Uma noite o Rebe nos pediu para darmos uma estimativa da data quando iríamos terminar. Fizemos apressadamente um cálculo de quanto tempo precisaríamos e explicamos que estávamos separando tempo extra para fazer o índice do último volume pois ele não está dividido em capítulos e “é muito difícil categorizar.”

O Rebe interrompeu seu programa de audiência para nos dar uma resposta imediata. Em sua resposta, ele comentou sobre as palavras “muito difícil”, lembrando-nos da declaração da Mishná: “yagata umatsata – se você trabalhar duro, certamente vai ter sucesso,” e acrescentando: “o sucesso vem junto com o trabalho duro.” Nós realmente trabalhávamos muito e conseguimos terminar o índice sobre o primeiro volume dentro de dois meses.

E então aconteceu uma coisa surpreendente. Fui nomeado para uma nova missão que exigia que eu e minha esposa Tila Henya nos mudássemos para Israel enquanto alguém seria designado em meu lugar para completar o restante dos índices.

Estávamos entre o seis casais recém-casados encarregados de ajudar Israel em seu desenvolvimento espiritual e físico. Foi uma grande honra ser escolhido para essa missão, pois muitos casais tinham desejado ir. E foi provavelmente a mais rápida aliyá registrada porque fomos notificados apenas cinco dias antes da partida – então tivemos de reunir nossos pertences e nos preparar para uma mudança de continentes num período de tempo extremamente curto.

Quando chegamos a Israel, fomos levados a Tzfat onde tivemos um grande impacto, mas dois anos depois, em 1979, o Rebe nos encorajou a mudar de local em Israel e, se possível, assumir posições rabínicas. Com a sua sugestão, fomos para Eilat, uma cidade secular no Mar Vermelho. Quando, com encorajamento do Rebe, me inscrevi para o cargo no Rabinato Israelense, fui unanimemente escolhido como rabino chefe de Eilat com a idade de 29 anos! Isso para mim parecia milagroso pois o rabinato então era um clube bastante fechado, e no topo daquilo, eu estava vindo dos Estados Unidos e falava hebraico sem eloquência. Mas atribuo tudo isso ao encorajamento e às bênçãos do Rebe.

Apos obter o cargo, escrevi ao Rebe, dizendo-lhe que planejávamos nos mudar para Eilat depois de Sucot, pois minha esposa iria viajar para Nova York para o casamento de sua irmã. Mas o Rebe mandou seu secretário me ligar imediatamente para dizer que eu deveria começar antes de Rosh Hashaná época em que as pessoas estão mais receptivas. A mensagem do Rebe era muito clara: “Não pode ser que o rabino da cidade não vai estar lá para Rosh Hashaná!”

Obviamente, fiz conforme o Rebe disse. Lembro que em Rosh Hashaná, fui ao hospital local e toquei o shofar, e as pessoas – médicos, enfermeiras, pacientes – ficaram parados. “O que é isso?” eles perguntaram. Foi a primeira vez que eles tinham assistido uma cena dessas num hospital.

Depois, sob orientação do Rebe, retornei para Yom Kipur. A sinagoga estava repleta e fiz várias palestras inspiradoras. Relatei tudo isso ao Rebe, acrescentando que para Sucot eu planejava voltar a Tzfat, pois estava sozinho e não tinha sucá. A resposta do Rebe: “Garanta que você está em Eilat para Sucot.”

Fiz o melhor possível. Construí uma sucá muito pequena e corri ao redor da cidade encorajando as pessoas a balançarem o lulav, o que também teve uma recepção muito positiva.

Nesse ínterim, pedi para meu pai aproveitar o fato de que minha esposa e filhos estavam perto do Rebe em Nova York, e levasse meu filho de dois anos para uma cerimônia chamada Cós Shel Brachá durante a qual o Rebe distribuía vinho do seu copo. Meu pai fez como pedi. Ao ver meu filho, o Rebe perguntou: “O que este menino está fazendo aqui? Por que não está ajudando seu pai em Eilat?”

Então ele entregou uma garrfa de vodca ao meu filho – que mal conseguia segurá-la nos braços – provavelmente a única vez que uma criança de dois anos foi solicitada a entregar um presente assim ao seu pai.

No dia seguinte, minha esposa teve uma audiência com o Rebe que garantiu a ela que tinha ouvido relatos sobre mim. “Eu não sei se você recebe as mesmas atualizações que eu recebo, mas se ainda não ouviu, digo a você que seu marido teve muito sucesso durante esses feriados. Vi seu filho ontem e dei a ele uma garrafa de mashke. Assim você sabe – ele deveria levar ao seu pai. Não é para ele,” acrescentou sorrindo.

Obviamente, era muito importante para mim que o Rebe estivesse satisfeito com meu sucesso naquela época das Grandes Festas quando estávamos apenas começando nossa missão. E no decorrer das últimas quatro décadas expandimos nossas atividades a tal ponto que hoje lidero um grupo de mais de doze shluchim, emissários, em Eilat. Temos muitas casas Chabad, uma cozinha de sopa para necessitados e instituições educacionais para crianças de todas as idades.

Nossa esperança é que o Rebe está agora ainda mais feliz do que quando estávamos apenas começando.