Durante meu alistamento na Força Aérea Israelense, atuei como controlador de voo, um trabalho altamente especializado que envolve dirigir o tráfego aéreo e prover defesa aérea no caso de ataque por aviões inimigos. Durante meus seis anos de serviço, participei em muitas missões importantes, incluindo o bombardeio do reator nuclear iraquiano em 1981.
Quatro anos antes daquele evento, a Força Aérea Israelense decidiu melhorar as capacidades de defesa aérea adquirindo quatro Hawkeyes E-2 – os aviões equipados com sofisticados radares – construídos por Northrop Grumman. E a fim de preparar-se para o novo esquadrão, onze homens da força aérea foram enviados para um ano de treinamento nos Estados Unidos. Fui escolhido para fazer parte do grupo.
Durante o treino, morávamos em Long Island, onde está localizada a fábrica Northrop Grumman, Long Island fica próximo do bairro do Brooklyn em Nova York, e para Chanucá de 1977, fomos convidados para visitar o Rebe em Crown Heights, e participar de um farbrenguen para celebrar a festa.
Nenhum de nós era religioso, mas eu cresci em um lar tradicional portanto fiquei feliz com essa oportunidade. Os nomes Lubavitcher Rebe e Chabad também não eram estranhos para o restante dos meus colegas. Os tanques de Mitsvá Chabad sempre iam à nossa base de tempos em tempos, e todos estavam familiarizados com o trabalho de Chabad, que constantemente se esforça para aproximar judeus da Torá.
Quando chegamos a Crown Heights, antes de entrarmos no grande salão onde o farbrenguen iria acontecer, fomos levados ao escritório do Rebe. Ele nos cumprimentou por trás de sua mesa e, desde o primeiro momento, sentimos estar na presença de um homem notável e especial, um importante líder da nação judaica.
Havia uma espécie de eletricidade no ar, embora eu não possa definir exatamente o que causava a experiência de sentir-me totalmente único. Éramos cinco oficiais – eu era o mais jovem e tinha acabado de entrar no nível de tenente, enquanto os outros estavam no nível mais alto, de coronel. Os secretários do Rebe também estavam na sala conosco, e ficamos de pé ao redor da mesa do Rebe. A conversa inteira ocorreu em hebraico, embora o Rebe falasse com um forte sotaque iídiche.
Para começar, o Rebe perguntou o que estávamos fazendo nos Estados Unidos. Quando dissemos a ele que estávamos ali para treinamento, o Rebe queria saber tudo sobre o novo avião. “Quais são seus principais aspectos?” ele perguntou.
Nossa resposta foi relativamente curta, pois não queríamos entrar em detalhes técnicos, mas ficou claro pelas outras perguntas do Rebe que ele era proficiente em aeronáutica. Por exemplo, quando explicamos que o Hawkeye é uma nave de comando e controle, o Rebe perguntou que altura ela consegue atingir. Quando respondemos que pode voar a 30.000 pés, o Rebe perguntou sobre sua cor. Aviões militares de voo baixo são pintados em camuflagem, para que aviões inimigos que estejam voando acima tenham dificuldade para identificá-los contra as cores do solo abaixo. Mas o Hawkeye era pintado em nuances azul-cinza – um “esquema aéreo de superioridade” – para que possa ficar camuflado contra as cores do céu.
O Rebe então prosseguiu falando conosco sobre outros assuntos oportunos, e expressou sua forte opinião de que nenhuma parte da Terra de Israel pode ser dada.
Naquele tempo as conferências de paz já estavam em andamento entre Israel e Egito, e o tratado de Camp David iria ocorrer em setembro de 1978. O Rebe explicou que a Terra de Israel fora dada ao povo judeu por D'us para ser mantida, e portanto, “não cabe a nós desistir dela” – essas foram suas palavras.
Embora fôssemos soldados em trabalho ativo e não envolvidos em política ou policiamento estrangeiro, o Rebe achou adequado discutir conosco suas opiniões sobre o assunto.
Ao final do encontro, o Rebe deu a cada um de nós duas notas de um dólar, que ele nos instruiu a doar para caridade, e nos abençoou para continuarmos a servir o povo judeu com segurança e efetivamente.
Pouco após a reunião com o Rebe, descemos as escadas até o grande salão, que estava lotado de pessoas. Fomos tão espremidos pela multidão que tivemos de virar nossas cabeças de lado para ver o Rebe, que se sentava sobre uma plataforma alta.
Lembro-me do grande entusiasmo que passava pela sala quando o Rebe entrou. Quando começou os nigunim, canções Cassídicas, que o Rebe encorajava com a mão, um forte espírito de camaradagem encheu o ar, e para mim parecia que, a qualquer momento, o salão iria subir ao ar como um avião.
Quando o Rebe falou, eu não pude entender muito porque ele falava iídiche, mas ficou claro para mim que o Rebe enxergava cada pessoa na audiência. Quando ele olhava a multidão com seus olhos, parecia que ele estava olhando diretamente para cada um de nós, para cada alma que estava presente.
No final do farbreguen, saímos com uma duradoura impressão de que o Rebe era uma pessoa profundamente preocupada com o povo judeu, onde quer que morasse. Para mim, pessoalmente, este foi um encontro muito importante com um gigante da nação judaica, e saí me sentindo inspirado e mais elevado.
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