Durante o jejum de Tisha B’Av em 1958 minha mãe – Chaya Sarah – ficou muito doente. Ela era uma mulher muito piedosa que sentia profundamente a dor deste dia quando pranteamos a destruição do Templo em Jerusalém, e ela recitava as longas preces chamadas Kinot com lágrimas nos olhos.

Enquanto estava rezando, ela sentiu uma terrível dor de cabeça e de repente perdeu a visão. Na época ela estava sozinha em casa porque meu pai, Rabi Yechiel Michel Charlop, estava na Califórnia, e eu estava visitando meus parentes em Bufalo. Mas ela teve a presença de espírito de ir até o telefone e ligar para uma amiga cujo filho era um neurocirurgião.

O filho, Dr. Sheldon Katz, chegou logo em seguida, e eu também assim que fui avisado do que tinha acontecido. Vários especialistas foram consultados; eles não estavam certos sobre o que tinha acontecido com ela – talvez fosse um derrame ou um aneurisma rompido – mas, qualquer que fosse o problema, ela estava com hemorragia e sua condição era grave. Uma operação para cessar o vazamento de sangue era exigida, mas ela poderia não sobreviver a isso.

Por fim, eles conseguiram contratar os serviços do Dr. Morris Bender, um especialista mundialmente famoso e diretor do departamento de neurologia do Hospital Monte Sinai, que chegou à casa dos meus pais antes da meia-noite. Seu prognóstico foi menos duvidoso que aquele dos outros médicos e ele foi contra cirurgia imediata, mas ele insistiu que ela deveria ser hospitalizada para que vários exames pudessem ser feitos.

Os resultados não trouxeram nenhuma ajuda; o verdadeiro motivo para a dor e a cegueira de minha mãe não pôde ser encontrado. E a essa altura, Dr. Bender disse que ele gostaria de fazer um angiograma do cérebro dela. Angiogramas – onde fluido rádio-opaco é injetado na corrente sanguínea para que um raio x possa ser feito – eram relativamente novos na época e tinham um risco considerável. Dez por cento das pessoas que passavam por angiogramas morriam.

Eu conhecia bem os riscos. Na verdade, um dos meus professores, Rabi Yeruchim Gorelik, recebeu um angiograma que o colocou num coma que durou um ano e meio. Mas Dr. Bender insistiu.

Enquanto estávamos decidindo sobre o que fazer, minha mãe pediu que Rabi Baruch Putterman, amigo da família e famoso chassid Lubavitch, perguntasse ao Rebe se eles deveriam ou não fazer o angiograma. Minha mãe nunca tinha encontrado o Rebe pessoalmente, mas tinha ouvido muito sobre ele e ela confiava que ele iria nos ajudar a tomar essa decisão importante.

Rabi Putterman relatou que o Rebe tinha dito: “Encontre um médico que pense que você não deveria fazer o teste.” Ele não nos disse para conseguir um médico melhor, e também não falou diretamente com Dr. Bender e aconselhou contra o angiograma. Ele queria que encontrássemos outro médico que nos diria para não fazer isso. Então precisávamos conseguir outra opinião.

Quando dissemos isso ao Dr. Bender, ele ficou furioso. “Vocês estão loucos?” ele gritou conosco. “Eu mantive sua mãe viva.” (isso era verdade; os outros médicos pensavam que havia pouca esperança, mas ele a tinha hospitalizado e supervisionado seu tratamento.) “Então como vocês podem agora questionar meu julgamento? É importante para a saúde dela que entendamos o que está acontecendo dentro do cérebro dela porque isso vai nos ajudar a saber cqual o melhor procedimento a ser feito. Se não entendermos o que está ocorrendo, talvez não sejamos capazes de salvá-la.”

Meu pai queria concordar com Dr. Bender; ele temia que fosse tolice ouvir o Rebe, que estava liderando Chabad por menos de uma década, ao invés de desconsiderar a opinião do melhor neurologista do pais. Mas minha mãe teimosamente se recusou a escutar. Ela era uma mulher de personalidade forte, sabia o que queria e, apesar das objeções do Dr. Bender e das reservas do meu pai, ela insistia para seguirmos as instruções do Rebe.

Quando o Dr. Bender viu que ela estava irredutível, ele concordou em ter outro médico a examinando, mas ele disse que somente iria respeitar a opinião de dois – Dr. H. Houston Merrit, o médico do Presidente Dwight Eisenhower, ou o Dr. Sam Bernard Wortis, professor de neurologia na NYU Escola de Medicina e diretor dos serviços neurológicos no Bellevue Medical Center.

Dr. Merrit estava então atendendo ao Presidente Eisenhower após seu ataque, mas Dr, Wortis concordou em ir naquela tarde avaliá-la. Porém, ele nos avisou: “Não consigo imaginar irmos contra Dr. Bender.”

Depois que Dr. Wortis examinou minha mãe e olhou os registros médicos – que eram extensos, então, minha mãe tinha sido hospitalizada durante duas semanas e tinha passado por muitos exames – ele começou a caminhar pela sala. O que ele estava fazendo?

“Estou pensando se vou contra Bender,” ele respondeu. “Tenho de resolver se este angiograma iria realmente mostrar algo que pudesse mudar sua condição. Dr. Bender pensa que talvez iremos encontrar algo sobre o qual não sabemos. Mas, após pesar os prós e os contras, não penso que valha a pena assumir o risco.”

Por causa do Dr. Wortis, o Dr. Bender parou de insistir no angiograma. Cerca de uma semana depois, minha mãe recuperou a visão por si mesma. Ela pegou o livro de orações que tinha mantido ao seu lado no hospital e começou a recitar as preces. E este foi o final feliz dessa história dramática que poderia ter terminado muito diferente se minha mãe não tivesse insistido – apesar dos especialistas – que seguíssemos o conselho do Rebe.