Venho de uma longa linhagem de emissários Chabad. Os pais de minha mãe, Rabi Sholom e Rebetsin Chaya Posner, atuaram em Pittsburgh e os pais do meu pai, Rabi Chaim Meir e Rebetsin Rivka Leah Garelik, na Criméia. Por sua vez, meus pais – Rabi Gershon Mendel e Rebetsin Bassie Garelik – estavam atuando em Milão desde antes de eu nascer portanto, em nossa casa, o serviço era um estado natural de ser. Embora fisicamente estivéssemos longe do Rebe e raramente o víssemos, nós vivíamos dia e noite com a consciência do cuidado e orientação do Rebe.
Fui afortunada porque, quando adolescente, fui enviada a Nova York para frequentar Bais Rivkah, o seminário Chabad para meninas. Durante aqueles anos, eu via constantemente o Rebe quando ele estava indo e vindo das preces ou para seu escritório, e tive muitas audiências privadas com ele.
Quando me formei em 1976, fui convidada a ficar – para trabalhar nos seminários Chabad, Bais Rivkah e Machon Chana. Mas quando perguntei ao Rebe, ele disse que eu deveria voltar a Milão para ensinar na escola ali. Isso não era o que eu esperava porque tinha ficado muito feliz em Nova York, mas é claro. Eu fui.
Logo depois que retornei, meus pais começaram a receber propostas de casamento para mim. Eu era muito jovem e não me sentia preparada para shiduch. Mas eu disse aos meus pais que eles deveriam enviar os nomes ao Rebe. “Se o Rebe me disser para sair com alguém, eu sairei,” eu disse. “Mas, até que o Rebe me diga para fazer isso, não quero ouvir a respeito.”
Durante a semana de Pessach, um maravilhoso jovem que fora criado na Itália, Avrohom Hazan, voltou para Milão após passar muitos anos estudando em yeshivot Chabad fora do país. No ano anterior ele tinha organizado um ótimo verão para meninos que nunca tinham tido a oportunidade de estudar Torá e foi muito bem sucedido; agora ele estava de volta para fazer isso novamente.
Seu nome foi colocado como um possível shiduch para mim, portanto quando meus pais me perguntaram, respondi: “Não entendo a pergunta – escrevam o nome para o Rebe, e se ele disser que eu devo sair com ele, assim farei.”
Meus pais enviaram a pergunta através do secretariado do Rebe, e a resposta veio: “É dito claramente na Torá sobre a primeira moça chamada Rivkah: ‘Chame a moça e perguntem diretamente a ela.”
Àquela altura, meus pais me disseram: “O Rebe foi bem claro – você tem de decidir.”
Mas eu não iria ceder. “Nunca saí com ninguém antes. Como vou saber se ele é a pessoa certa?” Portanto escrevi ao Rebe, repetindo meu refrão de que eu sairia com o rapaz se o Rebe me dissesse para fazer isso. Quem quer que o Rebe escolhesse, eu iria encontrar.
O Rebe me respondeu: “Quando você me disser qual é a sua opinião, então deixarei você saber a minha opinião.”
Eu estava num dilema. Após consultar meus pais e meu irmão, enviei dois nomes ao Rebe – o nome de um jovem de uma família muito conhecida e o nome de Avrohom Hazan. O Rebe respondeu circundando o nome de Avrohom e escrevendo “olhe para ele.”
Saímos na noite em que tive a resposta do Rebe e, dentro de uma semana, ficamos noivos. O Rebe enviou duas cartas de congratulações pelo nosso noivado – uma para meus pais e outra para nós. O casamento foi programado para sete meses depois porque eu queria me casar em Nova York na data do aniversário de 50 anos do casamento do Rebe e da Rebetsin, que seria observado no décimo quarto dia do mês hebraico de Kislev, 1978. Mas quando informei ao Rebe, ele foi direto – concordou com a data mas disse que o casamento deveria ser em Milão.
Mais tarde vi o impacto que tivemos por seguir a diretiva do Rebe – nosso casamento gerou manchetes na Itália! Os repórteres locais nunca tinham visto um casamento chassídico, que estava ocorrendo em público, e ainda no inverno. Eles também ficaram impressionados pelas danças russas e descreveram o evento inteiro em detalhes. Quem sabe quantos judeus alienados foram lembrados de seu legado e quantos corações foram comovidos?
Um dos presentes que meu pai nos deu foram duas passagens de avião para Nova York, para que pelo menos um dos sheva brachot, as bênçãos que são recitadas nos sete dias após o casamento, pudesse ser recitada num farbrenguen na presença do Rebe. É claro, assim que chegamos a Nova York, falamos ao Rebe que queríamos ser enviados como seus emissários para qualquer parte do mundo.
Eu estava sonhando que seriamos enviados para um local distante como o Japão, ou pelo menos à Grécia, o que também era a impressão de meu pai. O último local que queríamos servir era de volta a Milão, mas foi para lá que o Rebe decidiu nos enviar.
Fomos informados por Rabi Mordechai Hodakov, o secretário do Rebe, que a partir da nossa base em Milão, Avrohom estaria viajando para várias cidades por toda a Itália, onde viviam pequenos grupos de judeus e onde serviços religiosos eram necessários.
Então perguntei se talvez poderíamos nos instalar em uma daquelas cidades, mas a resposta foi não – éramos necessários em Milão onde eu deveria dar aulas. Tentei outra vez. Mencionei que, devido à situação no Irã, centenas de judeus persas tinham fugido e criado uma comunidade nos subúrbios de Milão. Poderíamos morar nos subúrbios?
A resposta novamente foi não – deveríamos morar no centro da cidade e, ainda mais, como estaríamos trabalhando sob meus pais, os emissários sênior, eu fui especificamente lembrada a honrar meus pais acima de tudo.
Tentei cumprir minhas obrigações alegremente. Tentei muito, embora nem sempre tivesse sucesso. Lembro que, pouco antes de Pessach, em 1991, tive um problema particularmente difícil. Eu me sentia limitada em Milão, embora soubesse que – como tinha nascido em Milão, conhecia o local mentalmente, e falava italiano fluente – este era o local para eu estar. Mas eu ainda não conseguia ver aquilo que o Rebe via.
Escrevi ao Rebe sobre minha infelicidade – abrindo meu coração – e pedi uma bênção especial.
Poucos dias depois chegou uma carta do Rebe endereçada a “Rabi Avrohom” (pois, sem que eu soubesse, meu marido também tinha escrito ao Rebe) e para “a família inteira”. Meu marido e eu decidimos que deveríamos ler como uma família. Então, pegamos as crianças da escola, colocamos nossas melhores roupas de Shabat, preparamos uma refeição festiva, e lemos a carta em voz alta.
Neste carta o Rebe dizia que tinha recebido “nossas cartas” e mos cobria com bênçãos. Ele disse que Pessach é a festa da nossa liberdade, e que essa mensagem deve ser levada durante o ano todo – isso significava que deveríamos ter liberdade de todas as preocupações, ambas físicas e emocionais. E que deveríamos ser felizes dia e noite.
Era uma carta incrível e ela mudou minha vida. A partir daquele dia meu lema se tornou: “Milão é o melhor local para eu ficar, e devo ficar alegre.” A carta está pendurada em nossa casa e sempre que sinto a menor dúvida, tudo que preciso fazer é olhar para aquela carta e minha dúvida se dissipa totalmente. Sinto que o Rebe está aqui comigo – a todo momento – dia e noite.
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