A Dedicação do Rebe
O Lubavitcher Rebe de nossa geração, Rabi Menachem Mendel Schneerson, de abençoada memória, costumava receber um compêndio volumoso de correspondência pessoal que recebeu durante os anos à frente do movimento desde que assumiu sua liderança em 10 de shevat de 5710, 29 de janeiro de 1950.
O alcance extraordinário e o caráter único da correspondência do Rebe refletem sua influência cada vez maior ao longo dos anos de seu papel de dupla liderança.
Como era possível a um único ser humano, da magnitude do Rebe, um líder ocupado dividindo seu precioso tempo entre as orações, estudos e recebendo milhares de pessoas do mundo inteiro, administrando publicações e entidades ligadas ao movimento, com uma agenda que excedia as horas do dia varando a noite e madrugadas, encontrava tempo para responder a todos, a cada uma das cartas que chegava em suas mãos? Intrigante é saber como os problemas logísticos de tantas cartas que chegavam ao escritório central de Chabad, a sede mundial na Avenida Eastern Parkway, 770, eram resolvidos por seus secretários pessoais. Como eles se empenhavam para realizar essa enorme tarefa sem falhar?

Você pode pensar que seus secretários respondiam as cartas, ou voluntários… nada dissso! O Rebe pessoalmente lia uma a uma, e além de dar conselhos e bênçãos pessoais e personalizadas a cada um que buscava seus conselhos e bênçãos, levava pacotes com a correspondência ao Ohel, onde se encontra so local de descanço de seu sogro, o Rebe Anterior, Rebe Yossef Yitschac Schneerson, de abençoada memória.
Da Yechidut para as Cartas
A yechidut - concessão de audiência privada - a quem buscava o conselho e a bênção do Rebe durante um período de crise espiritual ou material era uma das características da liderança do Rebe. Esses encontros que poderiam durar minutos, ou em alguns casos, prolongar-se mais, com o tempo cresceu tanto que acabou tornando-se fisicamente impossível para o Rebe receber a todos. Então foi necessário estender a yechidut a outro meio de conexão com o Rebe: a correspondência. Com estrita confidencialidade assegurada, as pessoas podiam abrir seus corações para receberem a mesma resposta que teriam recebido na yechidut.
De fato, em alguns aspectos, a escrita tinha vantagens óbvias sobre o encontro pessoal - vantagens para ambos, tanto para o Rebe quanto para o público. A vantagem para o Rebe se manifestaria tanto em termos de tempo, quanto de esforço.
Originalmente, o Rebe devotava três noites por semana, literalmente, para receber as pessoas e a maioria dessas sessões duravam quase até o amanhecer. Embora cada audiência fosse limitada a vários minutos, raramente mais de dez, a fim de dar ao máximo número de pessoas a oportunidade de vê-lo e discutir seus problemas, raras pessoas percebiam a tensão que era imposta ao Rebe durante o transcorrer da noite, com pessoas entrando e saindo em rápida sucessão, cada uma com sua história para contar. O Rebe tinha primeiro de mergulhar no problema do indivíduo que acabara de entrar e dar-lhe conselhos e bênçãos; então, à medida que este deixava o escritóriod o Rebe, o Rebe despojava-se completamente desse estado e, sem ao menos uma pausa, recebia o próximo visitante e passava pelo mesmo processo de novo.
Por ser um homem de grande sensibilidade, certamente o Rebe era profundamente afetado pela angústia e sofrimento de cada pessoa que buscava seu encorajamento, mas tinha que ocultar seu estado interior para parecer mais distante e dar a impressão de que as coisas não eram tão desesperadoras como pareciam, e dessa forma poder fornecer ânimo e força para que a pessoa fortalecesse a fé verdadeira em Hashem e a certeza de que a ajuda divina estava a caminho. Em outras palavras, embora sua inclinação natural fosse chorar com o visitante, o Rebe mostrava um rosto sorridente a fim de reforçar aquela confiança vital e fé em D'us que um judeu deve ter sob quaisquer circunstâncias.
A vantagem das cartas no lugar da yechidut para o público residia no fato de que as pessoas não seriam mais obrigadas a ficar na fila, às vezes esperando horas a fio, para vê-lo. Nem teriam que viajar grandes distâncias para fazer contato pessoal com o Rebe, mas agora podiam fazê-lo, com grande economia de tempo e esforço por meio do correio. No devido tempo, tornou-se possível para o Rebe limitar sua yechidut pessoal a duas noites por semana, e depois a uma, até que foi necessário, sob orientação médica, interromper completamente a yechidut pessoal. E isso obviamente levou a um aumento bastante considerável no volume de cartas pessoais que o Rebe passou a receber.
