Nosso segundo filho, Yossi, nasceu perfeitamente saudável, mas tudo mudou quando ele tinha apenas onze meses de idade. Naquela época, na segunda metade de 1977, o Ministro da Saúde de Israel tinha recebido duas remessas defeituosas da vacina DPT que normalmente protege uma criança contra difteria, coqueluche (também conhecida como tosse infecciosa) e tétano. E infelizmente, Yossi foi uma das últimas crianças a tomarem essa vacina da má remessa antes que as autoridades soubessem que havia um problema e parassem de usá-la.

Infelizmente, ele ficou cego, surdo e muito hiperativo. Da noite para o dia, nossas vidas viraram de cabeça para baixo.

Eu tinha sido ordenado como rabino e pensava que o rabinato seria meu futuro. Mas então ficou aparente que não seria assim.

Como não conseguíamos ter o que precisávamos em Israel, fomos para Nova York procurar ajuda médica. Meu tio, Dr. Hershel Samuels, era co-diretor do departamento ortopédico no Centro Médico Maimônides, e ele nos colocou em contato com vários neuro-oftalmologistas de renome. A partir dali aprendemos rapidamente que o nervo ótico de Yossi foi danificado, e ele jamais voltaria a enxergar.

Como os médicos nos Estados Unidos estavam sendo muito atenciosos e apoiadores, decidimos permanecer, e comecei a trabalhar na área da computação.

Então um dia, na primavera de 1981, enquanto meu tio Hershel estava me visitando, ele mencionou um dos seus pacientes, a Sra. Schneerson. Ele raramente falava sobre aqueles a quem tratava, mas ele não podia deixar de falar tantas coisas positivas sobre ela – o quanto era expressiva, culta, e brilhante.

“Você está falando sobre a Sra. Schneerson, a esposa do Lubavitcher Rebe?” perguntei.

Na verdade, ele estava falando sobre ela. Então eu disse a ele: “Se você pudesse conseguir-me uma bênção do Rebe para o Yossi, isso para mim iria significar o mundo.”

“Sem problema,” ele respondeu. “Na próxima vez em que a Sra. Schneerson vier aqui, pedirei a ela.”

Seis semanas depois, ele me chamou. “A Sra. Schneerson veio mais cedo e eu disse a ela que meu sobrinho gostaria de uma bênção de seu marido para seu filho doente,” ele disse. “Ela prometeu marcar e acaba de me ligar. Você pode ir ver o Rebe amanhã às três da tarde.”

Fiquei muito empolgado, e liguei para Rabi Yitzchok Wineberg, o emissário do Rebe em Vancouver, minha cidade natal. Quando ele soube que eu tinha um encontro marcado, riu: “Kalman,” ele disse, “até meu pai, um emissário Chabad sênior não pode ir ver o Rebe. Seu tio quer fazer o bem, mas duvido realmente que você vai conseguir ver o Rebe pessoalmente.” (Aparentemente como resultado de seu ataque cardíaco quatro anos antes, audiências privadas com o Rebe não eram mais possíveis.)

Porém, eu não fui dissuadido.No dia seguinte, tirei folga do trabalho e dirigi até a Sede Chabad em Crown Heights com minha esposa e Yossi, Deixei-os no carro e corri até o prédio para ver se este encontro era real. Era! A Rebetsin tinha de fato agendado, e imediatamente após as preces da tarde, Rabi Binyomin Klein, secretário do Rebe, nos levou diretamente ao Rebe.

Pouco antes da nossa visita, um famoso neurologista tinha sugerido colocar Yossi no hospital por vários dias para fazer uma bateria de testes, mas Malki era contra isso. “Não vou tê-lo sedado e internado,” ela insistiu. “Ele não vai entender o que está sendo feito a ele e ficará apavorado. Em qualquer caso, esses testes não vão levar a nada, como o médico disse. E poderiam até causar mais dano a ele.”

