Em 20 de julho de 1969, eu tinha idade suficiente para acompanhar em detalhes o pouso na lua, mas não o cinismo. Guardei todos os artigos em revistas e jornais que pude encontrar sobre o assunto. Mas aquilo que mais ficou na minha memória foi o clima no ar. Apesar do conflito civil na América e da guerra no Oriente Médio, era quase impossível escapar do súbito impulso de orgulho sobre esta impressionante conquista da humanidade.

Nem mesmo o maior cínico teria dito que o presidente Nixon estava passando dos limites quando chamou aquela jornada de oito dias de “A maior semana na história do mundo desde a criação.”

A meta principal do pouso lunar era originalmente política. A América precisava desesperadamente mostrar superioridade tecnológica e militar após o embaraço pelos impressionantes sucessos da viagem espacial russa com os Sputniks levando cães, homens e mulheres acima de suas cabeças. Porém a soma do resultado para grande parte do mundo foi um tremendo aumento de confiança na capacidade do ser humano.

Desde o início, muitas pessoas bem informadas estavam certas de que uma jornada como essa era impossível, mais ainda o pouso na volta. E foi – devido ao estado da tecnologia quando John Kennedy anunciou a iniciativa menos de uma década antes. Na época não havia um único computador que tivesse algo parecido com o poder do pior smartphone atual – e estamos falando de máquinas antigas do tamanho de vários refrigeradores. NASA e MIT fizeram grandes conquistas num pequeno espaço de tempo, criando um computador pequeno o suficiente para ser colocado a bordo, e operável por aqueles que precisavam dos dados – praticamente um milagre naqueles dias.

Na Inglaterra, um dos famosos negociantes, William Hill, apostou em 1.000 por 1 em 1964 “para qualquer homem, mulher ou criança, de qualquer nação da terra, estar na Lua, ou em qualquer outro planeta, estrela ou corpo celestial de distancia comparável da Terra, antes de janeiro de 1971.” A própria NASA não estava muito mais otimista. A equipe da Apollo que arquitetava os sistemas com a chefia de Joseph Shea (chamado de um dos maiores engenheiros de sistemas do nosso tempo) estimou que se tudo desse duas vezes tão certo como nos testes precedentes, 30 astronautas seriam perdidos e três poderiam voltar para casa em segurança. Um estudo de risco feito pela NASA depois concluiu que se os resultados fossem a público, “os números poderiam causar dano irreparável.” A partir daí, a NASA se afastou do cálculo numérico de risco.

Então quando aquele “pequeno passo para um homem” realmente deixou sua pegada, houve um salto gigante de orgulho e confiança na humanidade, muito além até da Idade da Razão tinha feito “o homem como a medida de todas as coisas.”

Isso não foi apenas medir e entender as coisas – foi realmente ir numa espaçonave e viajar ali. Um pequeno organismo, menos que um pontinho de poeira na visão cósmica, constrói uma nave com a qual pode fazer o que nenhum planeta ou estrela pode fazer: romper sua casca protetora, viajar para outra orbita celestial, e voltar para casa com segurança e suvenires.

Para muitos, isso parecia o auge da ideia humanista – e a queda da teologia. D'us estava morto num sentido que Nietzche não poderia ter imaginado, e o Homem o tinha substituído gloriosamente.

O Rebe sobre o pouso na luz

Em duas reuniões chassidicas (“farbrenguens”), uma no Shabat após o primeiro homem ter entrado na orbita lunar e uma no dia após o pouso na lua, o Rebe explicitamente abordou essa asserção e a examinou. Como sempre, sua reação não era típica de rabinos ou de líderes religiosos em geral. Não havia como negar a importância do evento, nenhum comentário sobre a inutilidade da missão ou reclamações de que esforços similares não eram feitos para com o bem estar social. Nada que alguém pudesse ter esperado, porém uma espécie típica de reviravolta talmúdica.

Sim, ele concordou, o ser humano realizou algo magnífico. Há muito para se orgulhar. Mas aquilo nos torna tão grandes a ponto de tirar D'us?

Exatamente o oposto! Somente conhecemos a grandeza do Criador pela grandeza de Suas criações. Agora vemos que Ele criou um ser que é capaz de tamanha engenhosidade criativa, quão maior deve ser Aquele que formou essa criatura e a dotou com intelecto!

Ao mesmo tempo, o Rebe continuou, também nos provendo com mais motivos para sermos humildes: se tantos cientistas brilhantes podiam estar tão errados sobre a impossibilidade de viagem espacial e pouso na lua, quantas mais das nossas atuais estimativas também estão erradas? E então outra perspectiva: Quando queremos ver a grandeza do Criador, levantamos os olhos para os céus, como diz o versículo: “Eleve seus olhos para o céu e verá: Quem criou esses?!”

Se daqui do chão ao olharmos para cima podemos atingir tamanho esclarecimento, muito mais então quando podemos ver as estrelas e as galáxias – e também nosso próprio planeta – além da atmosfera. E a partir daquela vista de uma vasta criação, subimos a um nível inteiramente novo de concepção do poder ilimitado de seu Criador – bem como da nossa pequenez perante Ele. Agora podemos olhar para nós mesmos e ver o quanto somos pequenos dentro dessa inimaginável expansão de um universo, que em si mesmo é verdadeiramente e absolutamente nada perante a realidade de seu Criador.

Como Maimônides escreveu em seu código há 800 anos:

Qual é o caminho para atingir amor e temor a D'us? Quando uma pessoa contempla Suas maravilhosas e grandes ações e criações e aprecia sua infinita sabedoria que supera toda comparação, ele irá imediatamente amar, louvar e glorificar a Ele, ansiando com enorme desejo conhecer o grande nome de D'us, como declarou David: “Minha alma anseia pelo Eterno, pelo D'us vivo.”

Porém à medida que ele reflete sobre essas mesmas questões, irá imediatamente se recolher em reverência e temor, entendendo como ele é uma criatura minúscula, baixa e sem importância, colocando-se com sua sabedoria pequena, limitada, perante Aquele que é de perfeito conhecimento, como declarou David: “Quando eu vejo Teus céus, a obra dos Teus dedos, me pergunto: ‘O que é o homem para que devesses mencionar a Ele?”

Se é assim, não deveria haver geração que valorize a grandeza do Criador e a pequenez do ser humano mais do que a nossa.

Há muito a aprender com a reação do Rebe. Para um, o abraço do avanço tecnológico como um caminho para o divino é algo que muitas pessoas espiritualmente inclinadas hoje continuam a perder. Porém aquilo foi um tema subjacente não apenas dessas duas palestras, mas de muitas outras.

Mas aqui está minha conclusão pessoal, humilde: É bom saber que não há necessidade de se auto depreciar ou até minimizar nossas próprias conquistas. Afinal, não é como se D'us tornasse alguém menor porque você simplesmente ficou maior. Pelo contrário, nossas conquistas pessoais, assim como as realizações da humanidade como um todo, nos permite ter um maior entendimento do mundo no qual estamos, e portanto do Criador que está por trás daquele mundo em todo detalhe e todo momento.

O cinismo jamais levou à grandeza, e nem tem falsa humildade.