A tarefa de lidar com uma carga cada vez mais pesada de correspondência nunca se transformou em algo rotineiro ou tedioso para Rebe, ao contrário. Ele sempre demonstrou grande sensibilidade com as cartas, tanto de homens, mulheres ou crianças, independentemente do assunto. A resposta costumava ser expressa em termos afetuosos, que faziam com que o destinatário se sentisse como se estivesse envolvido em uma audiência pessoal com o Rebe, uma vez que no reino espiritual não existe limitações de tempo nem espaço. Uma vez que esse vínculo entre Rebe e autor das cartas era estabelecido, era natural que o remetente quisesse repetir essa experiência de tempos em tempos. A pessoa se preparava antes de escrever da mesma forma que se preparava apropriadamente para yechidut: imergia em um mikve, recitava Tehilim com capítulos apropriados, dava tsedacá entre outros costumes.
Os centros de chabad se espalharam pelo mundo todo, colocando emissários em diversos países, os mais remotos. Não é de surpreender que, dadas essas condições, um acúmulo substancial de correspondência foi agravada por dois "gargalos". Um dos quais ao mais alto nível.
A Dinâmica das Respostas às Milhares de Cartas
O Rebe sempre cuidava pessoalmente de sua correspondência. Ele nunca autorizava nenhum de seus ajudantes a responder em seu nome. Por causa da natureza íntima e confidencial de muitas das cartas endereçadas a ele, o Rebe abria pessoalmente toda sua correspondência, ou fazia com que fosse aberta em sua presença. As respostas assinadas, em sua maioria, pelo próprio Rebe e por mais ninguém. Cada carta a ser enviada, não omitindo as de papel timbrado do secretariado, voltava à mesa do Rebe para uma leitura final antes de ser enviada.
Devido a todo o rigor do processo, as cartas conseguiam passar através dos vários estágios a fim de serem remetidas aos seus destinos. O fato surpreendente sobre isso é que o Rebe era capaz de dispor desse imenso volume de correspondência naquilo que era, falando comparativamente, uma quantidade mínima de tempo. O processo de ler e responder sua correspondência pessoal tomava ao Rebe não mais que cinco ou seis horas por semana, cerca de metade do tempo era passado em duas, às vezes três, sessões por semana, ditando ao seu secretário particular – embora isso mantivesse o secretário ocupado por uma boa parte do seu dia de trabalho!
Como o Rebe conseguia lidar com tantas cartas num curto espaço de tempo?
Bem, por um lado, ele era um leitor excepcionalmente rápido. Ele percorria uma carta com uma ou duas páginas com extraordinária velocidade, sem perder nada nas linhas ou entrelinhas. Então, colocando aquela carta de lado e pegando outra, o Rebe simultaneamente ditava sua resposta à primeira carta ponto a ponto, ou em ordem de importância, como ele determinava. Assim, enquanto o secretário corria contra o tempo, fazendo notas em seu "código" steno original (em letras e palavras hebraicas - porque elas podem ser mais facilmente abreviadas e/ou colocadas em acrônimos e outros meios para salvar tempo e espaço) , o Rebe já estava pronto a responder à próxima carta.
Da mesma forma – eu iria descobrir mais tarde que a extraordinária facilidade do Rebe em dividir sua atenção entre dois assuntos simultaneamente o tinha colocado num bom nível quando era um estudante frequentando palestras na Sorbonne. O Rebe sentava no fundo e sempre tinha um livro com ele, que olhava enquanto o professor palestrava. Quando o professor certa vez o censurou pela sua aparente desatenção à aula, o Rebe deu a ele um breve resumo da palestra, junto com alguns pontos críticos em boa medida.

Leitura e Sabedoria Excepcionais
Ocasionalmente, o Rebe me pedia para ler uma carta em voz alta para ele – não tanto, imaginei, por causa da escrita difícil, mas para ser capaz de ler uma carta ou duas enquanto eu seguia com a leitura, à qual ele mal parecia prestar atenção. Quando eu concluía minha leitura, o Rebe dava suas respostas em sua maneira inimitável, rapidamente e sem hesitação, tanto à carta que eu tinha lido em voz alta, como as próximas uma ou duas que ele tinha, ao mesmo tempo, lido à minha frente.
Porém, com toda a extraordinária habilidade de lidar com suas cartas tão rapidamente, ficava claro – até nos primeiros anos do reinado do Rebe – que não era humanamente possível lidar com a imensa quantidade de cartas dentro do tempo relativamente curto que ele dedicava à correspondência.
Consequentemente, tive a ousadia de sugerir a ele que, no caso de certa correspondência, deveria haver uma maneira de economizar o tempo passado nessa tarefa. Eu me referi, como exemplo, a tal padrão, ou forma de cartas, como saudações de Rosh Hashaná, respostas a pedidos por bênção do Rebe sobre eventos felizes em família, como bar/bat mitsvá, um casamento, aniversários, e assim por diante, que quando considerados todos juntos, embora essa não fosse uma das minhas tarefas, poderiam facilmente chegar a vários milhares ao longo de um ano. Agora, se o Rebe autorizasse a ‘assinatura’ dessas cartas por meios de um carimbo – uma prática universalmente aceita – isso certamente iria economizar uma boa parte do seu precioso tempo.
