Quando me formei no ensino médio, os membros da comunidade judaica em Indianápolis, minha cidade, me ofereceram uma viagem grátis a Israel. Eles pensavam que uma criança como eu – que tinha recebido somente uma mínima educação judaica e cujos pais eram minimamente observantes – precisava de um empurrão para permanecer judeu. E então fui para Israel, junto com mais duzentas crianças como eu, logo após o final da Guerra dos Seis Dias de 1967. Passamos dois meses passeando, e em todo lugar que íamos, víamos pessoas felizes. Isso causou uma impressão em mim porque, em casa, eu raramente via pessoas que pareciam tão felizes.

Por que esses israelenses eram tão felizes? Eles nos disseram que durante seis meses tinham vivido com medo de seus vizinhos árabes que declaravam em voz alta que planejavam empurrar todo judeu para o mar. E então, em seis breves dias, Israel venceu todos eles e recuperou vastas áreas de território, tudo com baixas mínimas.

Como resultado dessa experiência, decidi permanecer em Israel e estudar na Universidade Hebraica. Durante essa época,eu era também fortemente influenciado por uma incursão no ioga como uma prática religiosa. Eu gostava da ideia de que a pessoa deveria levar uma vida simples, ser vegetariana, e não prejudicar outros seres vivos. Essa era uma ideia que ia contra o ideal americano capitalista – que parecia egoísta em comparação – de que a pessoa deveria ganhar muito dinheiro, e comprar uma grande quantidade de coisas belas.

Comecei a praticar meditação ioga – pensar sobre a alma, sobre o Criador e sobre ajudar aos outros. Após alguns meses, comecei a sentir uma nova sensação, que identifiquei como felicidade. Eu estava feliz porque todo dia estava fazendo coisas boas. Todo dia, eu não sentia as carências e frustrações que surgem do desejo de possuir bens como dinheiro e carros de luxo.

Também passei muito tempo vagando ao redor do deserto da Judéia perto de Jerusalém, onde via a beleza da natureza que D'us tinha criado. Então minha crença em D'us se tornou muito forte. Creditando tudo isso ao ioga, pensei em ir para a Índia para um estudo mais aprofundado.

Meu pai ficou alarmado, e quando retornei aos Estados Unidos por um breve período, ele agendou com seu sócio de negócios – Charles Roth, que era afiliado ao Chabad – conversar comigo. Charles convenceu-me que eu poderia encontrar os mesmos benefícios nos ensinamentos chassídicos. Os chassidim também praticavam meditação e tinham uma forte conexão com D'us. Ele disse, recomendando que eu mergulhasse num livro chamado Tanya, a obra principal do Rebe Anterior, o fundador do Movimento Chabad.

Para encurtar uma longa história, isso me levou ao estudo de outros textos judaicos e a visitar Kfar Chabad, em Israel. Como resultado daquela experiência, matriculei-me na yeshivá um local que dava boas vindas a pessoas como eu que tinham pouca ou nenhuma base judaica.

Quando comecei a estudar nessa yeshivá, percebi que alguns dos alunos se sentavam em silêncio por cinco ou dez minutos antes de começarem as preces, e entendi que eles estavam meditando. Aproximei-me de um deles e ele confirmou isso, dizendo-me para falar com o mentor espiritual da yeshivá, Rabi Shlomo Chaim Kesselman para saber mais. Foi como aprendi o significado da meditação chassídica e sua base na contemplação do Capítulo 41 do Tanya.

Comecei a meditar sobre este capítulo por cinco a dez minutos todo dia. E em breve me senti chegando perto de D'us, uma sensação muito especial, maravilhosa. Eu também estava indo bem nos meus estudos talmúdicos com Rabi Shneur Zalman Gafni e em meus estudos chassídicos com Rabi Hershel Hecht.

Após uns poucos meses, foi-me sugerido que eu fizesse contato com o Rebe para orientação, então escrevei uma carta contando ao Rebe a história da minha vida. No devido tempo chegou uma resposta – uma linda carta – na qual o Rebe dizia que ele estava gratificado porque, após minhas viagens espirituais, eu encontrara finalmente o caminho certo:

“Por mais que você seja afortunado por chegar ao seu destino, ou seja a Torá, a Torá da Verdade... você agora irá apreciar o alívio que vem após uma jornada como essa, e vai utilizar todas as suas capacidades nos ‘quatro cúbitos’ de Torá e mitsvot. E embora a expressão {talmúdica] fale de “quatro cúbitos”, esses são os “quatro cúbitos” que abrangem o mundo inteiro.

“Já tive muitas vezes ocasião de enfatizar que, exatamente em nosso tempo e idade, podemos ver claramente como uma pequena quantidade pode produzir resultados extraordinários que estão completamente fora da proporção. Já vimos as forças destrutivas que podem ser percebidas a partir de uma quantidade muito pequena de várias libras de material atômico. Se isso é assim no aspecto negativo e destrutivo, muito mais é no aspecto bom e construtivo... É por isso que os ‘quatro cúbitos’ da Torá e mitsvot, até de um único indivíduo, podem ter um tremendo efeito sobre o mundo inteiro.”

O Rebe prosseguiu dizendo que há aqueles que pensam que é necessário trazer mudança ao mundo através de revoluções violentas e propaganda em alto tom, mas esse não é o caminho da Torá, que nos ensina que grandes coisas podem ser realizadas até por pequenas boas ações. Nesse contexto, o Rebe citou Maimônides, o grande filósofo judeu do Século 12, que dizia: “Uma pessoa deveria sempre considerar a si mesma e o mundo igualmente equilibrados. Assim, a qualquer tempo, quando uma pessoa fizer uma boa ação, ele ergue a balança em prol de si mesma bem como do mundo inteiro.”

Sua carta me inspirou muito. Durante meu segundo ano na yeshivá, minha mãe foi visitar-me e me deu algum dinheiro extra. Pouco tempo depois, estávamos acompanhando RabIno Kesselman até o aeroporto para uma visita ao Rebe. No calor do momento, decidi enviar o dinheiro como uma contribuição para as campanhas do Rebe.

Rabino Kesselman mais tarde me disse que quando a doação foi feita, o Rebe perguntou sobre meu progresso. E quando Rabino Kesselman respondeu que eu estava indo bem nos estudos e meditando antes das preces, o Rebe ficou muito feliz. Ele se levantou e exclamou: “Ben Zion contempla Chassidut antes de rezar! Seria ótimo se todos os estudantes fizessem o mesmo!”

Subsequentemente, tive a oportunidade de me encontrar com o Rebe pessoalmente e perguntei a ele sobre minha prática de prece. Ele respondeu que eu deveria continuar meditando sobre o Capítulo 41 do Tanya, bem como estudar ocasionalmente o primeiro capítulo da seção do Tanya intitulada “O Portão da Unicidade e Fé.” Este capítulo fala sobre como D'us constantemente recria o mundo, e se Ele não recriasse o mundo a cada segundo, então o mundo deixaria de existir.

Portanto agora, quarenta e nove anos depois, penso sobre isso todo dia antes de rezar – que D'us fornece a tudo no mundo sua existência – o tempo todo, e em cada instante. Perceber isso me ajuda a levar uma vida feliz, e quando testes e desafios intervêm, isso me ajuda a lembrar que D'us é tudo.

Esta é a mensagem que recebi do Rebe e dos ensinamentos chassídicos. E tenho tentado durante toda a minha vida transmitir essa mensagem a outras pessoas, onde quer que eu vá e quem quer que eu encontre.