Como um chassid Chabad, tive muitos encontros com o Rebe no decorrer dos anos, e ele deu-me muitos bons conselhos sobre questões pessoais, estudo de Torá e prece, sobre contato com as pessoas.
Hoje, eu gostaria de compartilhar o que ele me ensinou sobre espalhar as “fontes” dos ensinamentos chassídicos na maneira mais eficaz.
Em 1966, quando eu estava estudando na yeshivá Chabad em Nova York, fiquei noivo, e durante um farbrenguen subsequente, abordei o Rebe para informá-lo das boas notícias, levando uma garrafa de vodca. O Rebe colocou um pouco da vodca em seu copo e no meu e desejou-me “L’chaim v’livrachá – Para vida e para bênção.”
Então ele me instruiu sobre o que eu deveria falar durante meu vort de noivado.
É costume num vort Chabad que o noivo faça um discurso chassídico que foca nas profundas interpretações místicas da Torá – que é chamado nistar, sua dimensão “oculta”. Mas o Rebe me disse que eu deveria também falar de nigle, sua dimensão revelada, mesmo se isso não é feito usualmente.
“Se alguém o incomodar, diga àquela pessoa que eu instruí você a fazer isso,” ele acrescentou. Quando eu estava saindo, o Rebe falou atrás de mim: “Mas prepare-se bem!”
Muitos rabinos e eruditos estavam presente no vort, dentre eles um importante membro da família da noiva que era Litvish. Fiz como o Rebe aconselhou e, aparentemente, ficaram bem impressionados com meu discurso.
Em seguida, os professores da minha yeshivá relataram ao Rebe, que queria saber sobre o vort. Eles disseram ao Rebe que o rabino Litvish ficou surpreso por eu falar palavras de nigle e que eu até mencionara os ensinamentos do Rogatchover Gaon – um erudito talmúdico do Século 20 que era conhecido pelo seu gênio surpreendente – no meu discurso. Ao ouvir isso o Rebe sorriu e disse: “Por que a surpresa? O Rogatchover foi um de nós,” significando que o Rogatchover Gaon veio de uma educação Chabad.
Após o casamento, minha esposa e eu retornamos para Israel, onde eu iria estudar no colel para homens casados, pela orientação do Rebe. Em uma ocasião, viajamos para Jerusalém para visitar meus pais para Chanucá. Visitando-os ao mesmo tempo estava o reitor da Faculdade Talmúdica Gateshead, uma importante yeshivá Litvish.
Quando chegou a hora de falar palavras de Torá, fui solicitado a dizer algo. Partilhei uma palestra do Rebe sobre o que está escrito no Tanya, a importante obra de filosofia Chabad. Naquela palestra, o Rebe discursou sobre o que está no Tanya sobre “a impressionante união diferente de qualquer outra” entre um judeu e D'us, que é atingida através do estudo da Torá, e explicou que isso acontece principalmente através do estudo de nistar , sua dimensão interior.
Na próxima vez que fui visitar o Rebe, mencionei isso em passagem na carta que apresentei antes da minha audiência. Eu não esperava que o Rebe prestasse atenção, mas ele o fez.
“Você também falou sobre nigle?” ele perguntou. E quando respondi que não, o Rebe disse: “Isso é uma vergonha, porque poderia ter aproximado (este reitor) dos ensinamentos chassídicos, assim apressando a Redenção Final.”
Então o Rebe me instruiu a escrever para ele e incluir em minha carta conceitos de nigle. Obviamente, fiz isso. Sentei-me e escrevi sobre o tema de mitzvot tzrichot kavaná – se o cumprimento dos mandamentos exige intenção deliberada ou se o ato físico é suficiente – e enviei essa carta para ele.
Com essa experiência, aprendi que divulgar as “fontes” do Chassidismo é melhor se for feito de uma maneira que será aceita pela audiência. Hoje, essa é a mensagem que eu sempre tento transmitir aos meus alunos da yeshivá: “Assegure que você conhece bem a Torá revelada. Se fizer isso, você também vai trazer outros para mais perto da Torá oculta e dos ensinamentos chassídicos.”
No início de 1969, tivemos a sorte de ser uma das primeiras cinco famílias que foram enviadas pelo Rebe para estabelecer o bairro Nachlat Har Chabad em Kiryat Malachi. Quando muitos novos imigrantes da Geórgia também foram para Kiryat Malachi, fizemos trabalho de contato com eles oferecendo aulas de Torá e também organizando farbrenguens. Mas como não tínhamos uma sinagoga nossa, rezávamos nas sinagogas deles, usando seus livros de prece e cantando suas melodias de Shabat. Isso combinava com o foco do Rebe em conectar com nossos irmãos judeus numa maneira familiar a eles.
Poucos anos depois recebi uma oferta para participar num novo colel que estava abrindo em Nazaré. Com a provação do Rebe, aceitei. A princípio, eu era o único jovem Chabad naquele colel, porém mais tarde outros vieram. O esquema era que estudássemos Torá pela manhã, e à tarde e à noite nós iríamos fazer contato pela área. Isso não era simples, pois havia apenas umas poucas pessoas religiosas morando ali, e a maioria dos habitantes eram seculares – bem como as autoridades locais – não eram especialmente amigáveis. Quando escrevi ao Rebe sobre isso, ele respondeu: “É uma certeza que se você não se envolver em questões políticas, vai encontrar favor aos olhos de todos.”
Isso novamente mostrava a sensibilidade do Rebe aos sentimentos daqueles com quem interagíamos em nossos esforços para fazer contato.
Em 1977, quando recebi uma oferta para atuar como rabino em Kfar Tavor, escrevi ao Rebe sobre isso, e sua resposta foi: “Se você vai liderar [a aldeia] segundo o Código da Lei Judaica, deveria aceitar este cargo.” O que o Rebe estava me dizendo é que o trabalho rabínico envolve situações desafiantes, e ele estava consentindo para eu aceitar este emprego na condição de que eu não comprometesse qualquer aspecto da lei judaica.
O Rebe estava disposto e curvar-se para acomodar as sensibilidades de judeus de todos os níveis de vida, mas ele nunca estava disposto a transigir sobre princípios da Torá de maneira alguma.
Faça um Comentário