Com um educado reconhecimento da ideia de seu secretário, o Rebe mesmo assim rejeitou a ideia, acrescentando um motivo que, presumivelmente, deveria ter me ocorrido em primeiro lugar. Na verdade, eu deveria ter sabido que qualquer coisa que parecesse ‘subterfúgio’ seria repugnante ao Rebe. Aqui não precisava ser dito. O motivo do Rebe era simples: “Como posso enviar desejos a uma pessoa numa maneira tão artificial, e como aquela pessoa iria se sentir se ele ou ela recebesse bons votos do Rebe numa carta que era assinada mecanicamente, com um carimbo?” Assim foi o fim daquilo.
Segundo Obstáculo: Idioma e Atrasos
O segundo “gargalo”/ ‘obstáculo’ desenvolvido no nível secretarial, sendo minha tarefa colocar no papel a resposta do Rebe ao crescente volume de correspondência multilíngue vindo de todas as partes do mundo. As respostas do Rebe, porém, somente podiam ser transmitidas em um de não mais que quatro idiomas que seu escritório estava preparado para trabalhar, como mencionado antes. Nessa situação, menos problemática para o secretário era a correspondência em inglês, porque aqui a ajuda – em termos de estenografia – estava disponível, mesmo que isso fosse até onde a assistência técnica era capaz de chegar. Porém, antes de ir para aquele estágio do processo, o secretário do Rebe tinha de lidar com o fato de que suas respostas eram com frequência “dissertações”, comunicadas a ele em hebraico e iidiche, como já foi apontado. Isso envolvia, primeiramente, fazer um rascunho em inglês da resposta do Rebe, às vezes de forma condensada. Essa resposta escrita era então submetida ao Rebe para sua aprovação e assinatura. Ocasionalmente o Rebe fazia anotações à mão ao lado, ou sublinhava uma palavra para ênfase.
Cartas que eram enviadas em hebraico, iidiche e russo, para falantes daqueles idiomas, consumiam menos tempo por um lado, mais por outro. Embora não exigissem tradução para o inglês, a vantagem assim ganha era apagada pela incapacidade de competência dos estenógrafos naqueles idiomas. Assim, eu era obrigado a digitar essas cartas por mim mesmo – um expediente atrapalhado pelo fato de que digitar (em qualquer idioma) nunca esteve entre meus melhores talentos.
Confrontados como estávamos com atrasos inevitáveis, o princípio do "primeiro a chegar, primeiro a ser atendido" não podia, é claro, ser estritamente seguido. Por um lado, havia certas cartas que tinham de ser tratadas com prioridade, embora mesmo a essas as respostas muitas vezes tivessem de começar com um pedido de desculpas pelo atraso inevitável envolvido em seu envio.
Caracteristicamente, ao reconhecer uma carta, o Rebe geralmente dava precedência a um não-Lubavitcher sobre um devoto seguidor e, pela mesma razão, a um gentio sobre um não-Lubavitcher."Meus Chassidim vão entender a demora; outros podem se sentir menosprezados", explicava o Rebe.
A Coroa e Mashiach
"Há 3 coroas", declaram nossos sábios, "a coroa da realeza, a coroa do sacerdócio e a coroa de Torá. A coroa da realeza foi atribuída por D'us à David e seus descendentes, a coroa do sacerdócio foi concedida a Aharon e seus descendentes, mas a coroa da Torá foi colocada ao alcance de todos e qualquer filhos de Israel. "

Como consequência da perda da independência nacional e do exílio da família real davídica, e da destruição de Jerusalém por Nebuchadnezzar [Nabucodonosor], rei da Babilônia (no ano 3338), a coroa da realeza permanece em suspenso até o momento em que será recuperada pelo rei Mashiach, com a Gueulá final e completa. Então, com a reconstrução do Beit Hamicdash, Templo Sagrado de Jerusalém, a coroa do sacerdócio também será restaurada, e o serviço sagrado será retomado mesmo que certas funções sacerdotais continuaram ininterruptas ao longo do período da Galut (o Exílio) até hoje.
Aqueles que estão familiarizados com a vida e obra dos Rebes de Lubavitch, começando com Rabi Shneur Zalman de Liadi, fundador da dinastia Chabad e continuando através das sete gerações, sabem quão fielmente eles cumpriram as responsabilidades ligadas à sua coroa. Mas nenhum superou mais do que o sétimo - "todos os sétimos são amados."
O Rebe recebia a todos com a mesma dedicação. Em uma de suas diversas campanhas enfatizou que a obrigação dos judeus de promover as Sete Leis de Noach entre as nações do mundo: “ É da mesma ordem de obrigação que a de promover o restante da Torá e mitsvot entre os próprios judeus. “
O único ato de um único indivíduo pode fazer pender a balança a favor de sua salvação, da vitória do bem sobre o mal e dessa forma tornar o mundo um lugar melhor para os filhos de D'us ou seja, toda a humanidade. Melhor– significa em um sentido mais profundo – tornar o mundo uma moradia para D’us. E este é o propósito último e razão de nossa existência e destino.
Que possamos aprender valiosas lições através dos volumes publicados das cartas, entre eles “The Letter & The Spirit”, que contêm a sabedoria, o espírito, os conselhos e bênçãos do Rebe.
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