Desde os meus dez anos até os quinze, eu frequentei a yeshivá Chabad em Newark, Nova Jersey. Era uma escola muito pequena, pouco conhecida, em uma casa estilo colonial e familiar na Avenida Grumman – dirigida pelo Rabino Sholom Ber Gordon. Embora pequena, a escola oferecia um caloroso ambiente educativo e aprendi muito ali.

Na escola, tornei-me o editor do jornal dos alunos, embora chamá-lo de “jornal” seja generoso demais. Era basicamente uma página que relatava sobre os acontecimentos da escola como: “Sr. Posner, o professor de latim, esteve fora por três dias devido a um resfriado,” e outros eventos e atividades de igual importância. Eu o escrevia com a ajuda do Rabino Eli Teitelbaum, que editava minha escrita que não era muito boa, pois eu tinha apenas uma mínima educação em inglês. Então eu tirava cópias num mimeógrafo, uma versão antiga da moderna fotocopiadora. Eu colocava um punhado e virava uma página por vez através de um grande rolo de tinta que produzia cópias do original. Não me lembro quantas cópias eu fazia, mas nunca eram mais que vinte. Acho que os alunos e os professores liam, e talvez a escola também enviasse cópias para os pais.

O motivo pelo qual estou descrevendo essa atividade extracurricular que me mantinha ocupado quando criança é por causa do que aconteceu subsequentemente com o Rebe.

Rabino Gordon frequentemente levava um pequeno grupo de alunos a Nova York para participar nos farbrenguens do Rebe e ouvir suas palestras profundas sobre a Torá. Lembro-me dessas ocasiões como eventos impressionantes. Havia duas mil pessoas numa sala enorme, que para mim parecia o Estádio Yankee com arquibancadas subindo até o teto. Lembro-me claramente do Rebe distribuindo mashke e todos dizendo l’chaim, mas nós crianças tínhamos suco de uva, é claro. Sempre esperávamos ansiosamente por essas ocasiões.

Então chegou a época em que meu bar mitsvá se aproximava, e Rabino Gordon disse: “É costume você ter uma audiência com o Rebe antes dessa ocasião.”

Isso foi em 1959, quando o Rebe liderava Chabad por oito anos, portanto ele ainda era um homem relativamente jovem, ainda não tão famoso como se tornaria depois, e bastante acessível.

Lembro-me de entrar no escritório do Rebe e vê-lo sentado atrás da mesa, enquanto falava comigo. “Você é Yankel Ackerman,” ele disse, “é o editor do jornal de Newark.”

Fiquei surpreso. Aqui estava eu, um garoto de doze anos de pé na frente do Rebe, que era uma pessoa muito importante. E mesmo assim ele sabia que eu era o editor de um jornal de uma página! Fiquei impressionado.

Não me lembro muito o que aconteceu depois disso, mas lembro que a audiência durou cerca de meia hora e que apreciei cada minuto. Falamos em iídiche, e o Rebe perguntou sobre meu estudo talmúdico, fazendo algumas perguntas simples, que não tive problema em responder. E também recitei várias passagens da Mishná que eu sabia de cor. (Na nossa escola, aprender mishnayot era exigido e recebíamos prêmios – como canetas Parker, um importante presente na época – para cada parte que memorizávamos. Eu tinha uma boa memória portanto decorava sessenta ou mais mishnayot, e tinha uma coleção inteira de canetas Parker.) Senti orgulho por poder recitar aquilo que eu sabia para o Rebe.

Quando terminou, o Rebe me desejou sucesso no meu estudo de Torá e saí dali como uma criança feliz.

Eu gostaria de dizer que para alguém na posição do Rebe devotar tanto tempo a uma criança de doze anos foi marcante. E o exemplo que ele deixou permaneceu comigo.

Apos ter me tornado um cirurgião oftálmico, orientar pessoas jovens passou a ser minha paixão. Convidava-as para me observar durante os exames e imitar meus procedimentos. Tentava ajudá-las a atingir suas metas, se escolhessem se tornar médicos, a serem bons na profissão escolhida.

Essa tem sido minha maneira de retribuir.

O Rebe me deu uma grande dose de encorajamento naquela audiência – como sei que ele fez com milhares de outros, jovens, também pessoas de meia idade ou idosos, que se aglomeravam para vê-lo. E eu sempre quis fazer o mesmo para outras pessoas de todas as formas que pude.