Meu pai era Rabi Yisroel Yitzchok Piekarski, que atuou como rosh yeshivá – Diretor da yeshivá do Chabad Central na Eastern Parkway 770 no Brooklyn, durante quarenta e dois anos, de 1951 até 1993.
Isso pode ser curioso por si mesmo, pois não éramos seguidores do Rebe de Lubavitch. Minha família era de seguidores do Rebe Amshinover. Eu fui matriculado como aluno na yeshivá de Chatam Sofer no lado Leste de Manhattan, onde a palavra “lubavitch” geralmente não surgia.
Na verdade, eu nada sabia sobre Lubavitch até o falecimento do Rebe Anterior em 1950, quando todo jornal em Nova York mostrou uma foto de seu funeral na primeira página. Ao ver isso em toda mídia fui à yeshivá e perguntei: “Quem é esse? O que é Lubavitch?”
Não recebendo uma resposta que me satisfizesse, decidi perguntar ao meu pai. Mas também não aprendi muito. Acredito que isso foi porque meu pai não queria que eu tivesse muita conexão com Lubavitch pois poderia contradizer a maneira como ele foi criado.
Mas então, alguns meses após o falecimento do Rebe Anterior em 1950, meu pai recebeu um telefonema de Rabi Shmaryahu Gurary, o administrador das yeshivot Tomchei Temimim, dizendo a ele que Lubavitch estava procurando um rosh yeshivá e que ele tinha sido muito bem recomendado por várias pessoas. (Meu pai era considerado um prodígio talmúdico desde jovem e tinha desenvolvido uma reputação como um gênio de Torá.) Embora a princípio ele estivesse relutante, aceitou o emprego após várias reuniões com Rabi Menachem Mendel Schneerson, que tinha sucedido seu sogro e assumido o papel de liderança do movimento Chabad-Lubavich, como o sétimo Rebe.
Eu não fui estudar na yeshivá Chabad até 1952, quando deixei a yeshivá Chatan Sofer. Minha vida transformou-se para sempre como resultado.
Em 1956, quando eu era um estudante ali, o primeiro acampamento de verão Lubavitch começou pela iniciativa de meu amigo e colega de classe Moshe Lazar. Lembro-me do dia em que ele irrompeu na nossa sala de estudos todo empolgado.
“Consegui um sim!” ele exclamou.
E então ele nos contou que o Rebe tinha aprovado sua ideia de iniciar um acampamento de verão nas montanhas em Catskills – que seria chamado Gan Israel – e que seria um acampamento religioso para meninos judeus de todas as origens. Trabalhei na Colônia de férias Gan Israel durante cinco anos, quando estava localizado em Ellenville, e mais tarde quando se mudou para Swan Lake. E lembro-me claramente quando o Rebe foi ali para uma visita no verão de 1957.
É um fato bem conhecido que o Rebe nunca deixava a cidade de Nova York, e era bastante incomum para o Rebe viajar mais de cento e sessenta quilômetros. Mas o acampamento obviamente significava muito para ele.
Preparamos as crianças para a visita para que apreciassem tamanha honra. Muitas delas não sabiam quem era o Rebe porque não tinham uma origem Lubavitch e algumas delas não eram sequer religiosas.
Nenhuma pessoa, fossem crianças ou madrichim, funcionários presentes naquela ocasião jamais esqueceu essa ilustre visita. O que mais me impressionou foi como o Rebe parecia feliz. Ele estava claramente empolgado com o acampamento. Cumprimentou cada criança e deu um pequeno livro de preces para cada uma. E ele entrou em todo prédio – na sinagoga, na cantina, etc. Estava interessado em ver por si mesmo e aprender sobre os menores detalhes das atividades e acomodações do acampamento.
O quanto este acampamento significou para o Rebe me afetou quando, durante aquele mesmo verão, tive uma audiência privada com ele por ocasião do meu aniversário. Naquela audiência o Rebe me perguntou se eu ensinava as crianças no acampamento, e respondi que não. Minha posição no acampamento era como conselheiro assistente e, como tal, não dava aulas regulares, organizadas, embora todo dia após as preces eu passasse cinco minutos com os meninos explicando uma linha do Kitsur Shulchan Aruch – o Código da Lei Judaica. Mas não pensei que era isso que o Rebe queria dizer quando me perguntou se eu ensinava as crianças.
O Rebe perguntou-me novamente: “Você não ensina mesmo as crianças?” No calor do momento, eu ainda não entendia que o Rebe queria saber sobre minhas breves lições após as preces, portanto novamente respondi: “Não.”
Mas, surpreendentemente, o Rebe estava mais familiarizado com meu programa do que eu estava, e pressionou mais: “Talvez você estude um ponto da lei judaica com as crianças após as preces?”
Após o Rebe fazer a pergunta dessa maneira, finalmente entendi o que ele estava perguntando e respondi que sim.
O Rebe deu-me um grande sorriso, que acabou com qualquer constrangimento que eu poderia estar sentindo pelo equívoco. Então ele perguntou qual seção das leis estávamos estudando, então e respondi que estávamos estudando as leis das bênçãos.
O Rebe pensou por um instante e disse: “Seria apropriado que amanhã de manhã, quando você ensinar as leis das bênçãos para as crianças, deveria também partilhar um conceito que instila reverência a D'us e lança luz sobre o que é uma bênção.”
Ora, naquela hora eram quase três da manhã e eu ainda precisava dirigir de volta ao acampamento. Estava disposto e era capaz de fazer aquilo que o Rebe queria mas não sabia quando teria uma chance de encontrar algo para partilhar com as crianças naquela manhã. Assim quando aquele pensamento, passava pela minha mente, o Rebe disse: “Vejo que você não está certo sobre o que deveria dizer às crianças, portanto direi o que falar. Mas você não precisa dizer a ninguém quem falou isso a você.”
Foi isso o que ele me disse: “Explique às crianças que quando estão fazendo uma bênção deveriam pensar por um momento naquilo que estão dizendo. Está no Tanya e em outras obras chassídicas que começamos a dizer bênçãos com ‘Bendito sejas Tu…’ Ao fazer isso, estamos usando o pronome da segunda pessoa ‘Tu’ como se estivéssemos falando diretamente com D'us, um a um. E então terminamos cada bênção na terceira pessoa – descrevendo as coisas maravilhosas que o Criador faz por nós. ‘Que traz o pão da terra,’ ou “Que dá visão aos cegos’ e assim por diante.”
O Rebe instruiu-me a explicar para as crianças que um judeu é tão próximo a D'us que ele aborda o Criador do Universo como “Tu”, e isso é impressionante. Ele queria que eles valorizassem a proximidade que tinham com D'us.
Repassei este ensinamento às crianças, e sei que a mensagem penetrou porque ouvi das pessoas quarenta anos depois que elas ainda se lembravam desse detalhe em particular.
O Rebe sabia que este acampamento não era algo para durar por um dia, um mês, ou um ano. O que essas crianças viveram e aprenderam no acampamento ficaria com elas pelo resto da vida.
Muitas das crianças que frequentavam o acampamento tinham pouco ensino judaico, mas pelo resto da vida, permaneceram conectadas a Yiddishkeit por causa do que tinham aprendido no Acampamento Gan Israel. E esta era a intenção do Rebe.
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