No início da minha carreira como repórter político – primeiro para Herut, o jornal diário do partido israelense Herut, e então para Yediot Achronot – ouvi muitas vezes o nome do Rebe. Isso porque o Movimento Chabad era especial em seu envolvimento na vida dos israelitas, em manter seu slogan de Ufaratsta, que pode ser traduzido como “espalhando a fé.” A missão Chabad era influenciar questões da vida judaica onde quer que os judeus habitassem.
Eu passava muito tempo nas salas de entrada do Knesset como repórter político, e conheci muitos chassidim Chabad que estavam promovendo educação judaica e a identidade judaica do pais. Hoje quase não há preocupação, social ou comercial, que não tenha uma antecâmara que trabalhe para promover isso, mas então, esses chassidim eram pioneiros. Devido à sua agradável e calorosa abordagem, todos no Knesset – até aqueles que eram cínicos com questões de religião – os tratavam com afeição e com simpatia à sua causa.
Em 1962, como parte do meu trabalho jornalístico fui enviado aos Estados Unidos e decidi que queria conhecer o Rebe. Foi marcada uma audiência, e tivemos uma conversa fascinante. Ao final, eu disse ao Rebe que desejava entrevistá-lo e publicar, mas ele respondeu que não dava entrevistas a repórteres. Mas depois que expliquei que gostaria de discutir assuntos de interesse pessoal e, com sua permissão, publicaria suas respostas, ele concordou em continuar a conversa.
Então abordei várias questões que eu tinha preparado com antecedência. Uma das coisas que perguntei foi por que o Rebe não estava fazendo aliyá para Israel, ou pelo menos indo para visitar.
Em resposta, o Rebe não abordou o assunto, mas explicou que há algumas questões importantes que o estão impedindo de deixar seu local no presente. Viajar para Israel não seria apenas por prazer, ele disse, mas para atingir algo.
“Quando os motivos que estão me obrigando a permanecer nos Estados Unidos não se aplicarem mais, o que posso realizar ali pode ser considerado.”
Perguntei ao Rebe quando ele achava que isso iria acontecer, mas sua resposta foi apenas um sorriso.
Minha pergunta seguinte era a respeito dos eventos atuais. Pouco antes, um astronauta americano tinha orbitado a terra com sucesso, e muitos estavam se perguntando se era possível para o homem aterrizar na lua. Perguntei ao Rebe sobre esse assunto, e também se ele vê a exploração do espaço pelo homem como uma contradição à Torá e à lei judaica.
O Rebe expressou a opinião de que o homem iria de fato conseguir pousar na lua e ele negava totalmente a contradição que alguns viam entre pesquisa científica e Torá. Ele declarou que, pelo contrário, quanto mais a ciência e a tecnologia se desenvolverem, mais óbvio se torna que tudo que a Torá diz é verdade. Ele também previu que algumas presunções científicas básicas, que tinham sido consideradas inquestionáveis durante anos, seriam diminuídas e entrariam em colapso.
Outro tema que surgiu em nossa conversa foi a abordagem do Rebe a partidos políticos religiosos em Israel. Embora o Rebe afirmasse que não queria se envolver na política israelense, ele também afirmou que a existência desses partidos era uma necessidade para que preocupações religiosas fossem levadas em consideração pelo governo.
Enquanto ele estava falando, eu sentia que o Rebe estava tentando me recrutar para ajudá-lo a fortalecer o caráter judaico do país. Ele opinava que o governo israelense está lidando demais com questões laterais e não o suficiente com aquilo que realmente importa. Uma visão honesta da história do povo judeu iria revelar, disse ele, que manter a Torá tinha garantido a existência da Nação de Israel no decorrer das gerações, e que aqueles judeus que se desviaram disso têm desaparecido sem deixar um rastro.
Toda a conversa com o Rebe foi fascinante, e ao final ele me pediu para dar suas recomendações ao fundador do partido Herut, Sr. Menachem Begin, que ele tinha conhecido há dois anos.
Quinze anos depois, em 1977, pouco após ele ter sido eleito como primeiro ministro, o Sr. Begin foi aos Estados Unidos para se encontrar com o presidente Jimmy Carter, e fui enviado pelo Yediot Achronot para cobrir a visita. Mas o primeiro item na agenda do Sr. Begin foi um encontro com o Rebe. Como um judeu tradicional, Sr. Begin sentia que era importante para ele receber a bênção do Rebe antes de ir a Washington se encontrar com o presidente.
O Rebe saiu do prédio – algo muito raro – em honra à chegada do Sr. Begin e eles entraram de braços dados. A reunião entre eles, que durou cerca de duas horas, não foi registrada e o que foi dito durante aquela reunião jamais foi publicado. Mas no final, o Rebe e o Sr. Begin foram até os repórteres que estavam esperando lá fora.
Com a face brilhando, o Sr. Begin declarou apaixonadamente que o Rebe o fortalecera para a reunião com o Presidente Carter, e agora ele sentia que não apenas o povo de Israel estava atrás dele, mas que também estavam todos os judeus do mundo inteiro.
Pouco depois desses eventos, o Sr. Begin me convidou a fazer parte da sua equipe como consultor de comunicação, um cargo que exerci durante dois anos. Foi durante esse tempo que os encontros com os líderes egípcios em Camp David ocorreram, e o Sr. Begin enfrentou pesada pressão política vinda dos americanos e de outros para sair do Sinai. Houve tensos confrontos com o Presidente Carter, e o Sr. Begin designou contato com uma pessoa especial cujo trabalho era reportar ao Rebe tudo que estava acontecendo.
O Rebe insistiu para ele resistir a toda a pressão, mas por fim, o Sr. Begin não considerou esse conselho, e os Acordos de Camp David foram assinados em 1979. (O Rebe declarou mais tarde que este acordo levou a muitos dos problemas que Israel enfrentou subsequentemente.)
A terceira, e última, vez que eu vi o Rebe foi em 1990 quando fui falar com ele enquanto ele distribuía dólares para caridade. Quando me apresentei como Shlomo Nakdimon, o Rebe imediatamente me lembrou que o Talmud fala de um homem chamado Nakdimon Ben Gurion. “E assim, seja o que for que [o Primeiro Minsitro] Ben Gurion deveria ter realizado, você terá de certamente cumprir.”
Ele também disse que Nakdimon Ben Gurion proveu água para os moradores de Jerusalém durante uma seca. “A água simboliza a Torá,” disse o Rebe, me dizendo para incluir palavras de Torá nos artigos que eu publicava, e não apenas como uma alusão, mas claramente e com orgulho.
Após vinte e oito anos, ele ainda estava tentando me recrutar para ajudá-lo a fortalecer o caráter judaico de Israel.
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