Eu era um jovem aluno da yeshivá, tinha apenas vinte e um anos de idade, e não sabia nada sobre eletrônica; nem sequer sabia como funcionava um telefone. Tudo que eu sabia era como ligar – meu conhecimento só ia até aí. Mas, pela Divina Providência, aconteceu que eu fui a pessoa certa no local exato e me tornei um ponto essencial numa roda que iria se tornar o Centro Mundial Lubavitch de Comunicação.
Tudo começou em 1970, quando Chabad estava comemorando o vigésimo aniversário de falecimento do Rebe Anterior no décimo dia do mês hebraico de Shevat, que obviamente era também o vigésimo aniversário em que o Rebe assumirá a liderança. E havia um pedido dos chassidim em Israel para os procedimentos no Brooklyn serem transmitidos ao vivo.
Naqueles dias, para fazer a transmissão de um áudio ao vivo, três coisas eram necessárias: primeiro, uma linha de telefone; segundo, um local de onde operar; e terceiro, um sala com vista da sinagoga onde as cerimônias seriam feitas.
Por acaso, eu tinha todas as três. Como aluno na yeshivá Chabad, eu tinha recebido uma sala no 770 que estava disponível. Esta sala tinha sido o escritório de um dos secretários do Rebe – Rabino Moshe Leib Rodshtein – mas tinha ficado vazia desde seu falecimento em 1967. Obviamente, eu tinha um telefone, e também uma janela que dava para a grande sinagoga abaixo, que tinha sido instalada para que ele pudesse participar das rezas enquanto estava doente. Dali era possível observar e registrar todo o evento.
Aquela primeira transmissão – que infelizmente, devido à diferença de tempo, não chegou a Israel porque lá já era Shabat – mesmo assim teve sucesso, as pessoas em Chicago e Los Angeles puderam ouvir. E também quando o Shabat terminou, o Rebe fez outro farbrenguen e dessa vez os chassidim em Israel conseguiram assistir ao vivo.
Mais tarde soubemos que o Rebe ficou feliz com a transmissão, e que ele até mencionou a um dos seus secretários que estava se perguntando porque aquilo não tinha sido feito antes. Então, decidimos fazer regularmente aquelas transmissões ao vivo.
O início foi muito simples. Um estudante israelense chamado Shmuel (Mulik) Rivkin, que tinha algum conhecimento sobre engenharia, abriu o bocal do telefone e conectou os fios aos fones de ouvido, o que nos deu a capacidade de fazer a transmissão.
Na próxima vez que o Rebe dirigiu um farbrenguen, puxamos fios de todos os escritórios no edifício vizinho para criar não apenas uma, mas quatro ou cinco linhas de telefone. Mais uma vez, conectamos os fios dos telefones com o gravador e assim transmitir para várias localidades.
Então pensamos ter um sistema. Mas quando tentamos conectar dez linhas de telefone com o gravador, ele pegou fogo. E foi assim que aprendemos o que podíamos e o que não podíamos fazer.
Como mencionei, eu estava envolvido porque tudo estava acontecendo em minha sala, mas eu era apenas um aluno da yeshivá, sem conhecimento de tecnologia. Apesar disso, assim como D'us dotou Betzalel com as habilidades técnicas para construir o Tabernáculo enquanto os israelitas vagaram pelo deserto, assim também Ele me deu a chance de levar este projeto adiante.
Depois que Mulik saiu, comecei a estudar como funciona um telefone e aprendi muito, na maioria por tentativa e erro. Pouco a pouco – com a ajuda de outros, incluindo Yonason Hackner, Yossel Kazen, Eli Winsbacher e Shmuel Goldman – conseguiu desenvolver um sistema muito sofisticado que não estava disponível em outro lugar; você não podia comprar aquilo se tentasse. Representantes de muitas empresas foram checar e não podiam acreditar que foi feito em casa.
Tinha 420 linhas telefônicas e nos dava a capacidade de acessar 600 locais ao redor do mundo. Originalmente, nós o chamamos de LCC por Lubavitch Communication Center, mas então acrescentamos o W oficial para ser como todas as estações de rádio e se tornou WLCC, the World Lubavitch Communication Center – (Centro Lubavitch de Comunicação Mundial).
Após cada transmissão, enviávamos um relato ao Rebe falando a ele dos locais que tínhamos atingido, e após algum tempo, o Rebe estava perguntando pelo relato antes até de conseguirmos enviá-lo. As pessoas até viam o Rebe examinando uma coleção daqueles relatos quando ele estava rezando no local de descanso do Rebe Anterior antes de Rosh Hashaná, o que mostrava como esse projeto era importante para ele.
E também, nos farbrenguens subsequentes, o Rebe mencionou várias vezes que o evento estava sendo transmitido ao vivo e unindo as pessoas ao redor do mundo todo, portanto soubemos que ele tinha apreciado nossos esforços. Lembro-me que uma vez ele disse que assim como o ouro, que tem muitos usos, foi realmente criado para o serviço no Templo, assim também, a tecnologia da transmissão tinha muitas utilidades, mas sua criação foi para divulgar a Torá.
A recepção de locais muito distantes era bastante positiva. As pessoas nos pediam para acrescentar mais linhas, e o Rebe aconselhava que elas contribuíssem com fundos expandindo assim o sistema, a transmissão era dispendiosa.
Transmitir apenas um farbrenguen para Israel custava na época mais de mil dólares, o que seria o equivalente a quase seis mil dólares atualmente. Cada transmissão envolvia pelo menos seis pessoas. Uma estava encarregada do microfone no andar de baixo, assegurando que estava captando claramente a palestra do Rebe. Outra estava encarregada do sistema PA. Outra do registro de áudio, pois cada uma das palestras do Rebe era gravada, e até pelos padrões modernos, essas fitas têm boa qualidade e ainda são ouvidas até hoje. Quando por fim foi acrescentado o vídeo, precisamos de pessoas para cuidar daquilo. Portanto foi um trabalho intenso.
Também colocamos o Rebe na rádio em Nova York, pois muitos chassidim queriam ouvi-lo, aqueles que não podiam comparecer aos farbrenguens – por exemplo, mães de crianças pequenas. A transmissão pelo rádio se mostrou especialmente útil após o Rebe sofrer um ataque cardíaco em 1977. Nos eventos seguintes ele queria falar para reassegurar a todos, e me pediram para levar um microfone da sua sala até o sistema PA. Depois disso, o Rebe falava de sua sala via rádio toda semana após o Shabat, até que o seu médico permitisse voltar ao seu sistema normal de farbrenguen feito na sinagoga.
A princípio, transmitíamos apenas para os principais centros Chabad em yeshivot, mas por fim a rede abrangeu o mundo. Por exemplo, transmitíamos para Londres, e Londres transmitia para toda a Europa, de Amsterdã a Zurique. Transmitíamos para a Venezuela e dali chegávamos ao Brasil e Argentina. Por fim, atingimos todos os locais onde havia uma presença Chabad.
O Rebe enviava emissários a todos os cantos do globo para mudar o mundo, mas ele também queria mantê-los próximos e unidos. E a transmissão ao vivo de suas palestras nos farbrenguens o ajudavam a concretizar isto.
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