Quando me formei no ensino médio, meus pai deram-me um presente – um tíquete para voar de Paris para Nova York, onde poderia visitar o Rebe. Embora meus pais fossem religiosos, eles não eram chassídicos, mas eu tinha sido conectado com Chabad desde o início da minha adolescência e eles sabiam que esses presente me deixaria muito feliz.

Lembro que ao entrar na sala do Rebe senti muito frio porque o ar condicionado estava forte, mas assim que o Rebe me olhou com seus olhos azuis brilhantes, eu me aqueci. Ele falava comigo suavemente, em francês, e me deixou totalmente à vontade. Senti-me calmo e sereno – como se estivesse com um pai amoroso.

Durante a audiência – que ocorreu em julho de 1968 – o Rebe fez muitas perguntas pessoais. Ele também respondeu as perguntas que fiz a ele, tanto as minhas como aquelas que meus amigos da escola tinham me pedido para fazer. Em particular, as perguntas deles eram sobre questões de fé. Por exemplo, eles queriam ter certeza que a Torá é a palavra de D'us e que foi dada ao povo judeu sobre o Monte Sinai – que essas coisas realmente aconteceram.

“Você pode dizer aos seus amigos,” disse o Rebe, “que assim como sabemos e aceitamos como um fato histórico que Colombo descobriu a América , também sabemos que houve uma revelação de D'us no Monte Sinai.”

Então ele recomendou que estudássemos o Kuzari, a obra do século 12 escrita por Yehudah HaLevi, na qual um rabino explica o Judaísmo ao rei do Khazars. “Tente ler em hebraico, mas se for muito complicado para você, então vá até a Biblioteca Nacional em Paris onde você encontrará uma tradução para o francês.”

Quando retornei a Paris, falei aos meus amigos sobre o que o Rebe dissera e eles ficaram satisfeitos com a resposta.

Tudo isso teve um impacto sobre minha decisão de me matricular na yeshivá Chabad em Israel, dirigida pelo Rabino Schneur Zalman Gafne. Mas após algum tempo, meus pais ficaram preocupados porque eu não estava cursando uma faculdade que me permitiria ganhar um sustento. Eles sabiam que o Rebe tinha dito a um dos meus amigos para retornar à faculdade, portanto eles decidiram visitá-lo em Nova York e discutir o assunto pessoalmente com ele.

Minha mãe mais tarde descreveu-me tudo que tinha acontecido durante aquela audiência. Meus pais disseram ao Rebe que eu estava indo bem na yeshivá, mas isso não bastava: “Queremos que ele volte a Paris e se matricule numa faculdade.” O Rebe respondeu: “Sei sobre o que é aquela faculdade, porque eu mesmo cursei uma faculdade. Posso dizer isso a vocês: terão mais satisfação com ele se o deixarem numa yeshivá por um período mais longo.”

O Rebe também abordou alguns problemas que eu poderia enfrentar na universidade, em particular mencionando a violência de maio de 1968, quando estudantes franceses tentaram fomentar uma revolução. Meus pais foram persuadidos pelo que o Rebe disse, e permitiram que eu continuasse na yeshivá.

Após completar meus estudos na yeshivá, fui a Nova York para uma segunda audiência com o Rebe, Mais uma vez, surgiu a questão da faculdade, e o Rebe novamente aconselhou contra ela. Ele disse que durante parte do dia eu deveria trabalhar numa área que se encaixa na minha natureza, e na outra parte do dia eu deveria trabalhar internamente. E foi isso que passei a fazer, por fim me tornando um emissário Chabad em Bruxelas.

Antes de eu partir para a Bélgica, o Rebe me aconselhou: “Rabi Azriel Chaikin chegou a Bruxelas antes de você, e ele conhece muitas pessoas. Vai ajudá-lo e lhe dar bons conselhos.” E assim, trabalhei em cooperação próxima com Rabi Chaikin durante todos os anos em que atuei como emissário na Bélgica. Durante aquele tempo, estabeleci um Beit Chabad bem em frente do campus da Universidade de Bruxelas, que foi um grande sucesso graças aos esforços da minha falecida esposa, Eta Feiga, que era uma oradora talentosa e um exemplo estelar para os nossos muitos alunos.

Em muitas ocasiões, o Rebe me deu orientações específicas e confidenciais sobre questões da comunidade em particular, bem como bons conselhos sobre meu crescimento espiritual. Por exemplo, ele me aconselhou a usar a noite de quinta-feira para fazer um balanço da semana, me engajar em auto-exame – que é chamado cheshbon hanefesh (literalmente, “uma contabilidade da alma”).

Em outra época, ao final de uma viagem de Nova York para as férias, eu estava para retornar à França e estava esperando para me despedir do Rebe quando ele saísse da sinagoga após as preces da tarde. Outros também estavam esperando, e o Rebe abençoou cada um deles para ter uma viagem segura, mas para mim ele não disse nada. Depois, Rabi Leibel Groner, seu secretário, me esclareceu: Ele disse: “Yaakov, o Rebe pediu-me para dizer a você que, como mais cedo nessa manhã ele lhe deu uma bênção para retornar em segurança a Paris, ele não lhe deu outra bênção agora. Rabi Yehudah HaChassid famosamente disse que a pessoa não deveria dizer adeus duas vezes.”

O Rebe enviou-me aquela mensagem via Rabi Groner porque ele queria assegurar que eu não ficara ofendido – que eu entendera que havia um bom motivo pelo qual ele não me desejara uma boa viagem como a todos os outros visitantes. Apesar de tudo aquilo que estava em sua mente, o Rebe tomou seu tempo para assegurar que eu não me sentira mal. Era assim que ele se preocupava.

Esses são os encontros que lembro mais vividamente. Fui privilegiado de sentir pessoalmente a grandeza do Rebe nas muitas maneiras em que ele me aconselhou na estrada da vida. Ele sempre tinha um motivo para tudo e, embora ele pudesse ser exato, era dirigido por algo acima de tudo – o amor a todo judeu.