Nasci numa família Chabad-Lubavitch na cidade que na época era chamada de Leningrado (e agora é chamada de São Petersburgo). Durante a minha infância, os chassidim sofreram muito na Rússia Soviética, pois esses foram os anos em que a KGB perseguia impiedosamente aqueles que tentavam manter ardendo as chamas do Judaísmo.

Poucos meses antes do seu casamento, minha mãe viu seu pai, Rabi Yitzchok Raskin, ser agressivamente arrastado para fora de casa por agentes da KGB pelo crime de ensinar Torá clandestinamente. Antes que ele saísse, conseguiu dizer aos filhos: “Mantenham os caminhos de seus antepassados “Mantenham os caminhos de seus antepassados”” – o que o fez levar um golpe dos seus captores. Infelizmente, essas foram as últimas palavras que eles ouviram do pai – mais tarde souberam que ele fora assassinado apenas umas poucas semanas após ser preso.

Quando a Segunda Guerra Mundial terminou, foi assinado um tratado entre a Polônia e a União Soviética permitindo que os cidadãos poloneses, que fugiram para o território soviético durante a guerra, retornassem ao seu país. Os Lubavitchers usaram essa oportunidade para organizar uma extensa rede de falsos documentos, que permitiu muitos partirem usando as identidade de cidadãos poloneses.

Meus pais também queriam sair e, por esse motivo, nos mudamos para a cidade fronteiriça de Lvov onde a rede funcionava. Mas antes que os arranjos pudessem ser feitos, a KGB descobriu e meus pais, entre muitos outros, foram presos sob a acusação de traição. Assim, aos onze anos, fui deixado sem pais e tive de ir da casa de um parente para outra.

Após a morte de Stalin, muitos dos prisioneiros que tinham sido enviados a campos de trabalho forçado foram libertados, incluindo meus pais, que foram liberados após seis anos de prisão. Pouco mais tarde, nos mudamos para Tashkent, onde havia uma grande comunidade de Lubavitchers.

Casei-me em Tashkent e comecei a trabalhar como técnico na indústria aeroespacial na União Soviética. Em nossos farbrenguens, os participantes desejavam uns aos outros que um dia merecessem encontrar o Rebe na América , e até havia uma canção que entoávamos sobre isso.

Finalmente minha esposa, eu e nossas duas filhas tivemos permissão para um visto de saída. Fomos a Israel, onde nos instalamos em Kfar Chabad, e pouco antes de Pessach de 1973, viajamos a Nova York para visitar o Rebe pela primeira vez. Nosso sonho de muitos anos finalmente foi realizado!

Quando chegamos, pedimos uma audiência privada. Estávamos hospedados na casa do primo de minha esposa, Rabi Guershon Jacobson, e ele ajudou a nos prepararmos para nossa audiência. Pela sua sugestão, preparamos uma lista escrita de todos os tópicos que esperávamos discutir com o Rebe, bem como os muitos pedidos para bênçãos que outros refugiados judeus da União Soviética tinham nos pedido para apresentar ao Rebe. Rabi Jacobson disse que se não anotássemos essas coisas com antecedência, poderíamos esquecê-las na presença do Rebe.

Na verdade, quando finalmente entramos em seu escritório, eu estava tão comovido que fui incapaz de dizer uma palavra. Olhei para a face calorosa do Rebe e seu sorriso paterno, senti uma calma e consegui falar.

O Rebe me fez muitas perguntas. Ele estava muito interessado na vida na URSS e queria saber como os chassidim ali celebravam as festas, como eram os farbrenguens, e como eles estavam conseguindo manter a Torá.

Depois que respondemos às suas perguntas, pedimos ao Rebe para abençoar aqueles que nos tinham dado seus nomes. Entre eles estava o nome de um aluno na escola onde minha esposa trabalhava; o menino estava muito doente e entregamos ao Rebe uma carta dos pais dele. O Rebe leu a carta mas não disse nada. Aquela altura, minha esposa falou, mas o Rebe apenas disse: “Eu sei, já me perguntaram.”

Infelizmente, quando voltamos, essa criança faleceu. Entendemos que o Rebe deve ter visto coisas que outros não poderiam ver e que, neste caso, sabíamos que não havia possibilidade de reverter o decreto.

Também nessa conversa, perguntei ao Rebe sobre as várias oportunidades de trabalho que me foram sugeridas em Israel – dentre as quais estava o cargo na indústria aeroespacial. Eu estava inclinado a esse campo pois tinha experiência nele, mas havia outras ofertas promissoras também. O Rebe perguntou sobre o tipo de pessoas que trabalham nessa indústria, e ao ouvir que eram pessoas altamente educadas, ele aconselhou-me a aceitar o cargo.

Ele falou sobre a necessidade de fazer contato com os imigrantes seculares mas altamente educados indo da URSS para Israel, dizendo que temos de facilitar seu processo de absorção não apenas materialmente mas também espiritualmente. Apesar do fato de que eles eram bem educados e tinham graus universitários, a maioria não tinha conhecimento básico sobre o Judaísmo. O Rebe sugeriu que abríssemos centros onde poderíamos ensinar Torá e história judaica a eles a fim de aproximá-los do Judaísmo.

O Rebe também nos disse: “Nos anos recentes, muitos judeus chegaram a Nova York vindos de cidades da União Soviética onde viviam chassidim Chabad. E através desses chassidim, essas pessoas se conectaram comigo. Mas muitas nunca vieram me ver. Enviei alguns dos meus discípulos para perguntar a eles por que não vêm, mas a única resposta tem sido: ‘Se fôssemos, não teríamos uma escolha a não ser mudar, e temos medo disso...’”

Quando deixamos o escritório do Rebe, eu disse à minha esposa: “Essa é uma informação muito interessante, mas por que o Rebe sentiu a necessidade de nos dizer isso às quatro horas da manhã? Deve haver algum significado para isso.”

Demorou vários anos, mas finalmente descobri.
No início dos anos de 1990, quando as grandes ondas de imigrantes judeus estavam vindo da antiga União Soviética, entendi que tínhamos de ajudá-los não apenas com suas necessidades físicas mas também com suas necessidades espirituais – como o Rebe tinha nos instruído. Precisávamos conectar esses judeus com ele, pois isso iria influenciar a sua conexão com seu legado.

Esse então se tornou meu objetivo mais importante, e o ímpeto por trás dos livros que publiquei em russo.

Recentemente, um amigo meu de Moscou fez contato comigo e disse-me que sua filha visitou Israel pelo programa Birthright. Antes de partir, ele deu meu livro a ela, “The Rebbe You Don’t Know”, uma compilação de histórias inspiradoras sobre o Rebe. Quando ela terminou de ler, deu o livro para sua miga, mas ela o devolveu explicando: “Não quero ler isto. Tenho receio de que se eu ler, terei de mudar meu estilo de vida...”

Quando escutei isso, as palavras do Rebe ecoaram em meus ouvidos. Isso me lembrou como o Rebe estava certo e me encorajou a aumentar meus esforços em continuar a divulgar sua mensagem – porque quanto mais pessoas aprendessem sobre o Rebe, mais conectadas se sentiriam a ele, mais desejariam fazer mudanças positivas em suas vidas mantendo a Torá e suas mitsvot.