Esta história é sobre o Rebe Anterior, Rabi Yosef Yitzchak Schneersohn, que liderou o Movimento Chabad de 1920 a 1950, e faleceu no dia 10 do mês hebraico de Shevat, 5710.
Nasci em Moscou, Rússia, durante a era soviética, quando ser um judeu observante de Torá era um grande desafio. Mesmo assim, meus pais – Mordechai Dov e Chaya Sarah Teleshevsky – perseveraram.
Quando estava chegando a época para eu frequentar o jardim de infância, meu pai não podia sequer aceitar a opção de eu ser matriculada numa escola não-judaica. Obviamente, não havia escola judaica de nenhum tipo; elas tinham sido canceladas. Mas frequentar uma escola do governo comunista significava violar o Shabat, e obviamente eu jamais faria isso. Porém, quantas vezes, semana após semana, eu poderia me ausentar da classe no Shabat fingindo estar doente? Quantas vezes antes que as autoridades da escola percebessem, e meus pais fossem penalizados por praticar o Judaísmo?
Não sabendo o que fazer, meu pai quis entrar em contato com o Rebe, mas toda correspondência era censurada, e qualquer suspeita de afastamento das políticas do governo poderia isolá-lo na Sibéria. Então, meu pai encontrou alguém que estava voando para fora do país e pediu a ele para entrar em contato com o Rebe em Latvia. (Durante aquela época, final da década de 1920 e início dos anos 1930, o Rebe estava morando em Riga após ter sido libertado da prisão soviética pelo crime de promover observância da Torá, e era possível fazer contato com ele ali.)
“Quero que você me prometa,” disse meu pai ao homem, “que se você ver o Rebe, dirá a ele que não quero que meus filhos frequentem uma escola não-judaica. Quero que permaneçam judeus.”
O homem prometeu, e de fato ele fez o que meu pai pediu porque logo depois meu pai recebeu uma mensagem do Rebe. Como ele conseguiu enviá-la eu não sei, mas a mensagem dizia que meu pai deveria ir até as autoridades e dizer-lhes que queria deixar a Rússia.
Meu pai entrou em pânico, porque pensava que se fizesse aquilo, seria colocado no próximo trem para a Sibéria. Mas quando o Rebe diz para fazer algo, um chassid deve deixar de lado seus temores. Então meu pai foi até o escritório do governo e disse: “Quero deixar a Rússia.”
“O quê? Está louco?” foi a resposta. “Vá para casa!”
Meu pai ficou muito aliviado porque o oficial disse “casa” e não “Sibéria”, mas ainda estava enfrentando o mesmo dilema – o que fazer sobre a minha educação.
Ele encontrou outro homem disposto a levar uma mensagem ao Rebe mas a resposta foi a mesma: “Vá até as autoridades e diga a elas que você quer deixar a Rússia.”
Meu pai foi novamente e continuou indo até que – na sétima tentativa – ele finalmente conseguiu os documentos de saída! Quando os recebeu, nem sequer queria ir para casa – apenas mandou um recado para minha mãe ir diretamente à estação de trem com meu irmão e eu.
Ora, tenho de dizer que as mulheres têm mais confiança e fé em D'us que os homens. Minha prova é minha mãe, que – na primeira vez que ela ouviu aquilo que o Rebe disse – imediatamente preparou duas malas para que estivesse pronta para ir. Portanto, assim que ela recebeu a notícia, pegou nós e as malas, deixou tudo para trás, e correu para fora.
Em 1932, após chegarmos em Riga, meu pai foi ao farbrenguen no qual o Rebe falou sobre o poder do pensamento. Esta palestra está impressa na primeira página de Likutei Diburim, onde menciona o Rebe dizendo: “Pensamento tem um efeito... Faz uma diferença prática. Apenas pensar sobre alguém numa maneira positiva e profunda – isso por si só já está fazendo alguma coisa.”
Ao ouvir isso, meu pai perguntou ao Rebe: “E o que faz a pessoa que está sendo pensada receber disso?”
“Ela se beneficia enormemente,” respondeu o Rebe.
Então o Rebe fez uma pausa, e em seguida perguntou: “Onde você estava no último Sucot?”
Meu pai entendeu que o Rebe tinha pensado sobre ele então, e que esses pensamentos tinham nos levado para fora da Rússia.
A princípio meu irmão e eu estávamos matriculados em escolas judaicas em Riga, mas então chegou um tempo em que o Rebe enviou meu pai para a Finlândia, onde a comunidade judaica precisava de seus talentos como cantor e shochet. Mas, depois que chegamos ali, descobrimos que não havia escolas adequadas para nós, portanto meu pai perguntou ao Rebe sobre o que fazer.
“Envie-os de volta para Riga,” foi a resposta do Rebe, e tivemos de retornar para lá para morar com pessoas que concordavam em nos abrigar. Felizmente, nossos avós também estavam em Riga.
Enquanto ainda estávamos na escola em Riga, uma noite tive um sonho no qual ouvi alguém – que mais tarde cheguei a acreditar ter sido o Rebe – falando comigo e dizendo que meus papéis estavam expirando e eu tinha de voltar para casa. Depois que tive este sonho três noites seguidas, percebi que era importante e contei aos meus avós sobre ele.
Eles disseram que chegara a hora para eu e meu irmão partirmos. Então pegamos um trem para a Estônia e na sequencia um navio para a Finlândia, surpreendendo nossos pais quando aparecemos à sua porta.
Na semana seguinte – isso foi em julho de 1941 – Hitler invadiu Riga e meus avós, juntamente com 60.000 outros judeus que moravam ali, foram mortos pelos nazistas.
Acredito que como meu pai tinha nos enviado para Riga sob as instruções do Rebe, o Rebe não iria descansar até que nos tirasse de lá em segurança. Sinto que devo minha vida a ele, e não tem havido nada que o Rebe me pedisse para fazer que eu não fizesse.
Ficamos como uma família na Finlândia até 1946, quando o Rebe nos ajudou a irmos para Nova York, onde ele tinha se reinstalado. Como estávamos nos Estados Unidos, o Rebe me ajudou a encontrar um shiduch. Ele enviou-me para ensinar numa pequena escola em Buffalo, Nova York, e quando conheci meu marido Aaron ali, o Rebe me encorajou a casar com ele.
Após algum tempo, fomos nomeados como emissários do Rebe, atuando em vários locais em Nova York e Massachussetts. Por fim, fomos para a Filadélfia, onde fazíamos trabalho externo, e meu marido dirigiu uma escola judaica até seu falecimento em 1977. Durante nossas três décadas de serviço, estávamos ambos igualmente devotados ao Rebe - não mexíamos um centímetro sem seu conhecimento e aprovação.
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