Em novembro de 1986, meu pai estava sendo tratado no Hospital Judaico do Broklyn, onde o capelão era Rabi Elya Gross, um chassid Chabad. Eu estava permanecendo no hospital para ajudar a cuidar do meu pai, que estava em coma após um súbito ataque cardíaco, e nos tornamos amigos. E u apreciava muito porque Rabi Elya ia todo dia para assegurar que tínhamos comida casher, e também para nos fazer sentir tão confortáveis quanto fosse possível sob as circunstâncias.
Nós nos víamos bastante, enquanto passei um mês inteiro dormindo no hospital ao lado do meu pai. Tendo me formado recentemente em medicina, eu sentia ter a responsabilidade de assegurar que todo o possível estava sendo feito para ajudá-lo a viver. E também, queria dar apoio à minha mãe que estava desolada pelo que tinha acontecido.
Um dia, Rabi Elya me disse: “Sabe, você é um grande exemplo para outros sobre como cumprir a mitsvá de “honrar teu pai e tua mãe.” E então ele acrescentou: “Assim que você puder sair daqui, quero levá-lo para ver o Rebe.”
Foi isso que aconteceu. Quando meu pai despertou do coma e foi liberado do hospital no inicio de dezembro, Rabi Elya levou-me ao 770 da Eastern Parkway.
Quando chegamos, vi muitas pessoas aglomeradas ao redor do escritório do Rebe, mas Rabi Elya ignorou a todos, foi direto até a porta do Rebe e bateu. Quando entramos, vimos o Rebe sentado atrás de uma mesa, estudando um livro sagrado.
“Este é o jovem doutor sobre quem eu lhe falei,” disse Rabi Elya.
O Rebe acenou e nos recebeu convidando-me para sentar.
Na conversa que se seguiu, ficou claro que o Rebe estava interessado em saber o que tinha me motivado a fazer algo tão radical como dormir no hospital ao lado do meu pai durante trinta dias direto. “Você estava ali para rezar?” ele perguntou. “Estava ali para supervisionar os cuidados a ele? Estava ali para apoio moral?”
Respondi com sinceridade. Disse que estava com muito medo de que meu pai fosse morrer e precisava partilhar algumas coisas com ele antes que ele partisse deste mundo. Pedi a D'us para dar à nossa família pelo menos um pouco de tempo para nos despedirmos adequadamente. Minhas preces foram respondidas; de fato, meu pai recuperou-se milagrosamente. Quando ele ficou estável o suficiente para ser liberado para fazer reabilitação no Centro Médico NYU, eu sabia que tinha feito tudo que pudera.
Ao ouvir aquilo, o Rebe declarou: “A maioria das pessoas passa uma vida inteira para entender como honrar corretamente seus pais, mas você parece ter entendido em um breve período de tempo.” Aquelas foram as suas palavras.
Então o Rebe explicou por que eu podia ter me encontrado com ele privadamente embora naquela altura pessoas em grandes grupos estavam esperando por uma audiência.
“Temos algo em comum,” ele disse.
Fiquei abismado. “O que temos em comum?”
O Rebe respondeu: “Eu mesmo não fui sempre capaz de cumprir adequadamente a mitsvá de honrar minha mãe enquanto ela estava viva. Não podia levá-la a toda consulta médica e nem sempre pude ir à farmácia para ela, portanto Rabi Elya fazia aquilo por mim. Ele essencialmente ajudou-me a cumprir minha obrigação de honrar minha mãe na maneira que deveria ser cumprida. E assim como Rabi Elya ajudou-me a cumprir essa mitsvá, ele também ajudou você. Este é o vínculo que temos em comum.”
E então ele disse algo surpreendente: “Se você quiser vir me ver, é bem recebido.”
Aceitei sua oferta porque havia certas coisas que eu queria discutir com ele – grandes questões de vida e morte, e eu estava me especializando em pediatria e não podia entender por que D'us permite que doenças atinjam uma criança pequena. Eu estava também lutando com a visão diária de muitas crianças sofrendo de doenças e ferimentos graves. Eu precisava da ajuda do Rebe para entender como, sendo um judeu observante de Torá, eu devia relatar as perguntas que o sofrimento daqueles pequenos inocentes me trazia. Eu precisava saber como responder a essas perguntas quando as famílias indagassem respostas para elas. Eu precisava saber se deveria continuar minha carreira como pediatra.
O Rebe ofereceu uma visão sobre o significado do sofrimento:
“Não deveríamos ver isso como uma coisa ruim,” disse ele. “Tudo que é trazido por D'us, é para o bem, mesmo se não entendemos como.”
Sua opinião era que devemos ter fé de que a doença irá por fim fazer sentido, talvez após um longo tempo, ou apenas no mundo vindouro. Somente então iremos conhecer sua intenção – por que isso foi necessário. Porém a coisa mais importante que ele me ensinou é que a raiva a D'us ou contra qualquer ser humano destrói o povo judeu e destrói o mundo. “Se você está furioso com D'us por causa de um diagnóstico,” disse ele, “então você está diminuindo a chance que essa criança tem de um milagre.”
“A raiva nunca deveria ser dirigida a D'us,” ele enfatizou. “Seja feliz porque você recebeu esse papel especial e a oportunidade de participar no cuidado de uma criança doente e no milagre de sua cura.”
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