Meus pais vieram de Lodz, na Polônia, onde se casaram e criaram dois filhos. Quando os nazistas invadiram a Polônia, eles foram levados para o Gueto de Lodz que foi liquidado em agosto de 1944, e os moradores enviados para campos de concentração. Meus pais conseguiram sobreviver e se reuniram após a guerra, mas seus dois filhos – um irmão e uma irmã que nunca conheci – não sobreviveram.
Minha mãe logo engravidou novamente e deu à luz minha irmã mais velha em 1946 num campo DP. Infelizmente, minha mãe não estava com boa saúde na época e minha irmã recebeu pouco cuidado pré-natal, portanto passou a vida inteira ficando doente. Eu nasci dois anos depois e, quando era um bebê, imigramos para os Estados Unidos, indo para a seção Brownsville do Brooklyn onde moravam algumas famílias Lubavitch.
Embora meus pais não fossem Lubavitch, eram de origem chassídica e, quando cheguei à idade escolar, eles me enviaram para a escola chassídica mais próxima de nossa casa, que era do Chabad.
O Rebe tinha assumido a liderança de Chabad Lubavitch dois anos antes, em 1951, e as historias sobre ele estavam se espalhando. Minha mãe, que tinha uma crença muito forte no poder dos tsadikim, naturalmente se aproximou do Rebe. Sua confiança no Rebe, suas bênçãos e orientação ficaram ainda mais fortes quando meu pai – que tinha ficado física e mentalmente arrasado pelas suas experiências durante a guerra – faleceu quando eu tinha doze anos, apenas dois meses antes do meu bar mitsvá.
O tempo todo, o Rebe tratava minha mãe com paciência e empatia. Lembro-me dela contando a ele sobre suas experiências no Holocausto – o que durava um tempo muito longo – enquanto o Rebe a escutava com grande atenção. Ele também ficava muito paciente sempre que ela caía em lágrimas, quando falava o quanto minha irmã estava doente, um dos principais tópicos da audiência.
Quanto a mim, eu via o Rebe todo ano na época do meu aniversário. Geralmente, ele me perguntava o que eu estava aprendendo e então me testava naquele assunto. Lembro-me ainda de algumas das suas perguntas porque ele me desafiava algumas vezes.
Certa vez ele me perguntou sobre o ensinamento da Mishná sobre um vigia que tranca um animal em sua jaula e então vai dormir. “Ele é confiável se o animal foi roubado durante a noite?”
“Ele não é,” respondi.
“Mas por que não?”, o Rebe queria saber. “Em vez de ir dormir, ele poderia ter ficado do lado de fora com um revolver em sua mão.”
Fiquei chocado. Eu tinha esquecido completamente que fazer guarda a noite toda está além daquilo que um vigia é obrigado a fazer.
No ano seguinte, ele me fez uma pergunta semelhante. Tinha a ver com as obrigações de um guardião que investe o dinheiro de um órfão para comprar um animal com um defeito. Ele é obrigado a devolver o dinheiro de seu próprio bolso se fez um mau investimento?
“Ele é, se o animal tiver um defeito externo, mas não se o animal tiver um defeito oculto,” respondi corretamente.
“Por quê?” o Rebe perguntou. “Se o animal está com dentes faltando, este é um defeito oculto, mas ele não deveria ter aberto a boca do animal e olhado dentro?”
Mais uma vez, eu fiquei chocado, porém mais tarde entendi que o Rebe tinha basicamente me feito a mesma pergunta de um ano atrás – ou seja, a resposta estava baseada no mesmo princípio.
O Rebe também tinha interesse pela minha vida pessoal, perguntando o que eu fazia no meu tempo livre, encorajando-me a não desperdiçá-lo e dedicar-me ao estudo de Torá.
Quando terminei a escola Chabad de ensino médio, eu, bem como alguns dos outros alunos, não me considerava um Lubavitcher. Isso tinha muito a ver com a abordagem dos administradores da escola que se empenhavam em nos dar uma boa educação religiosa, mas não nos pressionavam para nos tornarmos Lubavitch. Porém, o Rebe tinha o olho em mim. Quando, em 1965, fui para uma audiência por ocasião do meu aniversário de dezessete anos, ele me perguntou sobre meus planos após a graduação. Eu não tinha pensado muito a respeito. Basicamente pensava em aproveitar o verão. Mas fiquei muito embaraçado para dizer isso.
Em reação ao meu silêncio, o Rebe ofereceu uma sugestão: “Seria uma boa ideia para você estudar em Montreal neste verão.” {Havia uma yeshivá Chabad em Montreal e era ali que o Rebe me recomendava ir.) Eu não sabia o que dizer, portanto apenas fiquei quieto.
“Tudo bem então,” continuou o Rebe. “Faremos todos os arranjos para você. Tudo que você precisa fazer é pegar os papeis com meu secretário.”
Foi assim que terminei indo para Montreal para o verão, e quando terminou, o Rebe me perguntou: “No próximo ano, você prefere continuar estudando na yeshivá em Montreal ou em Nova Jersey?”
Decidi por Montreal e fiquei ali por um ano, depois informei ao Rebe que queria ir embora porque minha mãe desejava que eu entrasse na faculdade. Coloquei a culpa nela. Mas na verdade, embora ela estivesse preocupada para que eu aprendesse algo que me ajudasse em meu sustento, na verdade é que também era minha opção. Mas o Rebe achava que continuar estudando em Montrea era uma ideia melhor. Conforme me disse: “Volt geven a guteh zach, un a gleiche zach, un a zach vos is tov b’meod meod,” que traduzido literalmente significa “Seria uma coisa boa, e adequada; uma coisa que é muito, muito boa.”
Recebi a mensagem. E fiz aquilo que ele tinha recomendado.
Por que eu fiz isso mesmo se não estava tão inclinado? Porque eu tinha absorvido a fé da minha mãe na sabedoria dos tsadikim. E acreditava realmente que o Rebe sabia o que era melhor para mim. (E como pude constatar mais tarde, ele realmente sabia}.
Fiquei em Montreal por alguns anos, e então me transferi para a yeshivá principal em Crown Heights. O tempo todo eu sentia que o Rebe estava procurando por mim.
Quando comecei a procurar um casamento, ele me deu uma bênção para encontrar uma parceira adequada, oferecendo-me conselhos que me ajudaram muito. Ele disse que rapazes podem ser muito exigentes, e assim que vêem alguma imperfeição, têm a tendência de rejeitar uma moça que poderia ser uma boa candidata. “Não se apresse a fazer um julgamento negativo sobre alguém,” ele me alertou. “Olhe com um bom olho,” ele disse, “e você verá virtudes que estão ali e aquelas que irão se desenvolver com o tempo.”
Quando deixei a yeshivá, me ofereceram um emprego para ensinar no Hadar HaTorá, um instituto Chabad que tinha sido fundado especificamente para educar aqueles novos em observância da Torá. O Rebe me abençoou para que eu tivesse muita satisfação de meus alunos, e eu tive.
Em resumo, o carinho e os sábios conselhos do Rebe me guiaram a um rumo adequado. Embora eu pudesse ter tido mais sucesso materialmente se tivesse cursado a faculdade, fazer aquilo que o Rebe me aconselhara me trouxe outros tipos de valores. Como minha mãe costumava dizer, “o Rebe sempre sabe melhor.”
Faça um Comentário