Enquanto fazia um trabalho de contato no campi da faculdades como emissário Chabad em de Los Angeles, comecei a encontrar missionários que estavam tentando converter estudantes judeus ao Cristianismo. Além disso, o Beit Chabad onde eu trabalhava estava recebendo telefonemas de pais cujos filhos tinham se convertido, portanto eu tinha de agir para dar uma resposta.
Após lidar com alguns poucos casos desses, escrevi ao Rebe pedindo uma bênção para realmente iniciar a atividade contra-missionária. Recebi uma resposta imediata de que o Rebe estava me dando sua bênção e que ele iria rezar por mim no local de repouso do Rebe Anterior. Rabi Leibel Groner, o secretário que comunicou a mensagem do Rebe, disse-me que isso era algo fora do comum pois, no passado, o Rebe não tinha encorajado esse tipo de trabalho.
Senti-me bastante honrado, e me empenhei na atividade contra-missionária com toda a minha força. E, no decorrer dos anos, tenho visto os frutos de meus esforços pois muitas pessoas que tinham se desviado pelos missionários ou por cultos fizeram o caminho de volta ao Judaísmo.
Um dos primeiros casos com que lidei foi com uma família que precisava de ajuda porque um dos filhos tinha se envolvido com um grupo cristão. Ele estava totalmente indisposto a se comunicar com alguém – não reagia a nenhuma das mensagens vindas deles ou de mim. Portanto sugeri aos pais que eles escrevessem ao Rebe pedindo conselho.
A mãe escreveu e, para minha surpresa, recebeu não apenas uma bênção para seu filho retornar ao Judaísmo, mas uma longa carta – datada no dia 25 do mês hebraico de Av, 5740 (1980) – que continha uma mensagem poderosa:
“Recebi sua carta de 30 de julho na qual escreve sobre seu filho mais novo. Considerando a seriedade da situação, estou confiante de que você não irá ficar contente com aquilo que foi feito nessa questão até agora e irá intensificar seus esforços, tanto seu marido como você, bem como pedindo a ajuda de amigos, para fazer o possível para impedir essa tragédia. Pois quando se trata de um coração judaico, nunca se sabe o que e como chegará o momento da verdade e da resposta adequada.”
Então na carta, a parte inesperada – um conselho que eu tinha usado com pais em situações semelhantes desde então: “É meu dever chamar sua atenção para o seguinte, o qual confio que você irá aceitar no espírito em que é oferecido: todos os membros de uma família judaica constituem um organismo. E quando uma parte dele precisa de tratamento especial isso pode ser feito em uma de duas maneiras: ou diretamente se possível, ou indiretamente através do fortalecimento de outras partes do corpo, especialmente aquelas que governam as funções do organismo inteiro.
Aplicando essa ilustração ao presente caso, é melhor ter em mente que o cabeça da família é chamado ba’al habayit e a esposa é chamada akeret habayit, correspondendo ao coração da família, Assim, fortalecer o compromisso com a Torá e mitsvot por parte dos pais tem um efeito benéfico sobre todos os membros da família na mesma direção. Obviamente, isso às vezes pode trazer certas dificuldades em fazer algumas mudanças, talvez até mudanças radicais com respeito aos hábitos e estilo de vida, etc. Mas por outro lado, considerando os benefícios abrangentes, e especialmente o fato de que os pais realmente poderiam não considerar nada tão difícil se isso puder beneficiar seus filhos, qual significância qualquer dificuldade poderia ser...”
Com essas palavras, o Rebe os fez entender que numa situação onde uma parte do corpo (seus filhos) está doente e não pode ser curada diretamente, eles (como pais e, portanto, a cabeça e o coração) têm de confiar em maneiras indiretas. Se eles próprios se fortalecerem no Judaísmo, isso irá afetar diretamente seu filho.
Eu os encorajei a aceitar o conselho do Rebe. Eles o fizeram, mas não viram resultados imediatos. Porém, outra família que seguiu este mesmo conselho foi ricamente recompensada pelos seus esforços.
Três ou quatro meses depois, recebi um chamado de pais cujo filho também tinha se convertido ao Cristianismo. Este jovem – que tinha se casado com uma não-judia sem conhecimento de seus pais – encontrou-se comigo, mas saiu após cinco minutos porque veio apenas para deixar seus pais felizes. Eu disse a ele que minha porta estava sempre aberta, e foi assim.
Enquanto isso, li a carta do Rebe para esses pais, e eles aceitaram o conselho muito seriamente. Colocaram mezuzot nas suas portas e até no quarto onde seu filho tinha dormido quando era mais jovem. Eles também começaram a estudar Torá comigo e se juntavam à minha família para refeições no Shabat.
Passou um ano e, totalmente por acaso, recebi um chamado do filho deles. “Você realmente queria dizer isso quando falou que sua porta está sempre aberta?” ele perguntou, e marcamos uma reunião. Quando nos encontramos, ele explicou que, inicialmente, tinha ficado feliz levando uma vida cristã, mas então um dia, quando ele e sua esposa estavam assistindo a um documentário sobre o Holocausto na televisão, algo aconteceu que, num instante, virou sua vida de cabeça para baixo. Ele ficou muito comovido pelo documentário, mas sua esposa claramente não ficou; na verdade, ela disse uma palavra derrogatória descrevendo o povo judeu. “Fiquei tão chocado,” ele confessou. Essa mulher que supostamente me amava, um judeu, alimentava dentro de si sentimentos de desprezo por judeus todo esse tempo.”
Este foi o incidente que o fez começar a pensar sobre suas escolhas, e foi por isso que ele veio me ver. Por fim, com o desenrolar da história, exploramos como o Judaísmo difere do Cristianismo e ele retornou às suas raízes. Tudo isso ilustra aquilo que o Rebe escrevera em sua carta – que alguém nunca sabe quando o momento do despertar chegará, o momento que muda o rumo de uma pessoa na vida e reacende a centelha judaica dentro de sua alma.
Na minha opinião, seus pais merecem uma grande quantia de crédito. Ao fortalecer seu compromisso com a Torá, eles tiveram um efeito espiritual indireto sobre o filho, o que por sua vez lhe deu a força para retornar ao Judaísmo.
E, é claro, o ímpeto veio do Rebe e do conselho impactante que ele deu naquela carta, que tenho lido e relido muitas vezes para muitas famílias. Digo aos pais – mesmo se seu filho ou filha abandonou a fé deles – que nunca deveriam perder a esperança. Mas sim, eles deveriam fortalecer a própria observância, o que fortalecerá a alma de seu filho. Este conselho dá à família uma sensação de que eles não estão desamparados; há algo que podem fazer, que será benéfico para eles também. Até mesmo antes que eles possam ver um efeito sobre seus filhos, podem alcançar conforto em seu envolvimento renovado com o Judaísmo.
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