Algum tempo antes do meu bar mitsvá no inverno de 1966, meu pai – Reb Hersh Mailach Spalter – escreveu para o Rebe. Como sobrevivente do Holocausto cujos irmãos tinham perecido, compreensivelmente ele estava muito emocionado com a aproximação do bar mitsvá de seu filho mais velho. E, obviamente, ele queria marcar a ocasião numa grande maneira, pois na época era um homem com meios.

Mas quando ele informou ao Rebe que estava planejando uma festa extravagante, o Rebe respondeu: “A Torá é cuidadosa quando se trata de [gastar] o dinheiro do povo judeu. Portanto em vez disso, torne-o espiritualmente extravagante.”

O secretário do Rebe relatou essa mensagem ao meu pai pelo telefone, mas meu pai queria ver por si mesmo a resposta do Rebe escrita à mão. Lembro-me claramente de ir junto com ele ao bairro Chabad e ler a nota do Rebe: Quando fizemos isso, meu pai voltou-se para mim e perguntou:

“O que você acha que o Rebe quer dizer?”

Eu era um garoto, portanto como saberia? “Não tenho ideia,” eu disse.

Meu pai deu a resposta: “Acho que o Rebe quer dizer que em vez de recitar um discurso chassídico, deveríamos recitar dois.”

Naqueles dias discutir com o próprio pai era algo fora de questão, portanto fiz exatamente como fui mandado. Preparei um pilpul talmúdico e o discurso chassídico sobre tefilin como é costume, além de um segundo discurso chassídico escrito pelo Rebe Anterior sobre o versículo da Torá, “Como são boas as tuas tendas, ó Yaacov.”

Pouco antes daquele importante dia, meus pais me levaram para uma audiência privada com o Rebe. Quando meu pai disse ao Rebe que, devido ao seu conselho, eu tinha preparado um segundo discurso, o Rebe sorriu. Ele deu-me um sorriso tão radiante que a lembrança tem permanecido comigo durante todos esses anos.

Então o Rebe pediu-me para recitar o início do pilpul talmúdico que eu tinha preparado, que era sobre a exigência haláchica para o couro do tefilin ser preparado intencionalmente para a mitsvá. Ele prosseguiu com duas perguntas sobre as condições que precisavam ser cumpridas para o tefilin ser casher, mas estar na presença do Rebe me deixava muito nervoso e eu congelei, incapaz de responder. Então o Rebe seguiu adiante e começou a me dar bênçãos.

Quando meus próprios filhos atingiram a idade de Bar Mitsvá, eu contei a eles essa história. E eles também recitaram um discurso adicional sobre o dia. Assim como os filhos deles. Portanto o conselho do Rebe tem permanecido por gerações.

Quando completei dezesseis anos – e estudava na yeshivá Chabad em Brunoy, na França – decidi ter os rolos dentro do meu tefilin checados. Não me lembro por que senti a necessidade de fazer isso, mas quando eles foram checados, ocorreu que um rolo não era casher. Uma palavra inteira estava realmente faltando em um dos seus versículos. Essa foi uma notícia devastadora e, naturalmente, me senti terrível a respeito disso. Desde meu bar mitsvá – durante três anos – eu tinha colocado tefilin não casher, o que é o mesmo que não colocá-los de maneira alguma.

Escrevi ao Rebe sobre isso, perguntando como eu poderia consertar tamanho erro.

O Rebe respondeu, instruindo-me a estudar as leis de tefilin como estabelecidas no Código da Lei Judaica pelo Rebe Anterior, o fundador do Movimento Chassídico. Eu também deveria aprender três discursos chassídicos que discutem a mitsvá do tefilin. Eu deveria memorizá-las e repetir constantemente para mim mesmo. Além disso, o Rebe instruiu-me a colocar um segundo conjunto de tefilin escrito segundo as instruções de Rabeinu Tam, a autoridade francesa do século Doze sobre a Lei Judaica.

Até então, eu tinha colocado um conjunto de tefilin de acordo com as instruções de Rashi, o famoso comentarista da Torá do Século Onze, e tinha planejado começar a colocar o segundo conjunto quando completasse dezoito anos, como era o costume Chabad na época. Mas o Rebe instruiu-me a começar imediatamente.

Meu pai enviou-me um conjunto de tefilin de Rabeinu Tam e eu costumava entrar em um armário para colocá-los, pois fazer isso na minha idade teria provocado muitos comentários dos meus colegas da yeshivá.

Pouco antes de completar dezoito anos, voltei de Brunoy para casa, e tive uma audiência com o Rebe por ocasião do meu aniversário. Antes dessa audiência, eu e alguns dos meus amigos tivemos um pequeno farbrenguen, e um chassid um pouco mais velho que nós participou. “Quando você for para a audiência,” ele enfatizou, “revele-se ao Rebe, dispa sua alma e ele irá orientá-lo.”

Mas quando fui ver o Rebe, não pude fazer isso. Eu tinha escrito uma carta realmente longa para apresentar a ele, mas então a rasguei e apenas pedi uma bênção de aniversário.

No ano seguinte, tive mais coragem. Preparei novamente uma longa carta, mas dessa vez, realmente entreguei a ele. Eu dizia onde estava espiritualmente – o que estava fazendo e o que não estava fazendo em termos de meu serviço Divino. Em particular, eu tinha dito ao Rebe que às vezes, quando eu fazia algumas coisas em minha prática espiritual, me sentia vaidoso, no auge do meu ego.

O Rebe respondeu-me – e não me lembro das palavras exatas, portanto estou parafraseando – “Este é o trabalho da sua má inclinação, seu yetser hará. Ele quer que você pare de fazer essas coisas e é por isso que ele está fazendo você pensar que seu ego está envolvido. Se o seu yetser hara está dizendo que você está fazendo isso com orgulho, faça mais! Apenas faça mais e mais. Cumpra uma mitsvá, estude outra página do Talmud, e então outra página. A pessoa é permitida a estudar Torá até por razões ocultas, pois isso leva alguém a estudar Torá pelo seu próprio bem. Portanto siga em frente.”

Era um conselho de mudança de vida e eu saí daquela reunião com o Rebe sentindo-me muito elevado. Quando me abri para o Rebe, ele foi capaz de me aconselhar adequadamente. Foi uma audiência muito especial.