Quando eu estava me aproximando do meu Bat Mitsvá, fui informada que era um costume escrever ao Rebe e pedir uma bênção para a ocasião. Eu era nova em Chabad e não estava familiarizada com esse costume, mas sentei-me para escrever minha carta. Pensei que provavelmente seria bom também dar uma bênção ao Rebe. Eu não deveria apenas pedir e receber; deveria também dar. Essa era a maneira que minha mente de doze anos raciocinava.
Eu sabia que o Rebe não tinha filhos, portanto decidi dar-lhe uma bênção para filhos. Ora, isso foi em 1981, e o Rebe estava quase com oitenta anos, mas eu não via isso como um obstáculo. Avraham não teve Yitschac quando tinha cem anos de idade? A Torá nos ensina que D'us pode fazer tudo!
Mesmo assim, eu estava um tanto tímida sobre escrever sobre isso. Eu não sabia se o próprio Rebe abria suas cartas, ou se seus secretários as liam primeiro. Eu não queria que ninguém mais visse o que eu escrevia, porque eles poderiam não dar minha carta a ele se sentissem que uma bênção de uma menina ao Rebe não era apropriada. Portanto decidi escrever aquela parte da carta em código hebraico.
Há muitos sistemas de substituição onde letras hebraicas são trocadas uma com a outra segundo certos métodos específicos. O mais famoso é chamado Atbash, mas há muitos outros. Meu irmão mais novo ajudou-me com isso, e disse-me qual código era melhor para eu usar.
Escrevi o seguinte em hebraico normal:
Daqui a três dias, em seis de Tishrei, terei meu Bat Mitsvá. E desejo receber uma bênção do Rebe para os próximos anos quando serei obrigada às mitsvot das mulheres... Desejo também receber uma bênção para ter sucesso em tudo que faço – para aproximar a Redenção Final em breve.
Concluí escrevendo em letras grandes ao redor da página: “Eu quero Mashiach agora!” E depois disso, escrevi a seguinte mensagem em código: “Birchati leRabbi sheyivaled lo banim af al pi shelo nigzar lo kach – Essa é minha bênção ao Rebe: que ele tenha filhos, mesmo se assim não foi decretado para ele.”
Pouco tempo depois, recebi uma carta do Rebe endereçada a mim, datada no dia do meu Bat Mitsvá.
Ele escreveu em hebraico:
“Em resposta à sua carta, na qual escreve que atingiu doze anos, que é a idade de Bat Mitsvá. Que seja a vontade de D'us que você aceite sobre si mesma o jugo do céu e o jugo das mitsvot com um coração pleno. Que D'us a abençoe para ter sucesso nos estudos e em suas atividades. Você deveria crescer para merecer ser chamada de filha de Chabad, cumprindo a vontade de nossos sagrados Rebes.
Você deveria também influenciar suas amigas com suas palavras, e ainda mais pelo seu exemplo como filha de Israel que é educada em ensinamentos chassídicos. E que isso traga a você satisfação espiritual e física.”
Em seguida vinha a assinatura do Rebe.
E então, ao pé da página, havia uma frase que não consegui entender. Parecia como um jargão. Pensei que deveria ser algum tipo de referência interna como você vê em cartas de negócios. Mostrei-a ao meu irmão que me esclareceu. “Essa é a resposta do Rebe à sua bênção, no mesmo código que você usou. Diz: ‘Todah al habrachah – obrigado pela bênção.’”
Tendo doze anos de idade, eu pensei que isso era realmente certo, e enquadrei a carta. Mas não entendi a verdadeira importância daquilo até ficar mais velha.
Aqui estava este homem sagrado que passava os dias em prece e estudo de Torá, e obviamente envolvido em liderar Chabad. Ele então passava as noites encontrando pessoas e, no ínterim, respondendo pessoalmente a incontáveis cartas. Meu Bat Mitsvá foi no dia do yahrzeit de sua mãe – durante a ocupada época das Grandes Festas, entre Rosh Hashaná e Yom Kipur – porém naquele mesmo dia, ele respondeu minha carta, o que achei absolutamente genial!
Eu era apenas uma simples menina, não de família conhecida ou destacada. Apesar disso, o Rebe leu minha carta cuidadosamente, tomando tempo para decifrar a mensagem em código, e então tendo o trabalho de responder no mesmo código.
Quando entendi a importância disso tudo anos depois, percebi o quanto eu importava para o Rebe embora ele não conhecesse pessoalmente nem eu nem a minha família. Eu importava simplesmente porque era uma judia.
O Rebe interagia com pessoas de todos os níveis de vida. Não importava qual era sua profissão, se eram religiosos ou não, se tinham conhecimento de Torá ou se eram versados em ensinamentos chassídicos. Se eles eram seres humanos, o Rebe os tratava com respeito e bondade.
Isso é algo que tento passar para as pessoas com quem tenho contato. Não deveríamos limitar nosso amor e carinho àqueles que são como nós, ou aqueles que vivem em nossa comunidade, ou aqueles que são nossos parentes. Precisamos realmente nos importar um com o outro – um e todos – e nos estender como o Rebe nos ensinou a fazer.
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