Seis anos antes de o Rebe Anterior ser exilado da Rússia pelo crime de ensinar Torá, ele já tinha estabelecido uma yeshivá em Varsóvia – Tomchei Temimim. Sendo um jovem solteiro, meu pai – Rabino Yosef Avraham – estudava ali, e em 1933, ele foi nomeado como secretário da yeshivá. E quando o Rebe Anterior se mudou de Riga para Varsóvia, meu pai se tornou um visitante frequente em sua casa.

Lembro dele me dizendo que quando era um menino que, antes mesmo do irromper da Segunda Guerra Mundial, o Rebe Anterior previa que tempos escuros estavam chegando. Não muito tempo após Adolf Hitler se tornar o chanceler da Alemanha, ele pediu ao meu pai para angariar dinheiro para um esforço de resgate. Ele tinha dito ao meu pai: “Há um grande problema se aproximando da comunidade judaica. Mas foi decretado no Céu que eu não posso falar sobre isso.” Na verdade, após suas torturas nas prisões soviéticas, o Rebe tinha dificuldade em falar claramente, e às vezes meu pai tinha de interpretar seu discurso para os outros.

Outra coisa que lembro do meu pai me dizendo, era o conselho do Rebe Anterior para sempre manter as coisas arrumadas e certas – para sempre fazer sua cama e arrumar seu quarto antes de sair pela manhã. Isso causava uma impressão em mim, e aceitei desde os onze anos de idade fazer isso; tenho mantido esse hábito pela maior parte da minha vida.

O Rebe Anterior também disse ao meu pai que se ele alugasse algum lugar – um apartamento, um quarto de hotel, qualquer um – ele deveria devolvê-lo ao dono mais limpo do que o encontrara, especialmente se o dono fosse um não-judeu. Meu pai aceitou este conselho de coração, e ficava muito ansioso sempre que viajávamos juntos. Eu costumava dizer a ele: “O que você está limpando? Não deixamos isso sujo – já estava assim!” Mas ele limpava o lugar como se estivesse preparando o local para Pêssach. “Isso é o que o Rebe me disse para fazer,” ele dizia.

Pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial, meu pai foi à Inglaterra para se casar com minha mãe e, àquela altura, o Rebe Anterior o nomeou como emissário em Londres. Dali, meu pai podia enviar pacotes de comida e outros suprimentos para comunidades Chabad na Polônia e na Rússia para sustentá-las durante aqueles tempos difíceis.

Nasci, fui criado e educado na Inglaterra, e foi somente em 1962, quando eu tinha vinte e três anos, que cheguei a Nova York com meu irmão mais jovem, Yitzchac Meir. Para nós dois parecia que a vida tinha apenas começado. Fomos da atmosfera muito fria do sistema escolar inglês para a calorosa atmosfera da yeshivá Chabad – uma atmosfera que os chassidim são famosos por criar. Era um clima muito diferente, que não podia nem ser comparado com aquele que eu tinha deixado.

Antes de mais nada, era empolgante. O Rebe Anterior tinha falecido doze anos antes e o Rebe agora estava liderando o Movimento Chabad rumo a novas fronteiras – a expansão estava aumentando. Fui imediatamente envolvido com os projetos do Rebe e me tornei muito requisitado porque era um dos poucos estudantes que tinham uma carteira de motorista. Por causa disso, eu viajava para cima e para baixo na Costa Leste fazendo contato com as comunidades locais e ficava muito feliz.

Enquanto isso, em Londres, meu pai teve um terrível acidente de carro no qual o vidro da frente de seu carro foi destruído. Quando aquilo aconteceu – na primavera de 1965 – alguns cacos de vidro entraram no olho dele e ele perdeu a visão naquele olho, mas também o foco no outro olho foi prejudicado. Ele então foi considerado quase cego.

Passou por diversas cirurgias no famoso Hospital Moorfield Eye, mas isso não ajudou muito. Ele tinha de usar óculos escuros gigantes como uma pessoa cega.

Naquela época, Yitzchac Meir tinha ficado noivo, com o casamento planejado para o final do verão em Montreal. Como a data do casamento estava próxima, meu pai passou por outra séria operação, e os médicos o informaram que simplesmente não havia uma maneira para ele se recuperar em tempo de viajar a Montreal para o casamento, algumas semanas à frente. Disseram a ele que nem mesmo um homem mais jovem com forma física perfeita não poderia se recuperar tão rapidamente, com certeza menos ainda alguém da sua idade e estado de saúde.

Yitzchac Meir perguntou ao Rebe se o casamento deveria ser adiado até que meu pai pudesse ir ou se ele deveria fazer como fora planejado, mesmo sem nosso pai. O Rebe respondeu: “Não adie. Ele virá, veremos, e ele dançará no casamento.”

Yitzchac Meir tentou imediatamente comunicar isso ao meu pai, mas quando ligou, ele não estava em casa – estava novamente no hospital. Ele queria que meu pai recebesse logo a mensagem, portanto pediu ao Rabi Nachman Sudak para entregá-la pessoalmente. Quando meu pai ouviu: “O Rebe disse que você deve ir ao casamento,” ele imediatamente disse à minha mãe: “Compre duas passagens para nós.”

Aconteceu então que um importante rabino, Refoel Yitzchok Wasserman, que não era um chassid, estava visitando meu pai na época, e ele objetou: “O Rebe está distante, e seus médicos estão lhe dizendo para não ir! Como ele pode assumir tamanho risco?” Ele estava certo de que todo esse episódio terminaria num desapontamento de partir o coração. Mas ele não entendia o relacionamento que um chassid tem com seu Rebe.

Obviamente, meu pai foi ao casamento, embora minha mãe estivesse muito preocupada de que isso poderia ser a coisa errada a fazer. Durante o voo. ele não podia enxergar. Mas durante a viagem de carro até o salão do casamento, seus olhos começaram a coçar. Então ele pegou seus grandes óculos escuros, coçou os olhos e de repente, olhando através da janela do carro, percebeu que conseguia enxergar!

Quando ele chegou, tudo ocorreu exatamente como o Rebe previra. Ele era capaz de ir, ver e dançar. Aquilo foi algo extraordinário!