Meu pai foi um dos fundadores da yeshivá Tiferet Yisrael em Jerusalém, que funcionava sob a liderança do Rebe de Boyan um ramo da dinastia chassídica Ruzkin. E eu fui um dos seus primeiros alunos.

Durante meus anos naquela yeshivá, fiquei bastante conectado com o Rebe Boyaner e, em 1969, decidi visitá-lo em Nova York. Para chegar lá, fiz parte de um voo fretado de chassidim Chabad que estavam viajando para o Lubavitcher Rebe pouco antes das Grandes Festas, e como membro do grupo, fui convidado a visitar o Rebe. Aceitei aquele convite e também um amigo meu fez o mesmo.

Meu amigo entrou primeiro. Depois, ele me disse que o Rebe perguntara seu nome, e depois que ele respondeu “Barzel”, o Rebe comentou: “Barzel? Doze anos atrás, alguém como o nome de Barzel me visitou. Vocês são parentes?”

Na verdade, seu tio, Rabino Ezra Barzel, tinha visitado o Rebe no passado. Quando meu amigo mais tarde contou ao seu tio o que o Rebe tinha dito, o homem ficou chocado. “Nos doze anos desde que visitei o Rebe eu não tinha escrito para ele, falado com ele, ou o visto. Então como ele se lembrou de mim depois de todos esses anos, durante os quais ele deve ter falado com milhares de outras pessoas?”

Quando entrei no escritório do Rebe, fiquei muito emocionado e mal conseguia pronunciar uma palavra. Mas quando o Rebe começou a falar comigo, me senti mais à vontade.

Ele perguntou quem eu era e o que estava fazendo em Nova York, e quando ouviu que eu estava visitando o Rebe Boyaner, ele pediu que eu transmitisse seus cumprimentos.

Então ele me perguntou: “E o que você faz?”

Respondi que na primeira metade do dia eu estudo na yeshivá Ruzhiner e na segunda metade na yeshivá Mir.

Ao ouvir isso, o Rebe deu-me um olhar severo. “Eu não estava perguntando o que você está fazendo em sua vida privada,” ele disse. “”Eu quero saber o que você está realizando.”

Respondi que – em prol da yeshivá Mir que encorajava os alunos a ensinar – eu viajava toda noite para Ir Ganim, um bairro pobre no sudoeste de Jerusalém. Ali eu dava aulas sobre Ben Ish Chai, as obras de um famoso sábio de Bagdá, na sinagoga Shevey Achim.

O Rebe aprovou. “É isso que eu queria dizer,” ele disse. “Por que você não falou isso em primeiro lugar?”

Ele não estava tão interessado sobre como eu me ocupava como uma pessoa em particular, mas como eu estava usando meus talentos dados por D'us para fazer uma diferença na vida de outros.

Então a conversa mudou para as diferentes comunidades judaicas – askenazita e sefaradita – com o Rebe mencionando especificamente os lituanos, os marroquinos, iemenitas e os iraquianos. “Você precisa entender a natureza de cada comunidade,” ele aconselhou, “para que possa efetivamente responder às necessidades delas.”

O Rebe também me aconselhou a não tentar alterar as versões deles no serviço de prece.

“Cada comunidade deve rezar à sua maneira. Eles têm raízes muito finas. Cada um tem seus costumes, e você deve entender suas tradições para saber como se relacionar com eles.”

Aquela foi a essência da conversa.

Na hora, não entendi por que o Rebe escolhera falar comigo sobre as diferentes comunidades judaicas. Mas, nos anos seguintes, ficou claro que o Rebe estava me orientando para o trabalho que estava guardado para mim.

Então chegou um tempo em que eu estava envolvido na construção de uma yeshivá em Migdal HaEmek, uma cidade em desenvolvimento ao norte de Israel então povoada largamente por judeus que fugiram de países muçulmanos. Embora eu fosse o diretor da escola, meu trabalho não terminava com os alunos. Eu fazia questão de construir relacionamentos com os pais deles. Por meio de cada aluno, eu ganhava uma conexão com sua família. Com cada família, eu via como era importante para mim entender sua comunidade única para saber como engajar seus membros.

Ao final da audiência, o Rebe disse: “Quero pedir a você um favor pessoal. Você fará?”

“Claro,” respondi, esperando ser enviado em algum tipo de missão. Mas não era isso que o Rebe tinha em mente.

“Muitos judeus marroquinos cometem um engano,” ele disse. “Embora um menino judeu possa começar a colocar tefilin a partir do aniversário de treze anos, eles esperam até a festa do Bar Mitsvá. Por favor, diga a eles em meu nome que a mitsvá de tefilin deve começar aos treze anos. A celebração pode ser feita mais tarde.”

Eu disse ao Rebe que nunca tinha ouvido isso, mas ele me lembrou que eu tinha prometido fazer como ele tinha pedido.

Na verdade, o assunto surgiu assim que retornei a Israel. Fui passar o Shabat na sinagoga Shevet Achim, e quando entrei, o gabai me abordou assim: “Rabino, é tão bom que o senhor veio, especialmente porque tenho um bar mitsvá duplo de dois irmãos, e precisamos de alguém para fazer um discurso.”

“Um bar mitsvá duplo?” perguntei. “Eles são gêmeos?”

“Não, na verdade um menino tem quatorze, e o outro está completando treze.”

“Diga-me, o de quatorze anos começou a colocar tefilin?”

“Ainda não houve uma festa para ele. Como ele pode colocar tefilin?”

Bati minha mão no púlpito. “Tenho uma mensagem do Rebe de Lubavitch!” anunciei. “Um garoto deve colocar tefilin a partir dos treze anos, não importa quando a festa ocorre.”

As pessoas ficaram surpresas ao escutar isso, Elas simplesmente não tinham a menor ideia. Grande parte dessa comunidade estava sob a impressão de que a obrigação de cumprir mitsvot começava com a celebração – não importa quando fosse feita – e não, como a lei judaica exige, a partir da idade de Bar Mitsvá. Mas eles me agradeceram por destacar isso para eles.

O Rebe deu-me aquela ideia e mais. Quando ele me perguntou: “O que você está realizando?” ficou claro que ele acreditava que eu precisava ser ativo em ajudar os outros. Isso acendeu um fogo em mim, e até o dia de hoje; isso me motiva a continuar a ensinar Torá sempre que posso.