Discutimos isso com o Rebe, e ele aconselhou-nos a consultar dois especialistas. Ele disse que se os dois especialistas concordassem que essa era a melhor ação, deveríamos fazer o que eles recomendassem. Mas se eles discordassem, então deveríamos nos sentar com nosso tio e decidir juntos o que fazer. Então, os especialistas discordaram, e não colocamos Yossi no hospital para todos aqueles testes.

Enquanto estávamos falando com o Rebe, Yossi estava correndo pelo escritorio, porque não podíamos controlá-lo. O Rebe deu uma moeda a ele, que a pegou, correu em volta e a atirou no chão. Então o Rebe lhe deu outra moeda e ele fez o mesmo. Isso ocorreu várias vezes.

Enquanto isso, minha esposa e eu estávamos morrendo de vergonha, Ao ver nosso desconforto, o Rebe nos assegurou: “Deixem a criança ser o que é – ele está demonstrando uma qualidade saudável.”

No decorrer da conversa, mencionei ao Rebe que Yossi é um descendente direto do Rei David através da sua mãe. A essa altura, o Rebe mudou seu foco diretamente para Malki e, enquanto falva com nós dois, ele a fixou nos olhos com um olhar penetrante durante vários minutos.

Foi um momento surpreendente. Mais tarde eu soube que segundo os ensinamentos chassídicos, sempre que o Rebe olhava alguém por um longo tempo, era para transmitir uma força espiritual para aquela pessoa. Em seguida, Malki desenvolveu força extraordinária, e ela terminou encontrando Shalva, um centro que tinha se desenvolvido no decorrer dos anos como um dos maiores e mais avançados em cuidado e inclusão de deficientes no mundo.

Quanto a Yossi, o Rebe também viu nele algo que os outros não podiam ver. Pessoas com boa intenção disseram à minha esposa para colocar Yossi numa instituição porque seria impossível para ela criar uma família com ele em casa. É verdade que tínhamos de vigiá-lo constantemente. Não podíamos ter nenhum vidro em casa porque ele era tão repleto de energia que poderia quebrar coisas e se machucar. À noite, Malki clamava a D'us, prometendo que se Ele ajudasse Yossi, ela se dedicaria a ajudar outros na mesma situação.

E D'us ajudou Yossi. Após nos mudarmos para Israel, ele conseguiu achar a professora certa – Shoshana Weinstock - que era surda e tinha uma enorme quantidade de paciência. Ela colocava uma das suas palmas sobre a mesa e então soletrava “mesa” por meio da linguagem de sinais com sua outra palma. Ela fazia isso repetidas vezes, durante dias, até que ele fez a conexão de que esses símbolos eram para o objeto que ele estava tocando. Quando ele finalmente entendeu isso, sua face se iluminou e então nada iria detê-lo.

Ela prosseguiu ensinando a ele as vinte e duas letras do alfabeto hebraico e então construiu o vocabulário dele. E também, uma terapeuta da fala ensinou-o a falar hebraico sinteticamente. Pela primeira vez, aos oito anos, ele pôde se comunicar. Àquela altura, Malki me fez sentar e disse que agora era a hora para fazer o bem sobre sua promessa a D'us. Foi assim que a criação de Shalva foi colocada em movimento.

Logo ficou claro que Yossi era uma criança brilhante e, como o Rebe tinha visto, uma criança dotada com impressionante tenacidade.

Mesmo quando, aos vinte anos, ele perdeu sua capacidade de caminhar, ele insistia em viajar. Queria dirigir elefantes na Tailândia, e ele dirigiu elefantes na Tailândia. Ele tinha um forte senso de olfato, e se tornou um somelier, um mestre sobre vinhos. Seus vinhos, chamados “Yossi”, são bem recebidos e são vendidos em duty-free shops no Aeroporto Ben Gurion.

Naquele dia em que nos encontramos com o Rebe, ele nunca parou de pegar as moedas do Rebe, e esperamos que ele nunca irá perder aquela tenacidade para sempre seguir em frente.