Cresci na Rússia, numa família Lubavitch que tinha sido próxima à família do Rebe. Na verdade, meu avô e o pai do Rebe foram amigos durante a vida toda, e meu avô – Rabi Shneur Zalman Vilenkin – teve a honra de dar aulas ao Rebe quando ele era criança.

Nossa família era religiosa numa época em que praticar o Judaísmo era um crime na União soviética. Lembro-me que eu tinha de estar em casa cedo na tarde de sexta-feira – a menos que estivesse com meus amigos que iriam celebrar o Shabat. Minha mãe cobria as janelas com cobertores, para que ninguém pudesse vê-la acendendo as velas de Shabat.

Depois que a guerra terminou, deixamos a Rússia como parte de um grande êxodo de judeus que tiveram permissão de retornar à Polônia se tivessem nascido ali. Não éramos poloneses mas conseguimos sair, como muitos outros, com documentos falsos e – após um tempo passado nos campos – conseguimos chegar à França e depois à América.

Fomos instalados pela (HIAS) Sociedade de Ajuda a imigrantes judeus em Cleveland, mas a caminho de lá, paramos em Nova York para ter uma audiência com o Rebe. Isso foi em julho de 1953, quando eu tinha treze anos de idade. Entramos como uma família, e lembro que meu avô tinha problemas para andar porque parte do seu corpo estava paralisado, portanto ele se movia muito lentamente. Quando entramos, o Rebe se levantou e foi até a porta para nos cumprimentar. Ele então repetidamente convidava meu avô a sentar-se, mas meu avô jamais iria se sentar na presença do Rebe, portanto não aceitava. E como ele não sentava, o Rebe também não se sentou. Durante toda aquela audiência, o Rebe ficou de pé por respeito ao professor da sua infância.

Outro fato que ocorreu em decorrência ao respeito por meu avô foi um convite que recebi quando fiquei noiva em 1959. Naquela época, minha mãe ligou para a Rebetsin Chana, a mãe do Rebe, para partilhar a boa notícia, e ela nos convidou à sua casa para termos uma conversa. Lembro-me de como ela foi simpática, mas o que mais me impressionou foi seu porte real. Mesmo quando ela estava em silêncio, havia uma majestade ao seu redor. Embora ela não me conhecesse, fez um esforço especial para nos receber nessa ocasião pois conhecia o meu avô.

Mas estou antecipando a história.

Após somente alguns anos em Cleveland, onde minha mãe não estava feliz, nos mudamos para Nova York. E embora a vida na comunidade Chabad em Crown Heights fosse mais fácil para ela, mamãe estava chorando o tempo todo porque seus dois irmãos – Yosef e Sholom Eliyahu Vilenkin – tinham ficado para trás na Rússia e não conseguiam permissão para sair.

Ela rezava constantemente pela liberação deles, e a cada ano quando o Rebe fazia uma palestra no Kinus, Congresso, das mulheres de Chabad e abençoava todas as participantes uma a uma, ela implorava por uma bênção para seus irmãos. Mas por motivos não revelados, ele jamais concedeu isso. Ele dava outras bênçãos a ela, mas jamais mencionava meus tios.

Então em certa ocasião– creio que foi em 1970 – eu fui com ela. Quando estávamos na fila esperando pelo Rebe, minha mãe me disse baixinho com resolução, como se sua vida dependesse daquilo: “Poderia ser chutspá,[ousadia] da minha parte, mas não vou sair até que o Rebe me dê uma bênção para meus irmãos.”

Porém novamente, quando ela pediu, ele deu-lhe a bênção usual para sucesso, nada dizendo sobre seus irmãos. Então ela respirou fundo e implorou: “Rebe... uma bênção para meus irmãos.”

O rosto do Rebe ficou muito sério, e então ele olhou para baixo por um momento. Quando ele ergueu os olhos, tinha um sorriso radiante em sua face e ele disse que D'us iria ajudar a trazer os irmãos dela naquele mesmo ano, e que nós os veríamos em breve.

Agora, voltando à Rússia, os dois irmãos da minha mãe tinham passado o ano inteiro pedindo um visto de saída, mas toda vez seus pedidos eram negados. Finalmente, eles decidiram que não valia mais a pena tentar outra vez, e que precisavam se resignar a viver pelo resto da vida atrás da Cortina de Ferro. Mas, antes de desistirem completamente, eles iriam tentar apenas uma última vez. Isso foi pouco depois que minha mãe recebera a bênção do Rebe e, milagrosamente, ambos tiveram sucesso! Após todos aqueles anos, de repente os russos lhes deram seus vistos para partir.

Quando eles saíram, Yosef se instalou em Crown Heights, portanto estava perto do Rebe, e Sholom Eliyahu foi para Nachalat Har Chabad, em Israel, mas o Rebe lhe enviou uma passagem para ir a Nova York para as Grandes Festas.

Quando ele chegou, teve uma audiência com o Rebe, que lhe disse: “Você é afortunado porque sua irmã tirou você da Rússia.”

Com aquelas palavras, o Rebe reconhecia todos os anos que minha mãe rezara e implorara a ele por bênçãos para a liberação de seus irmãos. Suponho que ela primeiro precisou passar por tudo isso para que a bênção pudesse ser cumprida.